Você já encontrou o que procura?

Por Neudson Freitas

Considerada como uma das melhores músicas da carreira do U2, “I Still Haven’t Found What I’m Looking For” foi lançada em 1987, como segundo single do icônico álbum The Joshua Tree.

Sim, na tradução literal, o título da música afirma: “Ainda não encontrei o que procuro”. E, sim (novamente): a música tem um invólucro cristão. Afinal, tanto Bono, quanto o guitarrista The Edge e o baterista Larry Mullen Jr. pertenciam a uma comunidade cristã chamada Shalom. Eles estavam incomodados ao pensar que sua fé não combinava com o estilo de vida do rock que levavam.

A música, escrita no mesmo estilo dos salmos de Davi, não deixa claro o que é que o narrador tanto procura. Ele escalou as montanhas mais altas (I have climbed the highest mountains), correu, rastejou (I have run, I have crawled), mas não encontrou o que estava procurando (But I still haven’t found what I’m looking for).

E você? Você tem clareza do que procura? Eu costumo dizer que conhecer com clareza o problema é 50% da solução. Ou seja: saber o que você procura já é meio caminho andado. Eu me lembro das minhas procuras ao longo da vida. Por exemplo: a minha Caloi Cross. Ah! Como eu queria aquela bike. Desejei tanto, declarei isso e pedi insistentemente a Deus. Um dia, meu pai apareceu com aquela bicicleta lá em
casa. Era linda: amarela, com detalhes pretos nas partes em que as soldas marcavam as emendas do quadro de metal. Eu a tomei pelas mãos eu fui me deleitar com a emoção de pilotar meu novo brinquedo. Não demorou muito, ela vivia encostada pelos cantos – afinal, já não era mais capaz de satisfazer minhas vontades.

Assim como a bike, tantas outras procuras ocuparam espaço em meu coração – bens, carreira, títulos e até relacionamentos. Em um certo ponto de minha vida, percebi a incapacidade dessas coisas temporárias me saciarem. Ao pensar nisso, sempre me lembro de Eclesiastes 2:11 – “Contudo, quando avaliei tudo o que as minhas mãos haviam feito e o trabalho que eu tanto me esforçara para realizar, percebi que tudo foi inútil, foi correr atrás do vento; não há qualquer proveito no que se faz debaixo do sol”. Eu não encontrei o que eu estava procurando.

Ainda sobre a procura, lembro-me claramente de um dia em que Deus falou comigo por meio de um chefe meu que eu admirava muito. Estávamos descendo o elevador já tarde da noite, exaustos, após uma sexta-feira intensa em trabalho. Eu disse: “Hoje, não quero saber de mais nada. Vou pra casa descansar! Dever cumprido!”. Ele respondeu: “Pois eu vou pegar minha esposa e levá-la pra jantar. Quero aproveitar a companhia dela. Afinal, ‘a felicidade está no percurso, não no destino’”. Foi a primeira
vez que eu ouvi essa frase, mas fez tanto sentido pra mim que, desde então, ela soa o tempo todo em meu coração.

Hoje, pensando bem, acredito que a preocupação com o destino, a busca, a procura, tira de nós a capacidade de aproveitar a jornada. O próprio Bono Vox, em algum momento, ao falar sobre a música Still Haven’t Found What I’m Looking For, a definiu como “um hino mais de dúvida do que de fé e uma música gospel com um espírito inquieto”.

Por outro lado, a própria música tangencia que Jesus é a resposta para a tal busca. Pense nos versos: You broke the bonds (Você quebrou os elos); And you loosed the chains (E soltou as correntes); You carried the cross (Você carregou a cruz); And all my shame (E toda a minha vergonha); You know I believe it (Você sabe que eu acredito nisso).

Mas porque o narrador insiste em dizer que “ainda não encontrou o que estava procurando”? Creio que a resposta é simples: porque em Jesus não há procura. Jesus é capaz de cessar toda a procura. Sim: Ele é a fonte de água viva e não há procura pra quem já encontrou Jesus, porque “quem beber dessa água nunca mais terá sede” e Ele “é uma fonte que jorra para a vida eterna” (Jõao 4:13-14).

Deus é amor! É importante compreendermos isso: não é que Deus tem ou carrega consigo o amor; Ele É o próprio amor! Ou seja: se temos Deus conosco, temos o amor habitando em nós. Não é necessário procurar, porque Deus está aqui, em nós! Sua presença é capaz de cessar toda a busca e nos trazer a paz, que excede toda a compreensão e entendimento humano.

