Irracionalidade não é para todos. Ter a certeza de que vamos receber as coisas que estamos
esperando e ter a prova, mesmo sem comprovação, de que existem coisas que não podemos
ver, não é algo racional, mas é a própria irracionalidade cristã. Fé é irracional, ilógica,
improvável… É mais que esperança. É convicção. Se Jesus insistiu tanto para que seus
discípulos tivessem fé, é porque, de fato, eles não a tinham. De fato, nós não a temos!
Queremos ter, mas vacilamos… Por vezes ela surge forte, bela, impávida! Como um colosso!
Outrora ela gagueja, se amarela e vaza… Vaza como óleo pelos dedos das mãos. Vaza como
lágrimas pelos olhos angustiados e temerosos. “Não temas” é a ordem, o ensino, a orientação
mor. “Não temas” é a mais repetida das instruções do Mestre. Não temas e tenha fé! Mas…
meu Deus, como? Ante tantas dores e incertezas. Como não temer? Como manter a fé
inabalável?
Meu braço esquerdo se perdeu. Adormeceu… Formigava e eu já não podia movimentá-lo.
Era uma dor lancinante e constante, a qual durante o dia dava para aguentar pois as muitas
tarefas tiravam minha concentração da dor, mas, no frio e no silêncio das madrugadas eu
tinha que me refugiar na sala para chorar solitária e silenciosamente, e não acordar a casa
que recuperava as energias para um novo dia de labuta. Contra todos os prognósticos, o
milagre que eu aguardava aconteceu: uma consulta com o melhor hospital do aparelho
motor da América Latina, o Sarah. Após semanas de exames dos mais diversos, uma junta
médica me chamou para apresentar o diagnóstico. Eu numa sala fria, com cinco médicos
apresentando um Power Point com todos os meus exames, vários desenhos, radiografias
diversas, me explicando de forma didática cada ponto e cada etapa. Por fim, me disseram:
“A boa notícia é que identificamos e diagnosticamos seu caso com precisão. A má notícia é
que não tem cura ainda, nem com cirurgia”. Saindo dali, desolado, e com receituário com
medicamentos para dor, encontrei na recepção do Hospital Sarah a Soninha com seus dois
lindos filhos, ainda adolescentes, contei meu caso e ela disse: “Estaremos orando por você
todos os dias!”
Os meses seguintes não foram diferentes, pois a vida não podia parar. Dirigia o carro
normalmente, porém passava a marcha com a mão esquerda, já que a direita permanecia
grudada ao corpo, doendo e com limitação de movimentos. Volta e meia saía da cama de
madrugada para chorar escondido. Sorria para todos, não reclamava nem da vida, nem da
enfermidade e mantinha a esperança de Deus ter misericórdia de mim e me curar
milagrosamente.
Um belo dia dou um grito: “Simooneee!” e assustado disse: “Estou mexendo meu braço! E
nem me lembro quando isso começou”. Tentei puxar pela memória, e nada! Não me
lembrava em qual dia da semana, ou do mês, eu tinha começado a usar o braço, sem ver,
nem perceber. De repente, meu braço estava lá: Vivo! Louvei a Deus, não pelo que Ele fez,
mas pelo que Ele é. A pontinha do dedo permaneceu dormente por muitos e muitos anos
ainda e eu louvei mais ainda a Deus por siso, pois esta ponta de dedo dormente é o que todas
as manhãs me relembra da bondade de Deus e mantém vívida a lembrança do passado e da
bênção. Irracional! Irracional fé! A fé é a certeza de que vamos receber as coisas que
esperamos e a prova de que existem coisas que não podemos ver.
Em minha vida pude receber e entregar muitos milagres. Quantas vezes pude ser testemunha
ocular de uma cura milagrosa… E quantas outras vezes a oração não foi atendida, o milagre
não recebido e a fé? Abalada? Não, pois a fé não é em coisas, nem em pessoas, a fé é a
certeza de que não chegamos no final… pois no final, tudo vai dar certo! Nem todas minhas
orações foram atendidas como eu queria. Fé? Fé também é aceitar a vida que Deus nos der…
Veja que linda poesia:
“Se você não aceita meu conselho, eu te respeito!
Você resolveu seguir, ir atrás, com a cara e a coragem.
Só que você sai em desvantagem se você não tem fé.
Te mostro um trecho, uma passagem de um livro antigo, pra te provar e mostrar que a
vida é linda: Dura, sofrida, carente em qualquer continente, mas boa de se viver em
qualquer lugar!
Volte a brilhar, volte a brilhar!
Um vinho, um pão e uma reza!
Uma lua e um sol!
Sua vida é portas abertas”
Ouça esta poesia acima musicada no vídeo que está no final do texto: um lindo exemplo das
pedras clamando! Volte a brilhar! Volte a brilhar, com uma vida cheia de “fé, esperança e
amor”!
Luciano Maia, num momento que estou precisando de fé.
Esta abaixo é a música dona da poesia acima: