EU ME ESFORÇO PARA VIVER CADA DIA COMO SE FOSSE UMA VIDA COMPLETA

Já teve a sensação de familiaridade quando algo que você faz ou conhece há muito tempo vira moda ou tende a virar hábito de muitos? Acho que a maioria de nós passa por isso de vez em quando.

Eu estou passando por isso de maneira muito intensa em relação a alguns aspectos durante minha quarentena. Home office, baixo consumo, carpe diem e valorização da família são hábitos antigos que agora tornam-se mais comuns a mais amigos, colegas e até desconhecidos que postam suas descobertas e reflexões nas redes sociais.

Não quero aqui parecer arrogante sabichona; minha intenção verdadeira é apenas dividir um pouco do que tenho vivido nos últimos anos e algumas lições que aprendo e que talvez possam ser úteis para outras pessoas que amo ou para aquelas que nem conheço!

Vamos por partes!

Home Office

Morei um pouco mais de dois anos em São Paulo, entre 2012 e 2014. Sou consultora de empresas e quando voltei para Brasília, passei a trabalhar em casa quando não estava em clientes em Brasília ou em São Paulo, onde ainda tenho forte vínculo profissional. Logo, trabalho em home office há cinco anos e considero essa uma estradinha boa! Primeira informação importante para entender o meu ponto de vista: adoro trabalhar na minha casa! Aqui economizo o tempo do deslocamento, economizo muito dinheiro porque não tenho o custo fixo de escritório e tudo o que decorre da ação de “alugar um espaço”, me alimento bem e nos horários certos porque minha cozinha saudável está logo ali e, o mais importante: me concentro facilmente porque não tenho interferência do ambiente corporativo cheio de gente que me dispersa porque eu adoro uma interação!

Para que minha experiência seja tão boa, há uma série de pré-condições que considero essenciais para que assim seja:

  • Tenho a alegria de morar em uma casinha em um local maravilhoso. Escolho entre a biblioteca dentro de casa ou a varanda no jardim com vista ampla e incrível. Meu ambiente é muito agradável.
  • Meus filhos são adultos – moramos eu e meu marido, que sai todos os dias porque adora o escritório. Casa silenciosa e não tenho que dar atenção pra ninguém.
  • Minha atividade de produção em consultoria é independente em grande parte do tempo. Consigo produzir muita coisa sem depender dos meus colegas.
  • Tenho equipamentos muito bons – notebook excelente, duas linhas de telefone em meu aparelho celular com internet que nunca acaba, wi-fi 5G de fibra ótica em casa.

E poderia acrescentar algumas outras coisas à minha lista. Mas o ponto que quero fazer é que meu home office funciona porque consigo, em função do meu momento de vida e da natureza da minha atividade profissional, ter condições adequadas para que a produtividade em casa seja altíssima. Mas sabemos que isso não é real para todos. E não porque eu seja alguma espécie de gente especial ou privilegiada. Nada disso! É só o meu momento e minha escolha de vida mesmo! Fico imaginando as casas com crianças e sem ajudantes, por exemplo. Eu jamais conseguiria fazer home office como faço hoje há doze, ou quinze anos. Minha casa grande e trabalhosa era um agito delicioso! Eu não teria o sossego ou mesmo a disciplina para sentar quieta e alheia do furdunço maravilhoso causado pelos meus filhos e meus pais com eles, ou a ajudante demandando coisas e produzindo todos os barulhos e cheiros bons da vida!

Então, antes de pregar indistintamente que home office é maravilhoso, quero contar pra vocês o outro lado da história:

  • Home office é solitário – raramente converso com alguém, os intervalos para o café são silenciosos e olhando para a vista, não tem um colega para dividir um pensamento rapidinho, o almoço é sozinha e no final do dia não tem um grupinho para, se der vontade, passar meia hora em um animado happy hour. Por isso, sempre que posso, guardo um tempo para trabalhar no escritório em São Paulo.
  • Home office exige uma disciplina absurda de alta – nunca trabalhei de pijama ou descabelada, mesmo sozinha aqui. Nunca durmo até tarde. Nunca! Acordo e levanto cedo, passo uma maquiagem mínima, visto roupa que possa trabalhar sempre com a câmera aberta, respeito os horários, não faço coisas pela casa de segunda a sexta, não assisto séries, não ligo minha música predileta, não bebo só porque tem a adega do meu marido à disposição dos meus prazeres!
  • Home office deixa a gente meio “por fora” de algumas coisas – a distância física é boa para algumas coisas e péssima para outras. O esforço para “manter todo mundo na mesma página” é muito maior. É possível, claro, mas o esforço para engajamento e sintonia cultural corporativa pertence a outra dimensão.

Há outras dificuldades e algumas angústias adicionais, mas para encurtar, lembro que home office é uma escolha com prós e contras, como tudo na vida. Não entendo que seja adequado aderirmos a um movimento social (que vejo surgindo) que romantiza a situação enfatizando apenas os benefícios existentes de trabalhar em casa. Lembrando ainda que ter os funcionários trabalhando em suas casas representa uma economia gigantesca para as empresas que podem, nesse caso, diminuir custos com infraestrutura, sempre cara nas grandes cidades. Logo, romantizar ganha feições de oportunismo pra mim.

Seguimos humanos, gostando e necessitando das trocas que acontecem como fruto da interação presencial, curtindo almoçar em boa companhia e bater um papo rápido dando risadas (no meu caso) durante a curta pausa para o cafezinho. Gostamos de estar com gente porque somos gente! Simples assim. Nossas casas jamais poderão substituir o ambiente de trabalho que gera a energia capaz de fazer das organizações espaços com personalidade própria. Minha casa jamais vai reproduzir a minha empresa. Creio que a sua também não.

E assim, defendo e clamo pelo equilíbrio entre a manutenção dos espaços de trabalho coletivos e a liberdade de poder trabalhar em casa durante um período possível e saudável, de acordo com as condições pessoais de cada profissional.

Baixo Consumo

Um dia eu estava saindo da sede de um cliente e uma pessoa me abordou delicadamente e perguntou: “Olá, você é a Simone Maia, consultora que nos atende”? Respondi que sim, e ela completou: “uma colega me mandou uma apresentação do seu trabalho, tinha uma foto tua e te reconheci; você estava com a mesma roupa”! Soltei uma gargalhada gostosa, confirmei minha identidade e contei que é verdade que repito muito as roupas.

Sempre tive poucas coisas – poucas roupas, poucos sapatos, poucos acessórios, um único vidro de perfume por vez, poucas panelas, poucos utensílios de cozinha, pouco quase tudo. Não tenho poucos livros. Por crença nunca gostei de acumular, de ter os armários abarrotados. Quando compro algo novo, obrigatoriamente algo tem que sair para dar espaço – físico e emocional – para o novo que chega. Também não curto ficar passeando toda hora em shopping. Gosto das coisas que tem algum valor pra alma, e não das coisas pelas coisas.