Que sejamos capazes de aquietar nossos corações e encontrar o amor de Deus que habita em nosso interior – que é dom gratuito, provido pelo Cordeiro Imaculado, Cristo Jesus, que deu a vida na cruz para nos salvar e liberou com esse sacrifício o Espírito Santo, Soberano Amor, que sacia a pessoa e cessa toda procura.

 

Neudson Freitas
em 25/09/2023, o dia mais quente dos últimos tempos.




OS JOVENS DA RUA DE TRÁS

OS JOVENS DA RUA DE TRÁS

Era uma manhã de sábado em Columbia na Carolina do Sul, Estados Unidos, e eu estava trabalhando dentro da garagem transformada em oficina. Ainda bem jovem havia mudado de país e me desafiado a viver uma das fases mais intensas de minha vida, estudando e sonhando com meu futuro superlativo. Era um sonhador cheio de expectativas de sucesso profissional, emocional e espiritual.

Por conta de minha personalidade questionadora e analítica, “discutia” constantemente com meu querido amigo, irmão em Cristo e professor universitário Richard Norwood. E olha que era intenso e habitual, pois morava em sua casa e tomávamos café da manhã juntos todos os dias à mesa.

Dentro daquela oficina, naquela manhã, culminaram em minha mente todas as conjecturas: Teológicas, sociológicas, psicológicas, antropológicas, econômicas, políticas etc. … que haviam sido discutidas com meu amigo durante os últimos meses.

 

Fui tomado então por uma angustia extremamente intensa e repentina, daquelas que sufocam tanto que por alguns segundos pensei até em suicídio. Nesse momento “ouvi” em alto e bom som uma voz dentro de minha mente que dizia: “Está vendo, porque você está acreditando neste Deus aí? Ele só serve para trazer angustia para você, deixe Ele pra lá!”. O mesmo tempo, ao fundo, havia um rádio ligado e nele tocava uma música de um grupo adolescente que fazia sucesso à época chamado Backstreet Boys , na música havia uma frase que era o nome da faixa que dizia: “As long as you love me” que traduzindo diz : “Contanto que você me Ame”. Sim, Deus falou comigo através desta música, sem contexto e com uma letra que “traduzindo” para meu coração dizia: Eu não preciso que você faça ou resolva nada, eu já resolvi, Eu já fiz. Tenha Paz!

Se seguiu então uma experiência espiritual única que guardo em minha mente e coração em seus detalhes mesmo depois de mais de 20 anos. Era um sentimento de euforia, alegria e Paz, divinamente intenso. Surpreendentemente tudo isso foi confirmado por meu amigo Richard quando entrei em casa horas depois e me dirigi a ele para contar o que havia ocorrido. Ele estava sentado no sofá da sala e disse, antes que eu pronunciasse uma palavra: “Não precisa falar nada, eu já sei, Deus falou comigo também e me disse que era para deixar você em paz pois você é Dele”.

E então, como Deus fala contigo, NAS MÚSICAS?

O Senhor apareceu a Abraão perto dos carvalhos de Manre, quando ele estava sentado à entrada de sua tenda, na hora mais quente do dia. Abraão ergueu os olhos e viu três homens em pé, a pouca distância. Quando os viu, saiu da entrada de sua tenda, correu ao encontro deles e curvou- se até o chão., Gênesis 18:1,2 (NVI)

Nesta passagem bíblica vemos uma das experiencias mais intensas de Abrão, quando o próprio Deus apareceu fisicamente e entregou uma das notícias mais desafiadoras para sua fé: A gravidez de sua mulher já idosa. Isaque, filho da promessa, viria.

Curioso que o texto bíblico descreve a ocasião como fisicamente desconfortável pois era a hora mais quente do dia, no deserto, e coloca ele ali parado como se estivesse esperando algo acontecer em algum lugar improvável. Note que ele reconheceu que era Deus, saiu de onde estava, se dirigiu aos homens e então pediu para que Deus falasse com ele. O chamado Pai da fé estava ali sendo forjado.

 

E então, como Deus fala contigo: “PESSOALMENTE”?

Certa vez ouvi de alguém que ao iniciar suas devocionais puxa uma cadeira e a coloca ao seu lado e convida o Senhor para se sentar e passa a falar com Ele. De fato, sabemos que Deus é uma pessoa e Ele nos convida a nos relacionar com Ele de uma maneira pessoal, sendo assim, me parece uma boa abordagem.

