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Você ama sua vizinha?

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Esse é um assunto mais do que batido. Todo mundo fala, todo mundo sabe, já foram feitas várias pregações e palestras sobre o tema, mas quase ninguém consegue praticar. Talvez, um dos maiores motivos seja o desconhecimento do significado de “amor” para Deus.

Amor, uma palavra tão usada, de formas tão distintas, com significados tão diversos, que é possível que o que Jesus quis comunicar ao dizer “ame o próximo” (ou “ame o seu vizinho”, numa tradução mais literal), não tenha hoje o mesmo sentido que ele desejou que tivesse. Além disso, nossa sociedade é tão egoísta, que o mais comum é vermos pessoas usarem esse mandamento como forma de proteção para seu ego e estilo de vida. Não é raro o seguinte uso:

“Ué, Jesus não mandou amar o próximo? Você tem que me amar como eu sou!”

ou:

“Como você pode ficar indignado assim? Jesus não mandou você amar o próximo?”

Esse tipo de argumento está longe de retratar o que Jesus disse.

Primeiro porque amar não tem nada a ver com: aceitar tudo (inclusive em muitas situações é justamente o contrário),  não ter opinião sobre nada ou ficar calado para não causar mal-estar ao vizinho (o próprio Jesus que o diga).

Segundo, Jesus mandou cada um amar seu próximo e não cobrar que os outros o façam em seu benefício próprio.

Amor é uma doação e não uma reivindicação!


Para entender um pouco sobre o amor que Jesus falou, temos que tentar enxergar algum exemplo prático da parte de Deus ou de Jesus. João, em seu evangelho disse: “Deus amou o mundo de tal maneira, que deu seu filho”. Temos duas palavras chave: “amou” e “deu”. Essas duas palavras nos dão uma dica sobre o significado desse amor, que não é teórico ou sentimental, mas prático. Porque amou o mundo, Deus deu algo. E não deu qualquer coisinha, um presentinho comprado no shopping ou mesmo em uma concessionária de veículos. Deus aquilo que ele tinha de melhor, de mais valioso, que lhe era insubstituível por mais poder que o próprio Deus tivesse… Jesus era insubstituível! Deus correu todo o risco. Entretanto, se o exemplo de Deus fica muito distante; afinal ele era Deus, temos o exemplo de Jesus, Deus encarnado, que como disse João mais tarde: “Conhecemos o amor nisto: que ele deu a sua vida por nós…”. Veja bem: conhecemos o amor nisso, que ele deu! Novamente ele deu algo que não tem preço. Não pode ser reavido, não da mesma forma como foi entregue. Ele deu a própria vida! Esse é o amor de que Jesus fala. Não um sentimento, capaz de fazer bater mais forte nosso coração, suar nossas mãos ou nos levar às alturas. Mas uma decisão difícil, dura, que é capaz de nos levar à sepultura.

Você ama? O próximo?

Vamos agora para a segunda etapa dessa pequena ordem de Jesus: o próximo, o vizinho! Havia um homem muito bondoso, justo e fiel. Ele era dedicado à luta pelos fracos, as minorias. Ajudava em diversas iniciativas, sempre presente em manifestações populares, dedicado a ensinar a igualdade e fraternidade entre os homens. Esse homem, em uma viagem para conhecer comunidades carentes na África, se deparou com um jovem que fora assaltado e espancado. Tentou buscar ajuda com outras pessoas, mas ninguém se importava com o desconhecido. Não havia hospital público em que pudesse levá-lo e o aconselharam a chamar as autoridades e deixa-lo só. Ele desconfiava que se deixasse, o desconhecido morreria, pois sabia como era carente aquela região. Ele estava de posse de uma considerável quantia em dinheiro que iria usar para ajudar uma comunidade carente daquela cidade a ter o mínimo de condições de higiene e saúde. Pensou que poderia usar o dinheiro para buscar ajuda e interná-lo em um hospital particular, mas vacilou, pois ao salvá-lo poderia deixar de beneficiar muitos outros. Salvar o homem seria uma tarefa solitária, que não teria grande impacto social e certamente não mudaria o mundo. O que fazer?