Me lembro de uma vez que um amigo muito querido foi na nossa casa e nos criticou porque não tínhamos um home theatre ou aparelhos eletrônicos de audiovisual “decentes”, apesar de termos condições financeiras para tanto. Ele foi muito incisivo e despertou em mim uma resposta atravessada (perdão, amigo!!! Rsrsrsrs): “não tenho aparelho eletrônico que preste, mas dê uma olhada nos carimbos dos meus passaportes”. Que coisa feia, Simone… E que coisa verdadeira, Simone!

A alma não tem a ver com as coisas e eu prefiro as coisas que me remetem à alma. Sou fora de moda e não me importo. Viajo com malas pequenas, a bordo! Minhas roupas duram mais que uma década. Logo, estou feliz com a conclusão de muitas pessoas sobre o consumo consciente durante a pandemia; sobre ter o que é necessário, sobre o repartir. Repartir no muito e no pouco foi a maior lição que aprendi quando eu e meu marido falimos em 2003. Reter porque se tem pouco ou porque se tem medo de ficar sem, alimenta a lei da escassez e trava a abundância na medida em que interrompe o fluxo do compartilhar entre nós. A prosperidade é fruto do compartilhar. Compartilhar de tudo: de coisas, de ideias, de momentos regados de alegria em torno da mesa!

Que nessa quarentena seja reforçado o fluxo do compartilhar entre todos nós! Compartilhar comida, compartilhar dinheiro, compartilhar amor, compartilhar compaixão. E que isso dure para além de pandemias quaisquer.

Carpe Diem

Há muitos anos minha terapeuta me definiu de uma forma que amei: “Além de trabalhar muito, você tem um ‘Lado B’ bem desenvolvido”, disse ela.

O Lado A é o do trabalho e das obrigações. Lado B é o que se diverte, que curte a vida, curte a família, que vai à exposição de arte para se abastecer de criatividade, que toma espumante para celebrar a existência, que enche a casa de amigos para fazer festa sem motivo especial, que guarda dinheiro para viajar ao invés de trocar de carro para evitar perda de patrimônio.

Sempre tive um traço acentuado de ansiedade. Péssimo! Claramente delineado por circunstâncias advindas das minhas escolhas, das experiências doloridas e de um imaginário muito fértil! Luto contra isso diuturnamente, e para tanto, curto o agora porque não sei como será o depois. Sim, é incoerente. Mas é assim que acontece pra mim.

E quando me vi trancada em casa sozinha com meu marido, nenhuma “Eureka” rolou por aqui. Nem tampouco nenhuma crise conjugal. A melhor companhia todo o tempo, mais receitas, mais garrafas de vinho, mais espumantes a dois ao pôr do sol, mais sexo. Nos últimos sessenta dias, quatro discussões, sendo duas por causa de bobeira durante a faxina. Chamei a diarista de volta. Pronto. Nada de brigas por causa do chão limpo! Carpe diem!

De verdade, só temos o hoje. Ontem já era e amanhã nem sei se vou morrer de Covid-19 ou de qualquer besteira que possa acometer minha carne frágil. Pra que tanta ansiedade, Simone? Para que ter tanta coisa, gente? Pra que? O que fica marcado é o que marcamos na alma. E que minha alma seja marcada pelo amor dos meus pais e dos meus filhos, pelos amigos com quem compartilho a caminhada, pelo barulho maravilhoso da rolha se desprendendo da garrafa, pelas ligações que faço e recebo, pelas viagens que fazemos, pelas orações que ecoam a favor daqueles que amamos.

Valorização da família

Saí da casa dos meus pais no Estado do Rio de Janeiro aos dezessete anos para fazer intercâmbio cultural e depois do retorno, aos dezoito, passei no vestibular em Brasília e me mudei de vez do interior para a Capital. Cedo para a realidade brasileira. Principalmente em se tratando do ano de 1988. Em Brasília, após ser acolhida durante cinco meses por uma família amada de amigos queridos, mudei para morar só, com uma amiga de universidade. Naquele tempo, no meio religioso no qual fui criada e convivia, recebia olhares tortos e sabia de comentários que considero maldosos de “menina solta”, “sem família”, “à procura de homem” e por aí vai. Problema dos fofoqueiros! Nunca fui solta, meu pai foi quem fez minha inscrição no vestibular da UnB pelos correios (rsrsrs), minha mãe nunca deixou de me aconselhar à distância e meu atual marido teve que cortar um dobrado de charme e estratégia para me conquistar e começarmos a namorar.

Me casei dois anos após a chegada na cidade. Ainda universitários, os dois. Que dia feliz! Que escolha acertada! Vinte anos eu tinha. E ele, vinte e três. Fomos pais pela primeira vez aos vinte e um e vinte e quatro, respectivamente. Fazem ideia da salva de críticas? Kkkkkkk Sempre fiz ouvido de mercador. Afinal, meus pais se casaram exatamente com a mesma idade, foram pais jovens – também com a mesma idade, e eu, enquanto filha, tive uma vida simples e absolutamente maravilhosa em família com eles e nossos parentes. Que medo eu tinha? Nenhum! Que exemplo eu tinha? O melhor que eu poderia ter!

Creio na família como a base da sociedade, como o berço dos nossos valores, como arco que serve para lançar flechas ao alvo distante! Amo minha família! Amo meus pais, meu irmão e a família que ele acrescentou à nossa! E foi assim que naturalmente e sem mistério criei outra família que hoje tenho como a mais preciosa herança que o Pai Criador e doador da vida poderia ter me presenteado.

Então, ao me ver presa em família para a quarentena, me senti plena, protegida, em paz, feliz até. É como se a família fosse uma cápsula mágica que me protege dos gráficos que revelam o avanço feroz do Mal de Wuham sobre o planeta. O que mais eu poderia querer?

Isso não significa que não respeite os que não queiram constituir família. Tenho dezenas de amigas e amigos solteiros. Contudo, quando os que se casam querem se divorciar, eu sempre entro em sofrimento e quero logo tentar interferir para que fiquem juntos. Eu sei. Isso é inocente. Mas estou sendo sincera: eu tenho a ilusão de que as pessoas podem ressiginificar e salvar seus casamentos, como um dia eu e Luciano tivemos que salvar o nosso, à beira de um racha.

Família é tudo de bom! É porto seguro, lugar de educação e aconchego. Família é aconchego e amor sublime manifesto em forma de gente que se relaciona de um jeito esquisito!

Não tem muita novidade pra mim na quarentena. Tenho tido vergonha de sentir e dizer isso, o que torna a frase quase que uma confissão culpada, mas ao mesmo tempo cheia de gratidão por ter uma vida boa! Uma vida que não tem nada de especial em relação à vida das outras pessoas, mas que é vivida de forma consciente de seu valor, marcada pela crença de que todo o tempo é tempo de aprender e se transformar para que a paz e a felicidade sejam presentes, apesar das circunstâncias.

Simone Maia

Brasília, 17 de maio de 2020.

61º dia da quarentena por Coronavírus.