E então, você fala com Deus na “CADEIRA AO LADO”?

“Vendo-se o povo diante dos trovões e dos relâmpagos, e do som da trombeta e do monte
fumegando, todos tremeram assustados. Ficaram a distância e disseram a Moisés:

 

“Fala tu mesmo conosco, e ouviremos. Mas que Deus não fale conosco, para que não morramos”. Êxodo 20:18,19 (NVI)

A passagem acima descreve uma das ocasiões onde o povo de Israel, em marcha para a terra prometida, aborda assustado a Moises e pede para que Deus não fale com Eles. Curioso pensar assim, não seria então a melhor coisa que poderia acontecer com qualquer pessoa ouvir em alto e bom som a voz de Deus?

Por outro lado, entendo o medo daquele povo quando encontramos narrativas de ocasiões em que a Arca da Aliança, que simbolizava a presença de Deus, foi tocada e quem a tocou morreu instantaneamente. 2 Samuel 6.6
E então, você tem “MEDO” de falar com Deus?
Às vezes me pergunto porque Deus simplesmente não fala conosco diretamente? Aí me lembro de Seu Plano Eterno inicialmente entregue através dos profetas, depois através de Jesus encarnado e por fim através de Seu Espirito Santo revelado no Pentecostes: Foi assim na montanha depois com Jesus e agora dentro de nós mora o consolador. Que cuidado lindo de nosso Pai. Que projeto lindo do evangelho.

Por fim poderíamos listar várias formas em que este diálogo lindo acontece a quem crê, escolha ou acrescente a sua experiência à lista:
• Profecias são reais e os Profetas de Deus ainda estão entre nós, peça a Deus uma para chamar de sua. Aprenda como identificar as verdadeiras e a interpreta-las corretamente.
• Deus fala a nós através de sonhos. Peça a Ele que te dê um, durma cedo e em paz, quem sabe será hoje.
• Deus fala por meio da natureza. Leia os livros poéticos da Bíblia e descubra como.
• Deus fala através de seus irmãos. Frequente a Mesa da comunhão regularmente,
intencionalmente, com generosidade e humildade e fique atento Ele vai falar!
• Deus esta “gritando” conosco na Bíblia, acessível hoje em dia até nos celulares e em áudio se você quiser. Com qual frequência você tem ouvido sua voz desta maneira?

Jeferson Ferreira, BSB, setembro de 2023.




O CAMPING

ADAPTAÇÃO DO TEXTO PRODUZIDO EM 8 DE OUTUBRO DE 2016.
Por Márcio Marques

 

O ser humano tem uma inerente atração pela natureza. Creio que é um dos legados do Éden,
quando nós e a natureza nos misturávamos na mesma paisagem, finamente desenhada por Deus.
Esse pertencimento é tão poderoso que bastam poucas horas em meio à natureza para que nossa
energia corporal seja reequilibrada, nossas emoções se harmonizem e nosso espírito entre na
contemplação do eterno.

Mas como somos uma criação muito diversa e heterogênea, o “gostar” da natureza tem várias
medidas. Alguns gostam tanto que trocam o conforto de uma casa com boas instalações, banheiro
privativo, ducha de água quente, colchão de espuma fabricada pela NASA e sucrilhos com leite, por
experiências espartanas, com baixíssimo conforto. Indivíduos que buscam maior sentido para a vida
entre árvores, cursos d’água, sombras e sóis, sons e silêncio naturais. São exploradores de novos
espaços e se ajustam facilmente ao ambiente.

Ao partirem para essas jornadas, carregam os itens que consideram essenciais, segundo suas
vivências: faca, pederneira, corda, lanterna… Principalmente os mais experientes conhecem a
equação: “conforto = peso” e muitas vezes o item “não vale o quanto pesa!” Desenvolver habilidades
é mais estratégico do que depender de muitos recursos. Quanto mais leve, mais rápido.

E qualquer caminho sempre traz consigo muitas possibilidades e desafios. As experiências mais
ricas são aquelas que nos apresentam contrastes mais intensos. Nossa alma, muito mais do que
nossa mente, ama o contraste. A mente prefere o conforto. Lembra da equação? “Conforto = Peso.
E as pedras no meio do caminho? Por mais belas ou representativas que sejam, não conheço
nenhum campeiro que atravessa a jornada colocando as pedras na própria mochila. Ninguém, em
sua plena capacidade, deseja carregar uma “mochila de pedras”!

