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SABE O QUE É IDEAL PARA VOCÊ?

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A música Ciranda da Bailarina da Adriana Calcanhotto (você poderá ouvi-la no fim deste artigo), além de muito lindinha, é um expoente idealista. Todo mundo tem defeitos, fedores e coisas feias, menos a bailarina. A bailarina é o ideal de pessoa: linda, limpa e cheirosa. A música é uma deliciosa ironia e de forma bem humorada trata do aspecto superlativo no mundo infantil: criança constrói personagens ideais e perfeitos, baseadas em seus sonhos, desejos e projeções inconscientes.

O idealista é deveneador, sonhador, platônico, ingênuo, romântico, lírico e, por que não, um visionário. Até certo ponto, o idealista consegue ser feliz, pois se recusa enxergar a vida pelas cruas lentes da realidade, mas prefere fantasiar que tudo é melhor a que parece, ou que será muito melhor que talvez venha a ser. O idealista só enxerga o que quer ver. Neste contexto, todos nós somos, em maior ou menor grau, idealistas. De fato, alguns idealistas pensam que são otimistas e alguns que se definem como otimistas, não passam de idealistas.

Depois de muitos anos vendo os desenhos da Disney, algumas garotas (e até mulheres) sonham com um relacionamento ou casamento que seja tal qual conto de fadas. Isto não é ruim, desde que se tenha a perfeita noção que contos de fadas não existem.

Há pessoas que eu conheço que estão infelizes sem namorados ou namoradas e só assim estão porque idealizaram namorar com pessoas que não existem na vida real…

Mulheres que eu conheço e que estão infelizes no casamento, só assim estão porque idealizaram um marido que não existe. Sonharam com o príncipe da Disney, que não ronca e nem flacta. Contudo, como diz a canção: só a bailarina é que não tem piriri!

Como já foi dito: quanto mais altas estiverem as expectativas, maiores serão as frustrações. (Se quer saber mais sobre expectativa, clique aqui. Se sobre frustração, clique aqui ).

Muitas pessoas estão infelizes no trabalho porque planejaram um mundo profissional ideal, sem chefes chatos, com aumentos salariais perpétuos e promoções compulsórias. Um mundo profissional onde a competição seja honesta. A partir deste ideal, constrói-se um fértil terreno para infelicidades persistentes e frustrações consistentes, já que o ideal não está no mundo profissional real, mas apenas no mundo das ideias.

Nossa sociedade tem construído adultos infantilizados.

Um aspecto recorrente que me chama atenção no comportamento de Jesus de Nazaré (narrado nos quatro Evangelhos canônicos) é sua capacidade de “dar a real”. Ele não enfeitava! Ele não inventava. Não tentava fazer da vida um Facebook cheio de fotos sorridentes, quando, na verdade, temos chorado escondido pelos cantos da vida: um retrato da alma.

Jesus chamou a adúltera de adúltera.
Chamou o religioso de hipócrita (que não vive o que prega).

Chamou os duvidosos de homens de pouca fé.
Mandou pagar impostos (dar a Cézar o que é de Cézar), sem relativizar o roubo ao Estado. Não é porque o Estado é pecador que tenho o direito de também o ser.

Jesus disse a Pedro: “Arreda Satanás!”, sem medo de ofendê-lo e perder um seguidor importante.
Jesus dava a real situação, sem enfeites.

Contudo, uma vez denunciado o pecado, encarado o defeito ou ensinada lição, Jesus sempre perdoou a adúltera, segurou na mão do que não tinha fé, retirou a moeda do imposto da boca do peixe e reconheceu o discernimento do Espírito Santo na vida de Pedro. (Só para o religioso hipócrita que não teve solução… Hehehe).

Jesus mostrava pecados, defeitos e problemas de maneira tão contundentemente cruel, quanto logo produzia soluções tão amorosamente constrangedoras. Ele nunca quis expor ninguém, mas tratar problemas reais com soluções reais. Os psicólogos dizem que somente conseguimos vencer um trauma quando entramos em contato com ele.

Ao contrário do que possa parecer, Jesus não era um religioso idealista, que sonhava com situações fantasiosas perfeitas ou pessoas sem pecados, mas sim um mestre realista, que lidava com pessoas reais, problemas reais, fedores reais e ensinava todos que, com Deus, poderia haver esperança, pois milagres são como problemas: reais!

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“Ciranda Da Bailarina” – Intérprete: Adriana Calcanhotto.

Procurando bem
Todo mundo tem pereba
Marca de bexiga ou vacina
E tem piriri, tem lombriga,
tem ameba
Só a bailarina que não tem
E não tem coceira
Verruga nem frieira
Nem falta de maneira ela não tem
Futucando bem
Todo mundo tem piolho
Ou tem cheiro de creolina
Todo mundo tem
um irmão meio zarolho
Só a bailarina que não tem
Nem unha encardida
Nem dente com comida
Nem casca de ferida ela não tem
Não livra ninguém
Todo mundo tem remela
Quando acorda às seis da matina
Teve escarlatina
ou tem febre amarela
Só a bailarina que não tem
Medo de subir, gente
Medo de cair, gente

Medo de vertigem
Quem não tem
Confessando bem
Todo mundo faz pecado
Logo assim que a missa termina
Todo mundo tem
um primeiro namorado
Só a bailarina que não tem
Sujo atrás da orelha
Bigode de groselha
Calcinha um pouco velha
Ela não tem
O padre também
Pode até ficar vermelho
Se o vento levanta a batina
Reparando bem,
todo mundo tem pentelho
Só a bailarina que não tem
Sala sem mobília
Goteira na vasilha
Problema na família
Quem não tem
Procurando bem
Todo mundo tem…

(Chico Buarque / Edu Lobo)

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