À PROCURA DA FELICIDADE

Nesse emocionante filme, estrelado por Will Smith, acompanhamos a história real de Chris Gardner que, em meio a diversas adversidades, tenta manter um mínimo de dignidade para si e seu filho. Na saga, Chris, investe suas economias em tomógrafos, que tenta vender diretamente aos médicos, não obtendo sucesso. A dificuldade financeira leva sua esposa a abandoná-lo, deixando-o com o filho em um uma situação tão ruim, que chegam a dormir em um banheiro de estação de metrô. Seguramente ao final tudo dá certo. Hollywood não faria um filme que não terminasse com um exemplo de superação e vitória.

Acontece que, apesar de toda emoção do filme, nem sempre as adversidades terminam em vitória. Olhando ao nosso redor, constatamos que poucos alcançam uma vida cheia de realizações, digna da telona. As pessoas dormem e acordam, trabalham diariamente, muitas vezes em atividades que não gostam, tem problemas com o cônjuge que não conseguem resolver e andam com o coração na mão por conta dos filhos. Isso se levarmos em consideração as pessoas afortunadas. Uma multidão de desventurados madruga à procura de emprego, pena para alimentar a família, perdeu os filhos para o crime ou as drogas, anda à margem de uma vida, no mínimo, desagradavelmente normal.

O filme deixa a entender que o herói encontra a felicidade ao alcançar um bom emprego em uma corretora de valores. Isto posto, duas reflexões sobre a felicidade nos vem à mente. A primeira é que a felicidade é a medalha que ganhamos após o sucesso em uma árdua batalha. Diante disso, para sermos feliz é necessário vencermos todas as batalhas… um feito para poucos. A segunda, e mais intrigante, é pensarmos que o triunfo em alguma área da vida, dá total significado para toda nossa existência. Será que não existem ricos em depressão? Ou famílias bem sucedidas destruídas pela cobiça, drogas, indiferença, desamor? Ou servidores públicos, com estabilidade e bons rendimentos, que se sentem perdidos em uma vida sem significado?

Um pequeno homem, chamado Mahatma Gandhi, teve também uma saga hollywoodiana. Entretanto, indo ao contrário do caminho modelo de felicidade, após sair da Índia e se formar em direito na Inglaterra, Gandhi dedica sua vida aos direitos dos hindus e a libertação da Índia. Uma vida de imensas privações, algumas prisões, longos jejuns, brutalmente finalizada com seu assassinato, no jardim de sua casa, protagonizado por um hindu, povo ao qual dedicou sua vida. Esse homem, desafortunado aos olhos de muitos, disse algo a respeito da felicidade:

“Não existe um caminho para a felicidade. A felicidade é o caminho.”

É incrível como doze palavras podem trazer uma consciência tão completa a respeito de um tema tão complexo. A felicidade não é a medalha, mas a corrida; não é o troféu, mas o campeonato; não é o salário, mas o trabalho; não é a riqueza, mas o empreendimento; não é completar bodas de ouro, mas os 50 anos juntos da pessoa amada! A felicidade é aquilo que fazemos utilizando toda nossa alma, toda nossa vocação, todo nosso esforço, todo nosso talento! Talvez você não tenha a vocação de Gandhi; eu certamente não a tenho. Mas ele tinha, e foi feliz vivendo a vida de acordo com seus valores! Mesmo recebendo como medalha o tiro que causou sua morte.

Antes de Gandhi, Jesus deu esse exemplo de vida com propósito. Ele veio para o meio de seu povo, os Judeus, e esse povo provocou seu julgamento. Ele dedicou sua vida a fazer o bem a todos, e todos pediram para que Barrabás fosse solto em seu lugar. Morreu solitário na cruz, com apenas um de seus discípulos presente. Todavia sua vida até hoje influencia milhões de pessoas.

Onde, então, procurar a felicidade? Ela se encontra dentro de você! Em sua dedicação a vida, ao seu propósito único, a realização de sua vocação, ao tempo dedicado as pessoas amadas. E, se ao final você ganhar uma medalha, ela será apenas a cereja de um delicioso bolo, desfrutado durante seus dias na terra. Seja feliz!




Hora da faxina! Jogue fora o que é velho.

A gente tem a tendência ao acúmulo. Mesmo sem querer a gente acaba juntando e guardando em nossos armários e gavetas um monte de coisas… Muitas destas, totalmente inúteis para nós: roupas que não usamos há várias estações, maquiagens velhas, utensílios desnecessários, ferramentas estragadas, pequenos pedaços de canos usados ou restos de alguma reforma feita no banheiro, até pneu careca tem gente que “guarda”, por pretextos mais variados.

Muitas vezes guardamos coisas que não nos são úteis, mas poderiam ser úteis a alguém. Outras vezes são coisas que não são úteis para nada, apenas para tomar espaço, empoeirar e o pior: tomar espaço físico e emocional e assim impedir que o novo venha!

O Senhor é um Deus de novidades: a Ele pertence o novo e não as tradições… Tradições são coisas humanas. Tradições são coisas de religiosos. São apegos ao passado e ao que já foi útil ou importante, que teve seu lugar, mas não necessariamente, continua tendo.

Jesus não era uma pessoa nem tradicional e nem religiosa. Ele representou o novo:

• Novidade de vida,

• Novo mandamento,

• Nova aliança!

Mas os religiosos de seu tempo, judeus tradicionais que eram, não curtiram muito todo aquele papo de modernização da fé, do estilo de vida e de relacionamento com Deus e deram um jeito de fritar o cara… Sim, religião mata e religioso é um perigo para Deus e um atentado às novidades de Deus.

O Apóstolo Paulo de Tarso, antes de sua conversão, era uma pessoa que tipifica bem o religioso padrão: zeloso pelas tradições as quais supõe serem Deus. (Mas não há um versículo que afirme “Deus não é tradição”… Existe sim, “Deus é amor”).

Disse Jesus: “Meu Pai trabalha ate hoje!”

Sim! Deus continua criando e inovando, pois Deus não está preso no tempo, mas Ele é amoroso.

Prender-se às coisas velhas ou inúteis é agarrar-se ao passado, portanto, impedir a entrada do novo.

Para o novo entrar o velho tem de sair!

Há que se abrir espaços em nossa existência para a chegada das novidades que Deus tem para nos presentear a cada manhã.

No caso das questões materiais, quando guardamos estas quinquilharias em nossos despejos, estamos emitindo para nós mesmos alguns sinais:

1º – “Não confio que no futuro terei outras coisas boas. Melhor agarrar-me ao velho, pois pode ser que Deus não me abençoe amanhã novamente…”


2º – “Não sou merecedor do novo! O bom é para os outros e não para mim. Deixe-me acumular estas coisas, mesmo que velhas, pois as boas novidades são para outros.”

Ensinou Jesus: “Não acumuleis tesouros na Terra, pois onde estiver o teu tesouro, ali estará o teu coração”, portanto dê, doe, distribua!