Pois a vida se assemelha muito a um camping! Quando nos preparamos para encarar essa jornada – a vida – precisamos admitir algumas regras: sozinho pode ser mais rápido, mas é sempre mais difícil; navegue no claro, descanse no escuro; quanto mais desafiador o camping, mais experiente e mais
confiantes saímos dele!

É preciso admitir que o tempo e a prática nos habilitam a campear cada vez mais longe e em áreas
mais complexas. Mas, a despeito da nossa experiência, é certo que percalços ainda nos alcançarão.
Em regra, quanto maior a distância, maior será a probabilidade de nos depararmos com situações
desafiadoras. A diferença é que nas longas distâncias não é possível se esquivar dos problemas…
Enfrentá-los é a única opção!

Também é certo que os guias ajudam a caminhar. Eles nos mostram os destinos já conhecidos, às
vezes atalhos, dando-nos a oportunidade de caminhar com segurança. Normalmente o guia fez a
trilha inúmeras vezes e é exatamente isso que lhe dá autoridade para guiar outras pessoas. Nas
trilhas, nos negócios, nas nossas profissões, na vida espiritual, enfim, sempre encontrarermos
pessoas que reconheceram o terreno antes e estão dispostas a ajudar a sua e a minha caminhada.
Mas… e a mochila de pedras? E os acúmulos? E o lixo juntado, que às vezes não é possível largar
pelo caminho? É com essa carga que devemos agir com especial prudência. Não importa por qual
motivo essas pedras chegaram à sua mochila! O fato é que elas adicionam peso e complexidade à
caminhada. Assim como o lixo, ocupam espaço e causam desconforto.

É saudável, então, que o campeiro use uma estratégia inteligente para caminhar com melhor
rendimento: estabelecer pontos de parada! Neles, organizamos a mochila e os equipamentos – a
vida e as experiências – alijando o peso extra e o lixo acumulados. Naturalmente isso deve ser feito
em local apropriado, sem poluir o ambiente, que é um bem coletivo. O seu e o meu lixo nos
pertencem, e não à coletividade! Eu e você é que devemos dar destino a ele, evitando agredir o
ambiente.

Essa parada para ajustar a carga deixa a caminhada mais leve, possibilitando direcionar a energia
para aproveitar aquilo que verdadeiramente importa: o caminho! A jornada é a própria recompensa.
O destino serve de motivação, mas a jornada deve servir de inspiração. É nela onde as recordações
serão talhadas. Sendo direto, esse caminho é a vida! Essa jornada é o viver! Viver é o verdadeiro
tesouro, sem acúmulo de pedras nem lixo. Colecionando caminhos e destinos memoráveis.

Para consolidar essa experiência, sugiro a você uma caminhada que minha mulher e eu fizemos, há
07 anos, e ainda guardo grandes memórias. A trilha fica em Ilha Grande, no Estado do Rio de
Janeiro. Escolhemos o trecho que parte de um pequeno vilarejo onde ficam as pousadas e vai até
um antigo presídio de segurança máxima, hoje desativado e parcialmente demolido. Origem e
destino são separados por pouco mais de nove quilômetros (dezoito, ida e volta). O percurso é
incrustado na mata atlântica, onde existem pontos de parada com fontes naturais de água potável.
Nelas, o trilheiro pode se refrescar e buscar inspiração para o próximo lance.

Vá! Valerá à pena… Mas aqui segue uma recomendação adicional, além da tradicional garrafa de
água e frutas: vá olhando para fora (a natureza), para dentro (sua natureza) e para o alto. Dê a Deus
(dono de todas as naturezas) a oportunidade de acompanhá-lo nesses passos e para o resto de sua
jornada. Surpreenda-se com o prazer de campear a vida, com o Guia dos guias! Boa viagem…

 

Pr. Márcio Marques




O que o futuro nos prepara?

De todas as dimensões existentes, o tempo é a que mais nos consome, está mais próximo e mais nos aflige diariamente. Se você não for alguém que trabalhe em alguma área específica da construção civil ou de alfaiataria, dificilmente você terá uma trena ou régua com você para medir a distância e o tamanho das coisas que te rodeiam ou uma balança para aferir o peso. Mas, facilmente, encontramos pessoas com relógios nos pulsos, uns usam no braço direito, outros no esquerdo e outros no bolso, no celular, para medir e não se perder no tempo.

