O que você coleciona enquanto caminha?
“Para o sábio, que aprendeu a aprender, as pedras, o vento e a chuva ensinam lições importantes. Na humanidade, não há ninguém tão sábio que não tenha nada a aprender, nem ninguém tão ignorante, que não possa ensinar algo significativo.” (Carlos Cardoso, na contracapa do livro Aprendendo a Aprender – de Trinidad Hunt)
Foi em abril de 2014. Aquele dia tinha um glamour especial pra mim – afinal, era uma reunião ordinária importante, em uma mesa com notáveis autoridades. Eu queria contribuir; eu havia me preparado; estudei os assuntos; tinha ideias que eu considerava realmente muito boas. Entrei na sala, coloquei meu material sobre a mesa e, não demorou, comecei a intervir com minhas ideias e convicções, tagarelei como uma criança empolgada diante de uma descoberta. Ao final, o Presidente fechou a ata. Eu percebi que pouco do que eu falei foi realmente útil ou aproveitável. Caiu a minha ficha: ocupei o tempo de todos, enquanto eu ouvia a minha própria voz. Agi como uma criança entre adultos. Não era assim que eu alcançaria o respeito daqueles profissionais seniores e experientes.
Nos dias que se seguiram aquele episódio, eu me culpava por minha ingenuidade. Como eu pude ser tão sem noção!? Num momento em que eu esperava obter a admiração e o respeito das pessoas à mesa, eu me tornei o maior detrator da minha própria credibilidade.
Resolvi levar o tema pro “divã” de uma mentoria que eu estava fazendo com um profissional mais experiente. Ele ouviu atentamente a história, me olhou fixamente e disse: vamos fazer a dinâmica do barco. Imagine um barco perfeito, feito para navegar nos mais diversos mares, calmos ou revoltos. Esse é o barco da sua vida. Nesse barco, para suas viagens, você pode convidar quem quiser, mas há três passageiros obrigatórios: 1) o timoneiro, você diz a ele pra onde o barco deve ir e ele leva (você leva o barco da sua vida para onde quiser); 2) o sabotador, pra te lembrar que se você titubear, alguém vai puxar o seu tapete (fique atento); e 3) o professor – que só responde a uma única pergunta “o que eu posso aprender com isso?” em qualquer acontecimento.
No transcorrer da dinâmica, eu descobri que, diante de erros ou frustrações, eu tenho sempre duas opções de colheita: culpa ou aprendizado. A culpa é como uma pedra, que vai pesando na mochila ao longo da caminhada. Já o aprendizado é libertador.
A trajetória de Paulo ressalta a ideia de que ele só poderia seguir plenamente a missão designada por Deus depois de internalizar lições cruciais. Suas experiências pessoais o ensinaram sobre humildade (Filipenses 3:7-8), empatia e a importância de se submeter à vontade divina (Romanos 12:2). Assim, Paulo se tornou um exemplo de como a compreensão espiritual profunda e a transformação pessoal podem capacitar alguém a viver uma vida plena e significativa, cumprindo o propósito que Deus lhe destinou.
Paulo, inegavelmente, tinha uma missão importante preparada por Deus. Mas ele precisava aprender e evoluir, para seguir em frente em sua missão. Somos naturalmente vocacionados ao aprendizado e precisamos aprender pra avançar no projeto que o Pai tem para nós. Enquanto o aprendizado nutre a nossa evolução, a culpa pesa, retarda e bloqueia nosso acesso aos planos de Deus. Ele não quer que sintamos o peso da culpa. Foi por isso que Ele deu a vida do Seu Filho Unigênito para nos dar libertação total. Ele, Jesus, não lavou “parte” da nossa culpa, Ele lavou TODA a nossa culpa.
Diante do sacrifício de Jesus pela nossa salvação, não há quem possa nos condenar (Romanos 8:34). Nem mesmo nós próprios. Essa é uma reflexão importante, porque muitas vezes o inimigo irá tentar nos confundir e lançar sobre nós o peso da culpa, mas Ele, o Nosso Deus, nos deu um espírito de amor e equilíbrio (2 Timóteo 1:7).
Julho de 2023, estou participando da mesma reunião ordinária, que continua tão importante quanto era quando eu cheguei, há 9 anos atrás. Agora, eu me despeço das pessoas, que gentilmente agradecem minhas contribuições, convívio e realizações. Encerro essa etapa tendo a honra de presidir a mesa, enquanto reflito sobre minha colheita durante a jornada. Deixar as pedras pelo caminho, enquanto colhemos o aprendizado de cada erro ou frustração, é libertador. Somos vocacionados ao aprendizado e totalmente livres de qualquer culpa.
Neudson Freitas
Para o Café com Deus, em 16.08.23