Entretanto, o mais cruel neste processo de acúmulo não é o acúmulo de coisas, mas sim o acúmulo de sentimentos passados:
Ofensas, invejas, injúrias, fofocas e coisas outras que plantadas e aguadas, germinaram e cresceram em nós como ódios, desejos de vingança, iras, injúrias. Sentimentos que devem ser jogados fora e substituídos pelo novo, pela novidade, pelo perdão aos que nos ofenderam de alguma forma.

Guardar sentimentos negativos faz mal somente a nós, que carregamos este peso inútil e assim não podemos caminhar livremente pela vida. Entretanto, para a pessoa não perdoada por nós, que às vezes, nem sabe do mal que por ventura tenha nos causado, esta pessoa continua sua jornada, talvez até feliz.

Perdoar não é fácil, por isso que Jesus insiste tanto neste tema. Qual é o seu limite de perdão?

Vamos esvaziar nossas dependências interiores de coisas velhas e inúteis e abrir espaço para o novo entrar.

• Para o novo relacionamento entrar, o velho tem que sair.

• Para o amor entrar, o ódio tem que sair.

• Para a paz entrar, a ira tem que sair.

Faça em sua vida a faxina do perdão, limpando os armários da alma e as gavetas do coração. Jogando fora coisas do passado e deixando espaço livre para as novidades de vida que Deus tem para todos nós, todas as manhãs.

Você não é melhor que ninguém, mas também, você não é pior que ninguém. Você é único diante do Pai, que a todos ama, indistintamente.

Quer o novo? Livre-se do velho.

 

Luciano Maia

 




NO ESTACIONAMENTO

NoEstacionamentoO dia estava quente e seco, o que é comum no inverno de Brasília. Cheguei ao estacionamento no horário de almoço, como era meu costume na época. O terno azul escuro incomodava absorvendo o calor do sol brasiliense. Deixei o paletó no banco de trás, soltei o nó da gravata e desabotoei o colarinho. Antes que eu acabasse Wagner veio acenando, com um sorriso fraco no rosto queimado e maltratado pelos anos sob o sol e as drogas.

– E aí brother? – Percebi algo estranho, pois ele não chegou animado e brincalhão como sempre.
– Opa. – Respondi fechando a porta do carro.

O estacionamento, em um shopping tradicional, ainda não era pavimentado nesses dias. No tempo de seca a terra vermelha levantava nuvens de poeira, nas chuvas o barro desencorajava os clientes, preocupados em não sujar seus sapatos. Nesse dia, além de todos que frequentavam nossa reunião, havia mais alguns, que eu não conhecia, embaixo da grande árvore, nossa congregação ao ar livre. Cheguei, cumprimentei um a um e me sentei na mureta, em cima de um papel que Bodinho me deu para não sujar a calça. No chão, duas garrafas de 51 vazias, uma cheia e outra com pouco mais da metade.

Sempre que estou com o pessoal percebo os olhares curiosos dos que passam, entrando ou saindo do shopping. Em meio a moradores de rua, vigias de carros, um homem de terno conversando à vontade, parte integrante do grupo. O curioso, nesse dia, era que o pessoal estava mais quieto e mais bêbado do que o costume. Antes que eu perguntasse algo, Wagner soltou, em uma voz sem emoção, a notícia que os abatera.

– Ronaldo morreu. – Olhei para seu rosto tentando entender se era uma de suas brincadeiras. Não era. Ronaldo morava em um barraco no Pedregal, junto com seus dois filhos. Os meninos, de cinco e oito anos fugiram da mãe devido as grandes torturas físicas e emocionais que ela lhes infringia. Ela não fez questão de pegá-los de volta e ficaram morando com o pai. Fazia pouco mais de três meses que Ronaldo decidira seguir a Jesus e as coisas não estavam fáceis, já que ele havia parado com o tráfico de merla, vivendo então do dinheiro da guarda e lavagem dos carros. Era bom ver a mudança de comportamento, sua fé em meio às lutas e seu desejo de dar um futuro diferente aos filhos.

– O que aconteceu? – Perguntei tentando imaginar a tragédia.
– Cara, tudo por causa de uma pinga. Faz um tempão que Ronaldo foi a um boteco lá no Pedregal, comprou uma garrafa de cachaça, sentou e botou para a galera beber. Naquele dia o Baixinho chegou, pegou um copo e foi pegando da cachaça. Ronaldo levantou na hora e mandou colocar a cachaça de volta na mesa. O Baixinho ficou bravo com a regulagem da pinga, falou, argumentou, mas Ronaldo não deixou ele tomar.

No sábado passado Baixinho estava no bar e pagou cachaça para todo mundo. Ronaldo chegou para comprar um refri que ia levar para casa. Baixinho deu um copo cheio para ele e disse: toma, bebe ai para você ver que não sou regulado como você. Ronaldo falou que não estava mais bebendo pinga e foi ao balcão pedir o refri. Baixinho saiu do bar, voltou com um caibro de madeira nas mãos e acertou a cabeça do Ronaldo em cheio. Com ele no chão ainda deu mais duas porretadas. Ele nem conseguiu se virar… morreu lá, no chão do bar.

– E o Baixinho? – Perguntei atônito, sem digerir a história.
– Está foragido.
– E os meninos?
– Fugiram do barraco com medo da mãe vir pegá-los.

Fiquei em silêncio. Imaginei Ronaldo estirado no chão e me perguntei o que seria dos dois meninos. O silêncio foi interrompido por Wagner.
– Pastor, eu queria sentir o amor de Jesus, sentir que Ele se importa comigo de verdade. Me diz uma coisa: Jesus ama menos a gente do que vocês?

Segurei o choro por alguns segundos. Tinha quatro ou cinco pessoas prestando atenção em nossa conversa, enquanto outros continuavam bebendo distraídos. Chamei a todos e disse algo sobre não haver “a gente” e “vocês”, sobre sermos todos iguais diante de Deus, sobre seu amor, que não faz acepção de pessoas. Li um texto bíblico, oramos juntos, conversamos e chegou o fim de meu horário de almoço.

No caminho do trabalho fiquei com a sensação de ter comido algo estragado. Aquilo que cansei de ver nos noticiários da TV, com o sabor “sem sal” de acontecimentos que assolam desconhecidos e a ridícula entonação de voz dos narradores de tragédias, ganhou novo gosto nesse dia. E nos meses que se passaram aprendi que essa comida amarga faz parte do cotidiano de muitas pessoas.

Após poucas semanas, ninguém mais se lembrava de Ronaldo, Baixinho, ou de dois meninos desaparecidos. Mas a pergunta ainda ecoou algum tempo em minha mente: “Jesus ama menos a gente do que vocês?”.




EU NÃO QUERO ENVELHECER (E NEM MORRER!)

 

Todos queremos ser especiais! Nisto somos todos iguais, disse Carlos Drummond de Andrade.