Sem medo de errar: entre toda a sociedade e um desconhecido, Jesus salvaria o indivíduo.

Como posso afirmar isso? Pelo simples fato de que foi isso que ele fez! Jesus, com toda sua força, poder e liderança poderia ter feito coisas extraordinárias por toda a humanidade durante os poucos anos que passou no mundo. Pensem bem, as mulheres eram tratadas como lixo, a escravidão era normal, era comum o sacrifício de seres humanos em cultos religiosos, um governante tinha o direito de mandar matar todos os bebês de sua cidade, sem que nada lhe acontecesse. Jesus tinha condições de mudar tudo isso. De lutar pelos fracos, de ajudar os necessitados, de libertar os escravizados e mudar os rumos daquela sociedade. Mas não o fez! O que Jesus fez foi mudar a história de indivíduos. Ele acudiu quando o fraco, o necessitado e o cativo tornaram-se um “próximo”. Ele o fez quando teve condição de olhar nos olhos deles, amá-los e mudar a história de cada um. Ele não libertou o cativo como parte de um grupo minoritário, de uma minoria; não restabeleceu a justiça social. Ele libertou a adúltera, sua vizinha, que seria apedrejada em sua frente, o cego que o interpelou pelo caminho, a mulher que estava à margem da sociedade por causa de uma menstruação exagerada,  que tocou nas roupas de Jesus, o cego que gritou em seu socorro… Ele não lutou politicamente pelas minorias, por grupos minoritários, ele lutou por pessoas, por indivíduos. Ele não amou “minorias” sem rosto, ele amou os rostos que cruzaram seu caminho; ele não libertou o escravo de seu dono, ele libertou o escravo de si mesmo. Ele amou os discípulos, serviu aqueles que andavam com ele, comiam com ele, dormiam com ele; e os amou até o fim, mesmo em meio a muitas falhas deles.

Você ama quem cruza seu caminho como você ama a você mesmo?

Por que Jesus falou para amarmos o próximo do mesmo jeito que nós amamos a nós mesmos? A resposta é simples: porque se amarmos alguém como nos amamos ele não será mais uma multidão. Não será uma causa a ser defendida, uma bandeira ideológica, uma classe de pessoas a ser auxiliada. Afinal, quando se trata de amor não queremos ser mais um na multidão. Queremos alguém que nos ouça, que olhe em nossos olhos, que valorize nossos problemas, que esteja conosco nas nossas necessidades, lutas e fraquezas.

Dizer “eu amo os pobres da África”, “eu amo as crianças mexicanas da fronteira” ou “eu amo os injustiçados” é pura balela. Você não ama nada! Você pode ter dó, piedade, misericórdia, senso de injúria ou algo assim. Amor não, pois amor não é sentimento.

Veja bem, não estou afirmando que não devemos lutar contra as desigualdades sociais, em favor do oprimido. Estou dizendo que lutar pelos oprimidos não é amar o próximo. Se você luta pelos oprimidos para além do seu teclado: parabéns! Continue em sua labuta e desejo-lhe vitória em todas as suas batalhas. Mas se você não ama o próximo, não está cumprindo o mandamento de Jesus. Um ato não substitui o outro. Jesus não lutou pelas classes oprimidas de seu tempo, mas amou intensamente todos que cruzaram seu caminho. Militar por causas sociais pode ajudar a melhorar a sociedade, se obtivermos sucesso, amar certamente muda a nós mesmos e a quem amamos, e sempre se obtém sucesso. Talvez não o sucesso pomposo que se obtém ao ser um líder social que logra êxito em seus projetos…É certo que, se todos amássemos o próximo, não seria necessário luta social… Isso é possível?

Eu acho o seguinte: nunca alcançaremos uma sociedade em que todos amem o outro. Entretanto, aos que se dizem seguidores de Jesus, amar o próximo é obrigatório. Boa sorte!

Marcos Siqueira.


Marcos Siqueira é pastor, escritor, motociclista, muito tatuado, profissional de T.I. e conhece o poder do Evangelho como poucos.
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