 

Em geral, a relação humana com o tempo é conturbada e tensa. Para muitas pessoas não é uma questão bem resolvida. Parece que estamos brigando diariamente com o relógio. Desde o dia em que nascemos o tic-tac está em contagem regressiva. A depender da concepção e da interpretação subjetiva, para uns cada dia que passa é um dia a menos, para outros um dia a mais.

 

A minha relação com o tempo é cheia de lutas perdidas. Era comum, na minha infância, chegar atrasado na escola. Morava a uns 3 km de distância da escola, as aulas começavam às 7h30 e ia à pé, mesmo assim saía de casa às 7h27, jurando que se andasse rápido chegaria antes do portão fechar. Resultado, perdia o início da aula. Resolvi esse problema do tempo somente no ensino médio quando os professores, me ensinando que poderia perder a prova do vestibular por chegar atrasado, foram rígidos com o horário comigo e fui aprendendo a planejar os horários. Ainda hoje perco a briga com o tempo, mas, graças a Deus, tenho uma família que me entende e me ensina todos os dias como ter uma relação melhor com o relógio.

 

Tentamos controlar, possuir, comprar e dominá-lo, estabelecemos uma relação de conquista com o tempo, a fim de nos sentirmos melhor em relação à sua passagem, típico comportamento de quem tem medo do desconhecido. Não é difícil encontrarmos pessoas com ideias mirabolantes para “ganhar mais tempo”. Mas, na verdade, o tempo nos limita e mostra o quanto somos pequenos, insignificantes e mesquinhos. Chegará o dia em que ele nos dirá: “Pare! daqui pra frente, não!” e ele nos reduzirá a pó. Em 100 anos, ninguém se lembrará de você. Muito dificilmente, a não ser algumas pessoas que foram bem próximas de você, alguém saberá a diferença que você fez no mundo.

 

Diante dessa noção de finitude, nos atrapalhamos e procuramos dominar o indominável. Uns negam a sua existência e vivem como se não houvesse amanhã. Vivem de forma irresponsável, inconsequente e sem planejamento. Normalmente, são taxados de hippies ou, dependendo da sua região, “bicho grilo”. Outros, contabilizam e precificam o tempo, mercantilizando o que não pode ser vendido, muito menos comprado.

 

É comum ouvirmos a frase: “Tempo é dinheiro!”. Essa frase significa que o tempo foi transformado em produto. Contudo, quando se dá um passo a mais na análise dessa frase percebe-se sua incoerência e insustentabilidade. Você, definitivamente, não compra mais tempo, porque você não pode estocar e guardar tempo para usar em outra oportunidade. Você não pode vender ou emprestar o tempo nem dar mais tempo a outra pessoa. O tempo é intransferível e inalienável. Cada um tem o tempo determinado por Deus.

 

Mas como podemos encarar o tempo e não temer o futuro sem ficarmos ansiosos? Como nosso relacionamento com Deus expressa nossa relação com o tempo? O que Deus nos revelou a respeito do tempo? No livro de Atos, no capítulo 1, versículo 7, Jesus diz que não cabe a nós saber do futuro:

“Ele lhes respondeu: “Não lhes compete saber os tempos ou as datas que o Pai estabeleceu pela sua própria autoridade.” NVI 

 

Não sabemos o futuro e não podemos conhecê-lo. Quem tentou planejar sua vida nos mínimos detalhes percebeu que é impossível prever o futuro, no máximo podemos fazer uma análise probabilística, mas nada garantido.

 

O livro de Eclesiastes, no seu capítulo 3 nos ensina haver tempo para tudo e que Deus colocou em nós um anseio pela eternidade, mas mesmo assim não temos condição de compreender tudo o que ele fez e fará.

 

A noção de eternidade nos cura da incredulidade e fortalece nossa fé, dando-nos condições de superar a ansiedade e nos direcionar para o agora, para desfrutar do melhor que nosso Pai reservou para cada um. Na medida em que conhecemos a Ele, confiamos em Suas promessas e somos cheios de Sua Palavra, mais perto e conscientes da eternidade estaremos. Como a eternidade não depende ou é condicionada pelo tempo, podemos viver agora como viveremos quando Jesus voltar. Obviamente, com restrições, porque ainda não fomos completamente restaurados, mas, com certeza, podemos experimentar o eterno neste momento.

 

Jônathas Calil, Águas Claras, inverno de 2023.