Esta afirmação aponta para uma carência essencial que a todos acompanha: gostaríamos de ser o filho especial, ser o profissional de destaque, ou até ser reconhecido pelo esforço de não sermos notados. Mas, de alguma forma gostaríamos de ser especiais….

Mesmo querendo ser especiais ou diferentes, todos temos ao menos um ponto em comum: ricos e pobres, cristãos, muçulmanos ou budistas, de sábios eruditos a idiotas iletrados, todos igualmente, morreremos… Salomão chega a ironizar esta situação, cruelmente dizendo que os seres humanos, que se julgam tão superiores, são, na verdade, iguais aos animais, pois, tanto este quanto aquele, morrem…

Caso o ciclo existencial transcorra sem grandes novidades, a morte será precedida de um estado pouco desejado: a velhice. A velhice é um problema para a humanidade! Poucos estão realmente preparados ou dispostos para o crepúsculo da vida. Muito já se sonhou com o “elixir da juventude”: medicamentos, alimentos, plantas, cirurgias, estilo de vida e outros elementos que possam retardar o fato a ser consumado: a velhice.

Gostei da resposta do mundialmente celebrado cirurgião Ivo Pitangui, quando perguntado como ele se sente sendo o responsável por deixar tantas pessoas mais jovens. Sua frase foi curta: “Eu não deixo ninguém mais jovem. Apenas deixo as pessoas velhas com aparência de mais novas – mas elas continuam velhas”. Pitangui tem a exata noção do seu trabalho: ele é um “maquiador”.

O nome Olacyr de Moraes certamente não será do conhecimento da maioria dos leitores deste artigo. Ele foi o Rei da Soja no Brasil dos anos 80 e tornou-se o “Primeiro Bilionário Brasileiro Mais Jovem”. Sua história de incansável trabalho e empreendedorismo é linda. Ao fim dos anos 80, com 50 e poucos anos e finalmente bilionário, resolveu “curtir a grana” e tornou-se um frequentador contumaz de festinhas badaladas e eventos sociais, sempre acompanhado de lindas jovens. Depois, do agronegócio, enveredou-se para a mineração e perdeu muito, muito dinheiro. Hoje ele é um velhinho de 83 anos, ainda rico, que não dispensa fotos com as ‘suas’ jovens, porém não pode mais curtir toda sua grana, já que a enfermidade não o deixa sair de casa, nem pras festinhas badaladas, e nem pros restaurantes, já que sua dieta é restritíssima.

Incluo abaixo este artigo de Max Gehringer, que me fez lembrar Olacyr de Moraes:

“Li em uma revista um artigo no qual jovens executivos davam receitas simples e práticas para qualquer um ficar rico.

Aprendi, por exemplo, que se tivesse simplesmente deixado de tomar um cafezinho por dia, nos últimos quarenta anos, teria economizado 30mil reais.  Se tivesse deixado de comer uma pizza por mês, 12 mil reais.  E assim por diante.

Impressionado, peguei um papel e comecei a fazer contas.  Para minha surpresa, descobri que hoje poderia estar milionário.  Bastaria não ter tomado as caipirinhas que tomei, não ter feito muitas viagens que fiz, não ter comprado algumas das roupas caras que comprei.

Principalmente, não ter desperdiçado meu dinheiro em itens supérfluos e descartáveis.

Ao concluir os cálculos, percebi que hoje poderia ter quase 500 mil dólares na minha conta bancária.

É claro que não tenho este dinheiro.  Mas, se tivesse, sabe o que este dinheiro me permitiria fazer?  Viajar, comprar roupas caras, me esbaldar em itens supérfluos e descartáveis, comer todas as pizzas que quisesse e tomar cafezinhos à vontade.

Por isso, me sinto muito feliz em ser pobre.  Gastei meu dinheiro por prazer e com prazer.

E recomendo aos jovens e brilhantes executivos que façam a mesma coisa que fiz. Caso contrário, chegarão aos 61 anos com uma montanha de dinheiro, mas sem ter vivido a vida.”

 

Se por um lado significante parcela de pessoas gostariam de eliminar ou retardar os efeitos da velhice (rugas, óculos, barriga, careca… bengalas, cansaço, desânimo, cirurgias, remédios, fraldas geriátricas…) por outro, poucos querem abrir mão dos benefícios da velhice (sabedoria, conhecimento, erudição, experiências…). Carlos Drummond de Andrade disse: “Há duas épocas na vida em que a felicidade está numa caixa de bombons: infância e velhice”.  Alguém já disse que os velhos e as crianças se parecem muito. Eu creio. Ao menos ambos necessitam de mais atenção. Na juventude, pensamos em nós, em como extrair prazer da vida. Na maturidade, pensamos nos descendentes, em como proporcionar uma vida com mais chances de felicidade e sucesso para os filhos. Na velhice, voltamos a pensar em nós, em como torna-la menos pesada e onerosa e em como ainda extrair alguns prazeres da vida.

No capítulo 15 do Gênesis, o Criador fala o seguinte para Abraão: “Você terá uma velhice abençoada, morrerá em paz, será sepultado e encontrará seus antepassados no mundo dos mortos”. Incrível como Deus mira nos pontos certos:

1. Velhice abençoada: aponta para saúde, prosperidade, descendência encaminhada…

2. Morrerá em paz: aponta para duas coisas: 1º) que no fim deste filme a gente morre. Todos morreremos… e 2º) aponta também para uma morte sem dores, sem doenças, sem intrigas familiares, mas… Tranquilamente… Em paz!

3. Encontrará seus antepassados: aponta para o futuro, renovação das esperanças. O “fim” não é o fim, mas uma passagem, um recomeço. Reencontro!

 

Um ponto que me chama muito a atenção nos textos bíblicos do Pentateuco é como que muitas promessas divinas aos personagens estão focadas na descendência e na morte destes. Os grandes consolos de Deus estão em duas categorias:

  • DESCENDÊNCIA: Dizer que os descendentes serão abençoados, ou terão sucesso, ou serão numerosos.
  • VELHICE: Dizer que a velhice será com saúde e com paz; com direito a um sepultamento honroso e que haverá vida após a morte, onde se encontra os antepassados.

Deus consola o homem na promessa da continuidade existencial: rever quem já não mais existe e ter certeza que o que se construiu não se perderá.

 

De fato, o ser humano não está mesmo preparado para o fim abrupto. Se com a morte física tudo se extinguisse, a existência deixaria de fazer sentido, não apenas sentido metafísico, espiritual… Mas também sentido racional: pra que viver? Sem esperanças a vida fica dura demais!

A matéria prima da religião é a esperança. Esperança de futuro melhor, esperança que a morte é uma nova vida, esperança que vou rever quem amei no passado, esperança de paz… Com a esperança a existência tem mais sentido, menos peso e é mais feliz. Eu não suportaria viver sem esperanças.

