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Pedalando na Fé

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Em uma manhã como essa, há cerca de dezessete anos, meu pai resolveu me levar
para andar de bicicleta. Naquele dia seria diferente, ele havia tirado as rodinhas e sua
intenção era das melhores – finalmente me ensinar a andar de bicicleta sem elas. Após
estacionar o carro e colocar a pequena bicicleta em minha frente, me ajudou a subir e
nesse momento, lembro-me de apenas algumas cenas. Elas aconteceram mais ou
menos assim:


É justamente deste momento que me lembro tão bem, do vento me abraçando, me
dando boas vindas, da bicicleta se tornando parte de mim, como se toda minha curta
vida, que não passava do que hoje seria mais ou menos nossa espera pela próxima
Olimpíada, se resumisse naquele inédito momento. Um momento que era para muitos,
apenas alguns minutos de uma manhã de um ordinário domingo do começo dos anos

Bibi, você deve se posicionar bem. Deixe seus pés sempre nos pedais e não
incline a bike nem pra um lado nem para o outro, está bem?

Tá bem. – respondi animada.

Tá confortável o assento? Vou erguer um pouco mais o banco, ok?

Ok. – e sai, esperando que ele consertasse o assento para que eu finalmente
pudesse andar livre (o sonho de todos nós, não é mesmo?), sem as lentas e
incômodas rodinhas.

Beleza, pode montar de novo.- respondeu, assegurando que eu estava
preparada.

Beleza, pai. – e com um balançar vertical da cabeça saí pedalando.

Meu pai narra essa história com muita felicidade, como se ainda estivéssemos
ali: “Você saiu andando como se já tivesse nascido sabendo” – ele lembra. – “Fiquei tão
impressionado, pensei para mim mesmo: nunca vi isso…”
Comicamente, naquele pátio de estacionamento não havia “quaisquer obstáculos”.
Era perfeito para o treino de pedalar em uma reta, sem ter com que se preocupar.
Entretanto, como às vezes são com as coisas boas, elas parecem durar pouco. Bem,
eu disse que não havia quaisquer obstáculos, não foi? Pelo menos foi isso que meu pai
pensou, quando viu um estacionamento tão grande, com apenas um postezinho de luz
no meio. E adivinha? Foi justamente na direção dele que eu fui pedalando.
Meu pai via sem acreditar a agulha no palheiro que representava aquele poste, tão
longe de onde ele havia me “despachado”, cada vez mais perto da pequena bicicleta.
Ora, eu havia me posicionado bem, estava me equilibrando com tamanha destreza
própria do Cirque du Soleil. Meu foco estava na bicicleta, na desenvoltura técnica, no
desempenho, e não na minha direção… e booft boom!


Certamente não vivemos com um cartão de imunidade à vida; infortúnios acontecem,
erros acontecem, acidentes acontecem. É a maneira como reagimos que nos edifica
fazendo com que nossos obstáculos resultem em crescimento, testando sobretudo
nossa fé.


Na Física, muito do que se move pode ser expresso por um vetor. Vetores são
caracterizados por terem módulo, direção e sentido. Assim também é com a grandeza
de nossa fé. Não adianta equilibrar-se, “fazer milagres”, e não ter a visão de entender o
que está à sua volta e dentro de você. Como está o vetor de sua fé?
Quantas vezes você já esteve em um momento assim? Em que parece que
tudo está dando tão certo e algo tão pequeno vem e causa uma mudança tão grande.
Talvez esse contexto que vivemos seja um exemplo. Ora, como algo microscópico
como um vírus pode ocasionar uma reviravolta que freia nações, deserta ruas e
comércios e faz com que até os canais de Veneza antes poluídos convidem golfinhos?!
Algo tão pequeno que fez com que a Monalisa não visse seus milhares de visitantes
diários, e agora, após pouco mais de um ano de pandemia, que o mundo inteiro
ansiasse pela mesma coisa – o fim dessa época e a “volta ao normal”.
Apesar de todos nossos esforços como sociedade, de nossas amarguras e
conquistas, só nosso Deus continua sabendo de todas as coisas! Mais do que tudo isso

Ele nos ama e tem cuidado de nós! Assim como meu avô gostava de falar e pintar:
“Jesus te ama!” Na última ligação que tive com ele, em agosto do ano passado,
perguntei se gostaria que eu tentasse levar uma bíblia, ou alguma coisa que o poderia
alegrar, mas o protocolo do Hospital de Campanha do Mané Garrincha naquela época
não permitia a entrada de objetos. No entanto, ele disse algo que nunca vou me
esquecer: “Minha filha, não se preocupe, eu estou passando o dia me lembrando de
tudo o que eu estudei na minha Bíblia. Lembro-me das passagens, dos versículos; são
neles que empenho meu tempo recordando.” Esse tempo está aqui com um propósito.
Não é apenas um mero postezinho.


Para termos fé, temos de ter uma visão do que é a fé. Temos que entender que ela
é um Dom de Deus. Para mover montanhas, aprendi que precisamos conseguir
enxergá-las primeiro, mesmo que seja apenas em nossos corações. Meu avô me
ensinou isso e aplicou esse tema em sua vida de diversas maneiras. Ele sempre
ofertava seu tempo e recursos no evangelismo juntamente com minha avó. Em suas
placas, que pintava com tanto amor, imprimia além de dizeres bíblicos – sua fé! Não
sabia quem as veriam, como elas tocariam o coração dos passantes leitores, mas ele
estava respondendo seu chamado! Diante de tudo isso, entendemos que essas experiências são muitas vezes formas que Deus escolhe para se comunicar conosco, para nos ensinar e guiar. Isso me
lembra que já passei por tantos perrengues com minha família no estrangeiro, por
incontáveis mudanças de cidades, conheci tantas pessoas… Tenho saudades dos


meus irmãos juntos, saudades de pessoas que já se foram, saudades as vezes até
daqueles grandes tombos, que ainda levo, aprendendo a falar, escrever e ler a língua
portuguesa corretamente.


Todos nós passamos por postezinhos dos mais variados na jornada de nossa fé.
Hoje posso tranquilamente dizer com relação a isso: – Ainda bem! Obrigada Senhor
pelo privilégio que é ser direcionada pelo Teu querer e não pela minha vontade.
Por fim, existem tantas outras coisas, que por ventos, pedrinhas, postes e conflitos acabaram não acontecendo – graças a Deus por isso! Tudo teve seus próprios motivos.
Deus estava me ensinando a andar de bicicleta, a Pedalar na Fé. Certamente, Ele
estava me direcionando e me levantando para um caminho de esperança, verdade,
felicidade, abundância de vida, amor, amizade, comunhão, justiça, perdão, misericórdia
e claro, de muitos desafios e sacrifícios!


É essa vitória que também desejo para você! E então? Vamos Pedalar na Fé?

O que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé.
1 João 5:4

Ana Adib

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