De todas as dimensões existentes, o tempo é a que mais nos consome, está mais próximo e mais nos aflige diariamente. Se você não for alguém que trabalhe em alguma área específica da construção civil ou de alfaiataria, dificilmente você terá uma trena ou régua com você para medir a distância e o tamanho das coisas que te rodeiam ou uma balança para aferir o peso. Mas, facilmente, encontramos pessoas com relógios nos pulsos, uns usam no braço direito, outros no esquerdo e outros no bolso, no celular, para medir e não se perder no tempo.
Em geral, a relação humana com o tempo é conturbada e tensa. Para muitas pessoas não é uma questão bem resolvida. Parece que estamos brigando diariamente com o relógio. Desde o dia em que nascemos o tic-tac está em contagem regressiva. A depender da concepção e da interpretação subjetiva, para uns cada dia que passa é um dia a menos, para outros um dia a mais.
A minha relação com o tempo é cheia de lutas perdidas. Era comum, na minha infância, chegar atrasado na escola. Morava a uns 3 km de distância da escola, as aulas começavam às 7h30 e ia à pé, mesmo assim saía de casa às 7h27, jurando que se andasse rápido chegaria antes do portão fechar. Resultado, perdia o início da aula. Resolvi esse problema do tempo somente no ensino médio quando os professores, me ensinando que poderia perder a prova do vestibular por chegar atrasado, foram rígidos com o horário comigo e fui aprendendo a planejar os horários. Ainda hoje perco a briga com o tempo, mas, graças a Deus, tenho uma família que me entende e me ensina todos os dias como ter uma relação melhor com o relógio.
Tentamos controlar, possuir, comprar e dominá-lo, estabelecemos uma relação de conquista com o tempo, a fim de nos sentirmos melhor em relação à sua passagem, típico comportamento de quem tem medo do desconhecido. Não é difícil encontrarmos pessoas com ideias mirabolantes para “ganhar mais tempo”. Mas, na verdade, o tempo nos limita e mostra o quanto somos pequenos, insignificantes e mesquinhos. Chegará o dia em que ele nos dirá: “Pare! daqui pra frente, não!” e ele nos reduzirá a pó. Em 100 anos, ninguém se lembrará de você. Muito dificilmente, a não ser algumas pessoas que foram bem próximas de você, alguém saberá a diferença que você fez no mundo.
Diante dessa noção de finitude, nos atrapalhamos e procuramos dominar o indominável. Uns negam a sua existência e vivem como se não houvesse amanhã. Vivem de forma irresponsável, inconsequente e sem planejamento. Normalmente, são taxados de hippies ou, dependendo da sua região, “bicho grilo”. Outros, contabilizam e precificam o tempo, mercantilizando o que não pode ser vendido, muito menos comprado.
É comum ouvirmos a frase: “Tempo é dinheiro!”. Essa frase significa que o tempo foi transformado em produto. Contudo, quando se dá um passo a mais na análise dessa frase percebe-se sua incoerência e insustentabilidade. Você, definitivamente, não compra mais tempo, porque você não pode estocar e guardar tempo para usar em outra oportunidade. Você não pode vender ou emprestar o tempo nem dar mais tempo a outra pessoa. O tempo é intransferível e inalienável. Cada um tem o tempo determinado por Deus.
Mas como podemos encarar o tempo e não temer o futuro sem ficarmos ansiosos? Como nosso relacionamento com Deus expressa nossa relação com o tempo? O que Deus nos revelou a respeito do tempo? No livro de Atos, no capítulo 1, versículo 7, Jesus diz que não cabe a nós saber do futuro:
“Ele lhes respondeu: “Não lhes compete saber os tempos ou as datas que o Pai estabeleceu pela sua própria autoridade.” NVI
Não sabemos o futuro e não podemos conhecê-lo. Quem tentou planejar sua vida nos mínimos detalhes percebeu que é impossível prever o futuro, no máximo podemos fazer uma análise probabilística, mas nada garantido.
O livro de Eclesiastes, no seu capítulo 3 nos ensina haver tempo para tudo e que Deus colocou em nós um anseio pela eternidade, mas mesmo assim não temos condição de compreender tudo o que ele fez e fará.
A noção de eternidade nos cura da incredulidade e fortalece nossa fé, dando-nos condições de superar a ansiedade e nos direcionar para o agora, para desfrutar do melhor que nosso Pai reservou para cada um. Na medida em que conhecemos a Ele, confiamos em Suas promessas e somos cheios de Sua Palavra, mais perto e conscientes da eternidade estaremos. Como a eternidade não depende ou é condicionada pelo tempo, podemos viver agora como viveremos quando Jesus voltar. Obviamente, com restrições, porque ainda não fomos completamente restaurados, mas, com certeza, podemos experimentar o eterno neste momento.
Jônathas Calil, Águas Claras, inverno de 2023.