A velhice é inexorável, por isso, quem quiser ser feliz, tem de desenvolver a habilidade de lidar com este estado de vida cada ano mais perto, queiramos ou não. Platão foi pessimista com relação ao envelhecimento e afirmou que “Deve-se temer a velhice, porque ela nunca vem só. Bengalas são prova de idade e não de prudência”. Já o Nobel Gabriel Garcia Marquez (autor de “Cem Anos de Solidão”) compartilhou uma experiência pessoal: “O segredo de uma velhice agradável consiste apenas na assinatura de um honroso pacto com a solidão”. Ambas as citações nos fazem pensar.

Talvez Deus esteja certo. Talvez o grande consolo dos velhos seja a esperança. A esperança de que somos especiais? A esperança que nossa descendência será bem sucedida e nosso nome não morrerá precocemente na história?

Esperança… Acho que maturidade boa é aquela cheia de esperança…

Talvez a esperança que as saudades de nossos avós e pais serão debeladas num encontro cheio de gargalhadas e abraços com os antepassados, e assim, eternamente contaremos e ouviremos estórias, ouviremos boas músicas e dançaremos de alma leve…

Luciano Maia

Outono’ 2014.

 




AMOR E ESPIRITUALIDADE

Amor-espiritualidadeA espiritualidade não se manifesta no retiro dos santos e na ruptura com os pecadores. A espiritualidade não se manifesta nas longas orações, nos dias de cultos, nos jejuns, nas vitórias contra os males, na seriedade do discipulado e no êxito em cumprir muitas ordenanças. Se assim fosse, Jesus, o próprio filho de Deus, teria fracassado em sua vida espiritual. Ele nunca se retirou do meio do povo e preferia a companhia dos pecadores. Não era um homem de ritos religiosos, e seus ritos pessoais não foram registrados, eram entre ele e o Pai somente. Não teve grande êxito contra o mal, contra a injustiça, aliás, morrendo vítima dela. Não foi exemplo no cumprimento das ordenanças religiosas de sua época e seus discípulos não eram as pessoas mais sábias e bem sucedidas de Jerusalém.

Tenho para mim que a espiritualidade se manifesta no amor não fingido. No amor sem interesse. No amor capaz de romper as barreiras religiosas, humanas, dogmáticas, ideológicas, sociais, raciais. No amor que nos faz iguais. Tá aí, a espiritualidade nos faz iguais! O homem espiritual não se sente menor por ser igual ao mais perverso pecador, nem maior por ter sido perdoado de seus pecados. O amor o faz igual a todos os outros homens. Jesus era um igual. Vivia com o povo, era um entre muitos, entretanto, na surdina, socorria pecadores, os amava, sentia-se parte e pedia para que não fizessem alarde dos muitos milagres. Não era assistência social, onde os que alçaram sucesso ajudam os pobres, mas uma mistura, o amor que os fez “um”, que os fez amigos. Esse amor faz com que todos saibam que são humanos, iguais, devedores uns dos outros. Devedores de Deus. O assistente social e o morador de rua, o empresário e o alcoólatra, o líder religioso e o drogado, todos igualmente devedores.

A simples existência desse amor não pode consertar o mundo. Se assim fosse, ele teria sido consertado há dois mil anos, quando o Amor se fez carne e habitou entre nós. Portanto, o problema não está na inexistência do amor, mas em que poucos se dediquem a conhecê-lo com profundidade. A maioria acredita que amor é ser atendido em suas necessidades emocionais e espirituais. Creem que amor é receber algo, ser abençoado, esquecem que amar é dar. Esquecem que o Amor, tendo todo poder, se entregou, sem lutas, sem reclamações.

Portanto, o amor não muda o mundo, mas muda aqueles que o conhecem. Esse é o ápice da espiritualidade: alcançar algo para si por doar tudo ao próximo. Talvez essa seja a única face de Deus que nos é disponibilizada assim, visível. Certamente é a única forma de reconhecer aqueles que são de Deus. Sem amor, não há Deus. Mesmo que haja ritos religiosos, severidade nas doutrinas e vitória sobre o pecado, a face de Deus continua oculta. Sem amor o homem pode progredir pela fé, pode vencer pela fé, pode prosperar pela fé, pode viver pela fé. Mas tudo que fizer acabará nele, e somente nele . Somente o amor pode alcançar a Deus. Como disse um certo João: “Aquele que não ama não conhece a Deus; porque Deus é amor.”




Com Viver !


ENSIMA-ME-A-CONVIVER-PAZ

Igreja não é o lugar, é a convivência. É o viver com, viver conjuntamente, viver com o outro. É o viver que compartilha quem se é, é o viver que reparte o que se tem, é o viver que recebe o que o outro tem, é a vida junto com outras vidas e é, sobretudo, o viver completo.

Gente que, livremente, escolhe amigos do Caminho de Fé para compartilhar a sua vivência, suas dores e alegrias, incertezas e certezas, falhas e acertos.

A Igreja de Cristo não é algo que se vai, mas é o que se torna. Cristo nos torna a sua Igreja, o seu povo, a sua família, a sua comunidade. Em Cristo, todo o ser de Deus convive em nós e através de nós, e a este fato denominamos IGREJA.

Portando, no sentido rigoroso da palavra, não vamos à Igreja, simplesmente nos reunimos e nos encontramos como IGREJA (irmãos, família, povo). Exemplo disto é a diferença entre casa e família: mesmo que dentro de uma casa morem 10 pessoas, não podemos chamar tal ajuntamento de família, pois família é caracterizada pela ligação entre as pessoas. Nem sempre uma casa é sinônima de uma família.

Assim, o que nos caracteriza como a Igreja de Cristo é o sermos ligados uns aos outros em amor, por termos compreendido a mensagem de Cristo, e tendo este compromisso mútuo nos encontramos, reunimos, realizamos atividades e afazeres em conjunto. Nem sempre reunimos na mesma casa, nem sempre temos casa, mas sempre somos família de Deus.

Encontre-se mais, reúna mais. Abra sua casa e convide a sua família em Cristo para nela estar. Compartilhe sua vida! Escolhas amigos de fé para compartilhar suas dores. Ore com as pessoas! Convide-os para orar por você. Participe dos encontros semanais agendados, das reuniões em Pequenos Grupos. Abra a Bíblia, leia-a junto com seus irmãos. Seja Igreja! Seja povo! Seja Família! Assim sendo, nem todo o inferno com seus demônios poderá nos deter ou impedir.

“e as portas do inferno não prevalecerão contra a minha igreja.” (JESUS, Evangelho Segundo Mateus 16:18)

Marlon Camacho
Agosto/2014




O Pai é Nosso !

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O que Deus diz como sendo ‘nosso’, não serve como ‘meu’. O que Deus chama e diz que é ‘meu’, não posso falar que é ‘nosso’. O amor é nosso, o crer é meu. Cristo é nosso, o seguir sou eu. O Pai é nosso, o pão é nosso, o perdão é nosso, a verdade que liberta é a verdade de todos nós.

