Não tente explicar a Deus; tente discernir o homem.

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Quando a insanidade divina irrompe na lógica das nossas presunções e a revelação estabelece a verdade nas vísceras do ser, aí a graça foi plantada. Então, não tente explicar a Deus; tente discernir o homem, porque o Evangelho não é mais do que isso: eu sei quem eu sou; você não deve ser diferente de mim. As nossas diferenças são apenas do ponto de vista moral e cultural; mas nós todos temos uma dívida impagável para com Ele e Ele respondeu a isso com um amor inexplicável, de modo que ante esse amor eu agora tenho a coragem de examinar meu coração e você o seu, pra que nós, discirnamos o que, que, esse amor quer fazer pra nos curar e nos levar a alguma coisa que seja mais semelhante com a imagem que projetou para nós.

O verdadeiro teólogo deve ser o mestre de almas humanas e não um recitador de textos, de referências, de filósofos e de outros bobos que já tomaram muito tempo da gente na antiguidade.

Se o cristianismo tivesse apenas pregando o Evangelho e não tentando defender Deus – Apologética – mas discernir o homem e aplicar a Palavra da graça aos humanos, podem ter certeza: a história teria sido completamente outra.

A salvação da teologia é se converter em adoração a Deus, em discernimento da Palavra, e a aplicação da Palavra à vida, não como moral comportamental, mas como discernimento psico-ético.

Outra desgraça do cristianismo foi a criação dessa teologia moral cristã; foi a coisa mais pagã que já se inventou e o meu amigo Agostinho pisou na bola feio, e Tomás de Aquino se esborrachou. Todos com graves problemas na área da sexualidade. Se você quiser saber o tamanho da doença sexual dos teólogos da igreja cristã, compre um livro chamado “Eunucos por amor ao reino de Deus”, pra ter uma história horrorosa de ver como traumas sexuais produziram teologias horrendas e geraram uma moral cristã adoecedora, neurótica, que patologizou a alma coletiva da igreja até hoje.

A salvação da teologia é, portanto, se converter em adoração a Deus e discernimento da Palavra e aplicação da Palavra à vida, mas não numa moral comportamental, mas num discernimento psico-ético. Por que psico-ético? Por que tem uma dimensão que é psíquica, que tem a ver com a nossa individualidade e com a nossa necessidade de processo de individuação; de nos tornarmos nós mesmos, por que o chamado de Deus na Escritura é para que cada um de nós tenha uma consciência. E não é moral, é ética. Porque moral é o resultado do IBOPE da maioria das conveniências majoritárias. Na moral não existe processo de individuação; existe processo de massificação.

A promessa do apocalipse é que cada um de nós vai receber uma pedrinha branca com um novo nome que ninguém conhece, só aquele que o recebeu.

Essa é a promessa maior de que a redenção culmina num processo de individuação eterno.

Agora, para que isso aconteça, é preciso que não haja moral; é preciso que haja ética – uma coisa não tem nada a ver com a outra.

A moral é essa conjunção de interesses; já a ética vem de “ethos”; vem dessa coisa que é em si – que é um telhado que cobre a vida que factibiliza e propicia à existência; e à vida um modo de ser. É um conforto pra alma. 

A ética, portanto, tem a sua aplicabilidade profundamente individual porque não haverá jamais uma ética que faça bem ao outro e faça mal a mim.

A ética, conforme a Escritura, é aquela que faz bem a mim e faz bem ao outro. Porque aquilo que quereis que os homens vos façam; isso, mesmo, fazei a eles.

Quando isso é entendido, existe espaço para o processo de individuação e de aplicação desse conceito do que seja vida e cobertura pra vida tanto pra mim, quanto pro outro.

As pessoas não precisam de doutrinas; elas precisam de entendimento espiritual. O entendimento espiritual só acontece como revelação na graça, e sem ser a partir da graça jamais se terá entendimento espiritual.

Por isso a tarefa de qualquer teologia é gerar entendimento espiritual. O que falta à igreja é entendimento; é compreensão da vida; é discernimento do próprio coração; é graça e misericórdia pra com o próximo; porque Deus, nós não iremos entendê-lo, mas é nosso privilégio conhecê-lo de todo coração.

E que Deus nos abençoe, em nome de Jesus.

 

Trecho da II Jornada Teológica – Fazendo Teologia Hoje
Rev. Caio Fábio D´Araújo Filho
Seminário Teológico Episcopal Carismático – SETEC
Recife, PE – 08/03/2004.
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