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Coisas e pessoas…

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Contribuição de Márcio Marques

Tocou o telefone… E agora, atendo ou não? Será que vem do outro lado, mais uma “missão impossível?”
Tenho percebido o quanto tem se tornado comum, em nossos dias, a perda da referência – exata – do valor das pessoas, ante o valor das coisas.
À primeira vista nos parece infundado medir ou tentar aquilatar o valor de algum bem, com o inestimável valor que tem um ser criado por Deus. Pois é… É aí que está a minha irresignação! Tenho visto pessoas que igualam pessoas a “coisas”, tratando-as de maneira meramente funcional. Você já se sentiu assim?
Quem de nós nunca passou pela experiência de atender um telefonema em que, do outro lado, tem alguém pedindo um “favorzinho”. Até aí, nada de mais… O que custa a prestação de um favor? Ao contrário, muitas vezes nos sentimos úteis e é gerado em nós um regozijo de poder servir.
“Mas entre vocês não pode ser assim. Pelo contrário, o mais importante deve ser como o menos importante; e o que manda deve ser como o que é mandado.” Lucas 22:26

Mas, e quando isso deixa de ser um favor e passa a ser um portfólio de favores? Ou, ainda, quando os favores tornam-se obrigações? E quando essas ligações passam a ocorrer com freqüência, deixando de existir uma ralação racional e afetiva, entre pessoas, passando a existir uma relação funcional, onde você é um utensílio?
Deus me deu a bênção de conhecer muitas pessoas e colecionar muitos amigos. Mas, vou confessar – só aqui entre nós, e que ninguém mais, além da internet, fique sabendo – que tenho um rol de “demandantes” que, quando me acessam, logo penso: nesse momento, posso auxiliar essa pessoa no que ela provavelmente precisa? Estou apto a servi-lo (a) neste agora? Se sim, atendo o telefone sabendo que do outro lado vai ser disparado um “ow, tem como quebrar mais essa aí prá mim?” Se não, atendo sabendo que precisarei frustrar suas expectativas…
Sim, para algumas pessoas EU sou apenas coisa! Para algumas pessoas, eu sou um utensílio. Sem problemas, pois até mesmo por força da minha profissão, talvez eu seja percebido como um braço operacional ou alguém que está mais habituado a resolver problemas. E, veja só, não divido isso para diminuir essas pessoas! Também afirmo que as continuo amando, pois talvez elas nem se dêem conta que se comportam assim. Na verdade, eu divido essa reflexão mais para que NÓS passemos a analisar a maneira como estamos tratando as demais pessoas.
Uma das consequências de receber essas ligações foi formar a convicção que não desejo fazê-las! Que não gostaria que quando EU ligasse para alguém, esse alguém venha a pensar: “acho que ele precisa de algum favor… de novo!”. Então, quando estou numa situação de necessidade adoto o seguinte comportamento: nunca ligar para alguém que nunca ligo. Fórmula complicada, né? Se eu falo habitualmente com alguém, demonstrando interesse pela vida dele e por suas questões, sinto-me à vontade para pedir um favor, caso eu precise. Eis a lógica.
Se, por outro lado, sou negligente com essa pessoa, não a “visito” para cultivar nossa relação, não quero, então, perturbá-la! A não ser, claro, que nossa relação seja madura o suficiente para que o interlocutor compreenda que minha demanda é o reflexo de uma situação ocasional, e não mera conveniência.
Também excluímos aqui aqueles períodos de “deserto”, onde sabemos que alguém está passando por dificuldades (espiritual, material ou de outra natureza) e que precisa de nossa ajuda. Nesses casos, na verdade, a ordem das coisas deveria ser invertida: eu e você, como irmãos, é deveríamos ligar para ele, buscando suprir o que lhe falta, antes mesmo dele se manifestar.
“Pois a lei inteira se resume em um mandamento só: “Ame os outros como você ama a você mesmo.” Gálatas 5:14

Dia desses, no meu aniversário, fui surpreendido com a ligação de um amigo antigo. Quase nunca nos falamos e, para mim, foi uma grata surpresa ele recordar o dia da minha efeméride e dedicar-me uma ligação. Ela foi curta, mas me marcou positivamente. Eu também quero fazer isso por ele. Quero que ele se sinta valorizado, ainda que num dia qualquer, independente de ser seu aniversário.
Deus nos dá a fantástica oportunidade de acordar a cada dia e fazer um dia novo! Lega-nos a grande dádiva de recomeçar dia após dia, e por isso temos a obrigação de investigarmos nossas condutas, analisarmos nossas atitudes e redirecionarmos o nosso comportamento, com o objetivo de dispensar às pessoas aquilo que eras merecem e precisam: amor, carinho, atenção e individualidade.
Então, ao buscarmos o contato com alguém, especialmente quando há uma relação mais próxima, devemos ponderar: estou ligando para alguém ou estou buscando um utensílio?
Jesus Cristo, nossa referência inequívoca, não dispunha dos meios que hoje nos favorecem! Ele não dispunha de telefone, Facebook ou Skype, mas, imagino o quanto seria agradável receber d´Ele uma ligação ou mensagem. Imagino que me sentiria muito amado, muito especial. E, a despeito de sua grandeza, ser-me-ia uma honra servi-Lo!
Portanto: pessoas não são coisas! Pessoas têm dimensões particulares e que nos desafiam a compreendê-las verdadeiramente, valorizá-las e amá-las. Se conseguirmos agir assim, teremos um exército de pessoas dispostas a nos auxiliar em qualquer de nossas dificuldades, pois daremos a elas a mais precisa compreensão que são as pessoas que realizam coisas… E não o inverso!

Então, vamos “ligar” mais para as pessoas?

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