‘O pão’ sendo nosso, o carro, a casa, o salário e a conta também são ‘nosso’, e não posso chamá-los de meu! Pois quando compro, vendo, como, guardo ou gasto, assim o faço em relação a todos, pois todas estas coisas foram dadas pelo Deus nosso, para cuidarmos e governarmos, de tal forma que alcançasse e suprisse a todos.

O perdão é nosso! Pois se não perdoar ao outro, não sou perdoado. Assim como a graça, misericórdia, bondade e mansidão de Deus não são para mim, são para nós. Igualmente dispensada sobre todos nós, de tal forma que se por algum motivo eu privar um destes elementos do outro, eu o estarei privando de mim mesmo. “É nóis na fita”, sempre!

Quando requeremos uma graça e misericórdia para o “meu pecado” que difere da graça e misericórdia exercida para o pecado do “outro”, não estamos apenas privando o outro da vida plena em Deus, mas a nós mesmos. O perdão das ofensas/dívidas não é um direito que você conquistou por ter “aceito a Cristo” ou por fazer parte da religião correta, mas a maior dádiva que Deus deu a NÓS, todos NÓS. Dádiva esta que além de perdoar nos transforma em ‘perdoadores’.

Impressionante como tornamos aquilo que é plural em singular, buscamos o Deus que chamamos de ‘meu deus’, para suprir o que imaginamos ser a ‘minha necessidade’. Como esta oração é maligna em sua essência: “Deus meu me dê meu carro, minha família, meu sonho, meu recurso, meu filho, minha realização, meu sucesso, minha libertação, meu livramento, minha prosperidade, meu reino.”

Se você quer ganhar estas coisas que tem chamado de “meu/minha”, não as peça para Deus, pois Ele somente dará o que é “nosso/nossa”. O especialista em dar o que pode ser “seu/meu” é o Diabo, é ele quem diz: “Tudo isto darei a VOCÊ, se você se prostrar e me adorar” Mateus 4:9

Quantas vezes estamos cedendo a esta proposta de Satanás, buscando em Deus o que ele não nos dá! Como Jesus fez, quero declarar: “Retire-se, Satanás! (Mateus 4:10)” não buscarei o que pode ser meu, mas compartilharei o que o “Pai nosso” já deu para ser nosso.

Não chamarei de meu, aquilo que é nosso. Assim seja, seja assim!

Marlon Camacho
Março/2013

“Pai nosso, que estás nos céus! Santificado seja o teu nome.
Venha o teu Reino; seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu.
Dá-nos hoje o nosso pão de cada dia.
Perdoa as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores.
E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal, porque teu é o Reino, o poder e a glória para sempre. Amém”.
Mateus 6:9-14




PARE COM PARADIGMAS: ENXERGUE LONGE!

As maiores lutas que vivemos diz respeito a nossos paradigmas, nosso jeito “certo” de ver e de fazer coisas.
Se tinha algo que Jesus não gostava era da religiosidade, ou seja, o hábito de criar paradigmas (transformar hábitos em dogmas).
Paradigmas são prisões que nos impedem de enxergar longe.
Ao contrário, Ele era mestre em fazer as pessoas enxergarem além dos costumes religiosos e assim apresentava uma forma de viver o Reino de Deus de maneira leve.
“Venham a mim aqueles que estão cansados e sobrecarregados que eu vos aliviarei”.
Jesus trás alívio e leveza. Mostra um tipo de religião que não exige esforço ou sacrifício: Ele já sacrificou-se.

Quantas pessoas que não se aproximam de Jesus por medo da religião?!

Como fruto do meio e de nossas experiências, vamos criando formas de pensar e agir que se perpetuam em nossas vidas, assim, não apenas qualidades, mas também defeitos cristalizam-se, conceitos convertem-se em verdades e nos perdemos numa miopia existencial.

Jesus foi uma pessoa que viveu quebrando paradigmas. Inúmeros. O jeito dos religiosos verem e fazerem as coisas foi subvertido pelo discurso de Jesus. Ele ousou quebrar todos os paradigmas humanos.

Uma pena que o cristianismo não tenha conseguido fazer a mesma coisa que Jesus, mas ao contrário, em nossa limitada capacidade de imitar o Mestre, muitas vezes pensamos que estamos sendo livres como Cristo, mas, na verdade, estamos criando novos paradigmas que aprisionam.

Jesus falou que devemos perdoar o outro sem reservas: “Dar a outra face” é uma loucura em qualquer cultura humana, pois quebra o paradigma básico da justiça humana: Olho-por-olho!

Jesus disse também que se quisermos fazer alguma diferença no mundo, devemos servir ao outro e AMAR nosso vizinho do mesmo jeito que nós nos amamos. E assim ele foi quebrando paradigmas humanos, pois Ele ainda diz que amar nossos familiares não significa absolutamente nada, não é um mérito, pois este é um comportamento natural e instintivo, mas se quisermos ser bons, devemos AMAR nossos inimigos.

Cara! Quanta quebra de pardigmas podemos encontrar no discurso do amor radical de Cristo.

A Igreja, após Cristo, obteve sucesso em promover a mensagem de Dele, mas não obteve tanto sucesso em reproduzir o seu comportamento, ao contrário, caminhou criando paradigmas. O pior paradigma é o paradigma da religião, pois acaba virando dogma. Comportamentos, usos e costumes que são sacralizadas.

Quando um paradigma é sacralizado, vira um dogma de fé e quem ousar quebrá-lo, torna-se herege, pois o paradigma passou a ser considerado um ‘costume santo’.

Logo que eu iniciei meus estudos teológicos, uma amiga muito querida olhou para mim e disse que eu não tinha “perfil” para ser pastor, pois eu era muito “moderno”. Eu apenas ri e brinquei muito tempo com ela sobre esta questão. Mas o que ela disse representa o paradigma de muitas pessoas sobre o ministério pastoral. Ainda hoje, muitos olham para minha forma de vestir, pensar, falar, viver e analisam (outros poucos olham e dizem): “Mas você não tem ‘jeito’ de pastor”!

Me divirto com estes paradigmas!

Jesus quebra os paradigmas! JESUS ENXERGA LONGE!

Jesus não faz acepção de pessoas, ele também aceita os pastores cafonas, da mesma forma que ele aceita os elegantes. Ele também aceita os crentes conservadores, assim como aceita os crentes modernos. Ele aceita os pecadores da mesma forma que ele aceita os demais, os que supõem serem melhores. Ele veio para os que pensam serem sadios, assim como ele veio para os doentes.

Enxergo inúmeros paradigmas na Igreja Metodista (a que pastoreio): Costumes que viraram dogmas e foram santificados.

Nossa missão é fazer o que Cristo fazia: não preocupar-se com as instituições humanas, mas enxergar longe, quebrando paradigmas para a implantação do Reino de Deus, que é leve!
A religião não é Deus, mas uma instituição. Vejam neste filme como que os paradigmas podem atrasar as vidas das pessoas e instituições. Muitas vezes temos levada nossas vidas sem enxergar além.
O Reino é leve! Se é pesado, não é Reino de Deus

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Qual o segredo para receber a “bênção”?

