Por Stevan Maia Camargo Correa
Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.
Romanos 12:2
Recentemente, escutei em uma pregação que, diferente do que me foi ensinado e talvez também a muitos de vocês, o primeiro pecado, cometido por Adão e Eva no Éden não foi a desobediência. Segundo o pregador, a desobediência foi o segundo pecado, o primeiro pecado, que os levou à desobedecer, foi a falta de fé. Antes de desobedecer, quando tentados, duvidaram do Senhor (Genesis 3:1-5). Em outras palavras, é a falta de fé que nos leva à desobediência e, por consequência a todos os demais pecados. Mas isso não significa que não podemos ter dúvidas. Ter dúvidas, ter questionamentos, é algo bom, pois nos impulsiona a buscar a verdade e compreender a verdade, ou seja, conhecer a Jesus, pois Ele é o caminho, a verdade e a vida (João 14:6). O que é pecado em si e também nos leva a outros pecados não é ter dúvidas, mas sim ‘duvidar’, entende a diferença? É a fé, única contrapartida possível em resposta à salvação pela graça de Deus, que quando não se apresenta, como vemos em Gênesis, nos leva à desobediência e por fim, também à falta de arrependimento (Gênesis 3:9-13).
Arrependimento é a tradução para o português da palavra grega metanoia. E a primeira coisa que precisamos entender quando se fala de arrependimento é que essa palavra é muito mal utilizada em nosso dia-a-dia. Arrependimento é uma palavra que apresenta uma série de sinônimos em nosso idioma, mas é preciso saber que o seu significado real – principalmente em seu contexto e subtexto – na maioria das vezes não tem nada a ver com a palavra grega de origem.
Metanoia significa conversão, mudança de mentalidade, de direção. Contudo, na esmagadora maioria das vezes que lemos, ouvimos ou falamos em arrependimento, estamos pensando em algo muito diferente, algo que chamarei aqui de remorso, palavra que tem origem no latim medieval e significa “tornar a morder” e está ligada a simples medo da punição.
Agora, porém, me alegro, não porque vocês foram entristecidos, mas porque a tristeza os levou ao arrependimento. Pois vocês se entristeceram como Deus desejava e de forma alguma foram prejudicados por nossa causa. A tristeza segundo Deus não produz remorso, mas sim um arrependimento que leva à salvação, e a tristeza segundo o mundo produz morte.
2Coríntios 7:9-10
Para entendermos então a diferença entre arrependimento (metanoia) e o remorso, imagine a seguinte situação: Eu cometo um assassinato e sou preso pela polícia. Na delegacia sou entrevistado por um daqueles programas policiais que fazem tanto sucesso e geram tantos memes. Na entrevista o repórter me pergunta: “você está arrependido?”. Entristecido, respondo que sim. Mas teria sido mais sincero se tivesse respondido “Claro… me pegaram”. Em uma situação como esta, não estou realmente arrependido, demonstro apenas remorso. Não estou arrependido do meu crime, de ter tirado a vida de outra pessoa, estou apenas entristecido por ter sido preso e com medo da minha punição. E não quero dizer que eu não poderia ainda me arrepender do meu pecado, mas que normalmente, é apenas o medo da punição que nos move e isso. Meus irmãos, isso não é metanoia. O arrependimento acontece quando, não por medo, mas por consciência, reconhecemos que o que fizemos é errado e a partir de então, passamos a buscar agir de forma diferente, não por medo de alguma punição, mas pela busca da verdade, do bem, por gratidão, por amor, sem interesse, sem querer nada em troca, pois foi para isso que fomos chamados por Deus e só assim não seremos escravos de nossos pecados.
Disse Jesus aos judeus que haviam crido nele: “Se vocês permanecerem firmes na minha palavra, verdadeiramente serão meus discípulos. E conhecerão a verdade, e a verdade os libertará”.
João 8:31,32
Agora mudemos o exemplo de pecado acima para o que acontece quando tiramos uma nota ruim em uma prova: buscamos estudar e nos dedicar mais ou apenas inventar uma nova forma de “colar” e trapacear? O que nos move é querer aprender, ou termos medo de não passar de ano? E se o exemplo for de algo que peguei quando ninguém estava olhando? Será que vou me arrepender e devolver aquilo que não me pertence ou apenas ter remorso se um dia for descoberto? E se o exemplo for uma gravidez indesejada? Estaremos arrependidos por termos sido irresponsáveis com o sexo fora do casamento ou simplesmente com remorso pelo resultado “imprevisível” daquele ato?
Meus irmãos e irmãs, nosso Senhor Cristo Jesus, Seus apóstolos e todos os Seus discípulos, lhes dizem: “arrependam-se” e “não pequem mais.” (Mateus 4:17, 3:8, 3:11, Marcos 1:4, Lucas 3:3, 3:8, 5:32, 15:7, 24:47, João 5:14, 8:11, além de várias passagens em Atos dos Apóstolos e em muitas das epístolas apostólicas).
Stevan Maia de Camargo Corrêa