Afinal, prosperidade é resultado das escolhas e do trabalho de cada um – prêmio pelo esforço e pelo empenho pessoal – ou é o resultado de uma relação metafísica, na qual, por algum critério divino, alguns são pré-selecionados para serem abençoados e outros destinados à dor ou ao fracasso?

Esta não é uma pergunta que se responda de maneira simples. Afinal, sendo verdadeira ou a primeira ou a segunda resposta, isto fará com que o indivíduo ou se dedique ardentemente ao trabalho, convertendo-se num workaholic e mandando um dispensável e anacrônico Deus às favas, ou a pessoa se devotará ao divino criador, convertendo-se num religioso contumaz, em busca de merecimentos aos olhos do Supremo Ser.

Já disseram que “Deus ajuda a quem cedo madruga” e se olharmos estatisticamente, Deus abençoou financeiramente mais quem trabalhou e/ou estudou mais. Estas asseverações, por meio de elegante ironia, mostra que a “bênção divina” está relacionada às nossas escolhas e atitudes.

Antes de tudo, importante é que definamos o que é “bênção”. O ser humano vive num mundo real e material e por isso entende a bênção como algo palpável, materializado, portanto, não raro, muitos se consideram abençoados (ou entendem que o outro é abençoado) quando o aspecto financeiro é notadamente próspero. Como somos matéria, entendemos que bênção é matéria. Portanto, é comum chamar uma pessoa financeiramente próspera de “abençoada”. Especialmente nestes tempos de apostasia da fé, em que “ter” tornou-se mais fundamental que “ser”, até líderes religiosos passaram a estimular fiéis a serem pessoas materialistas, hereticamente encarando a divindade como o Banco Mercantil Espiritual, no qual deposito hoje para sacar com juros amanhã. Assim, vida religiosa ocidental tem se convertido em um tipo de investimento financeiro, um seguro-futuro.

 

Contudo, bênção divina é o cuidado e a proteção de Deus sobre a vida de uma pessoa ou grupo. A bênção pode incluir a vida financeira de alguém, mas a bênção divina manifesta-se por meio das outras áreas da vida, como boa saúde, paz no lar, reconhecimento profissional, inteligência.

Bênção é não ficar doente para não sentir dores e não desperdiçar energia, tempo e dinheiro com remédios e tratamentos.

Bênção é receber flores do marido, com um bilhetinho escrito à mão “Eu ainda te amo!” vinte anos depois de ter descido do altar.

Bênção é o chefe, debaixo de sinceros e emocionados aplausos dos colegas de trabalho, entregar na confraternização de fim-de-ano um certificado de Profissional Modelo.

Bênção é conseguir entender a piada de primeira! Ser acordado com o beijo da mãe… Não poder fazer festa de aniversário mas, de surpresa, a casa ficar repleta de amigos carinhosos!

Bênção também pode ser um carro novo, um tênis da moda e um contra-cheque que comporta todos os sonhos… Mas isto não é tudo, pois tem pessoas que são tão pobres, mas tão pobres, que tudo o que elas têm é dinheiro…

Se analisarmos a bênção apenas como uma manifestação financeira de prosperidade, daí podemos dizer que quanto mais estudamos e quanto mais trabalhamos, mais abençoados seremos. Isto é uma verdade.

Quem trabalha mais e se esforça com afinco constrói bases sólidas sobre as quais erguem-se mais oportunidades e melhores salários. Portanto, digo: quer dinheiro? Trabalhe e estude!

Ao analisarmos a bênção como algo integral, que pode atingir não apenas o bolso mas o ser humano em sua totalidade, problematizamos a questão e ampliamos o foco de análise.

Neste contexto, bênção deixa de ser uma escolha pessoal (como trabalhar ou não), mas um dom vindo do céu para o homem.

A bênção não é democrática e neste ponto muitos desistem de Deus, por crerem serem eles mais merecedores das bênçãos que outros.

Alguns são mais inteligentes.

Algumas são mais bonitas.

Alguns são mais altos.

Algumas são mais bem-humoradas.

Alguns aprendem rapidamente seu trabalho.

Algumas não têm dificuldade em serem éticas…

Infelizmente não somos pessoas idênticas, não há democracia na distribuição de boas características pessoais e cada um tem de lutar com suas características negativas (que podemos chamar de pecado). Estas características boas e ruins formam um ser único, cheio de oportunidades únicas. Ainda assim, alguns serão mais bem dotados que outros e, nesse ponto, não há escolhas. Aqui dependemos da bênção divina.

Assim:

“Eu descobri mais outra coisa neste mundo: nem sempre são os corredores mais velozes que ganham as corridas; nem sempre são os soldados mais valentes que ganham as batalhas. Notei ainda que as pessoas mais sábias nem sempre têm o que comer e que as mais inteligentes nem sempre ficam ricas. Notei também que as pessoas mais capazes nem sempre alcançam altas posições. Tudo depende da sorte e da ocasião.”

Rei Salomão (em Eclesiastes 9:11)

Ainda que sejamos os mais bem preparados, mais inteligentes, mais corajosos, mais fortes ou mais bonitos, nem isto é garantia de sucesso.

Dependemos da bênção de Deus todo o tempo, pois “tudo depende da sorte (bênção) e da ocasião”!

 

Costumo dizer que existe o que chamo de “ambiente de bênção”, ou seja, quando nós damos para Deus as condições favoráveis para ele nos abençoar. Como criar este “ambiente da bênção”?:

  1. Nos afastando do mal (pecados: desonestidade, ira, vingança, arrogância…),
  2. Trabalhando, estudando e aperfeiçoando,
  3. Buscando conhecimento,
  4. Mantendo paz com todos,
  5. Lendo a Bíblia, onde há grandes tesouros ocultos que nos dá sabedoria para viver,
  6. Conversando com Deus: ore e conte para Deus o que você quer ou precisa e diga para Ele que você acredita que depende Dele (Se você crê que não precisa pedir nada, portanto, você não precisa da bênção divina e este texto não faz qualquer sentido para você. Neste caso, caminhe sozinho, sem buscar a bênção de Deus)

 

Portanto, no que de nós depender, façamos a nossa parte.

Nos compete nos prepararmos e trabalharmos.

Nos compete nos alimentarmos adequadamente e cuidar da nossa saúde.

Nos compete sermos honestos nos negócios.

Nos compete sermos amáveis com os pais, irmãos, filhos e amigos, ou seja: “No que depender de vocês, façam todo o possível para viver em paz com todas as pessoas” (Paulo, em Romanos 12:18).

Não se esqueça que a maioria dos nossos problemas são criados por nós mesmos. Evitar o pecado automaticamente atrai a bênção!

Assim criamos o “ambiente da bênção”, ou seja, as condições para que Deus nos guie e diante de nós abra (de forma misteriosa, mística e não compreensível) portas e caminhos de bênção.

 

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E como de costume, um delicioso filme publicitário para relaxar, que fala da bênção de envelhecer juntos…