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A BÊNÇÃO NÃO É DEMOCRÁTICA?

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Nosso café da manhã de hoje foi uma daquelas raras oportunidades de sentar-se à mesa para um longo bate-papo qualificado sobre os mistérios da vida. O assunto era porque pessoas socio-culturalmente semelhantes podem ter trajetórias de vida tão distintas. O tema é vasto! Um dizia: “não gosto que me chamem de privilegiado, pois nada ganhei de mão beijada, ao contrário, sempre trabalhei mais de dez horas por dia nos últimos trinta anos…” Outro refutava: “o simples fato de você ter trabalho já é um privilégio”. Outro ainda: “Creio que para um ter, outro tem de perder”.

 

Refutei esta última opinião e asseverei que não creio que quem tem necessariamente tirou de alguém, pois no mundo atual, podemos produzir algo novo, do zero, sem ter que tirar de ninguém, e como exemplo, falei da rede social (Facebook, por exemplo) que foi um invento do nada, pela inteligência e perspicácia do inventor (Mark Zuckerberg), ele não apenas ficou rico, como gerou milhares de empregos, impostos e aumentou a riqueza de inúmeras famílias que hoje tem trabalho. Tentei explicar que dinheiro é “criado” quando se cria produtos e serviços que antes inexistiam, mas é difícil tanto explicar quanto entender esta Lei da Economia. Uma forma de exemplificar de maneira irrefutável é analisando o volume de dinheiro em circulação:

– Quando estávamos nascendo, em 1965, o volume total de dinheiro em circulação era de 40 bilhões de dólares;

– Em 1995 (quando nossos filhos eram criança) o volume em circulação já era dez vezes maior:  400 bilhões de dólares;

– Hoje termos em circulação 2 trilhões e 400 bilhões de dólares em circulação (“apenas” 2 trilhões a mais);

(Fonte: https://fred.stlouisfed.org/series/MBCURRCIR)

Ou seja, para suprir a demanda, o dinheiro foi sendo “criado” conforme os serviços e produtos foram sendo produzidos. Apesar de toda desigualdade social atual, vivemos o momento de maior prosperidade na história de toda a humanidade. Nunca se comeu tantas calorias por dia, nunca se teve tanto acesso a tantos recursos. Nunca circulou tanto dinheiro. Um trabalhador de hoje é mais rico que Napoleão Bonaparte, que tinha barras de ouro guardadas no subsolo, mas não tinha penicilina, nem Tylenol, nem água quente encanada, luz elétrica ou viagens confortáveis de ônibus: a realeza tinha luxo, mas não conforto. Só este parágrafo pode ser a base de um grande debate, mas não é nosso foco.

 

O bom (ou ruim) desta conversa é que não se chega num consenso facilmente. Quando o debate é com pessoas sensatas, ninguém cancela ninguém, ninguém levanta a voz e ninguém quer ter a razão via fórceps, pois sabe que em relação aos mistérios da vida, o que vale é a prospecção, pois a verdade ainda está oculta. Ao redor da mesa, todos eram pessoas que tinham iniciado a vida em escassas condições financeiras e todos ali haviam conquistado vida confortável. Qual o mistério? Porque pessoas socio-culturalmente semelhantes podem ter trajetórias de vida tão distintas? Particularmente penso que tudo é fruto da Graça de Deus. Creio que o Mistério de Deus nos coloca no lugar certo na hora certo, mas dependerá de cada um abraçar ou não as oportunidades que aparecem em seu caminho. De fato, nenhum preguiçoso mudará para melhor a história sua ou da humanidade. Para quem não é herdeiro ou pensionista, construir e evoluir sempre exigiu uma boa dose de esforço, persistência, insistência, disciplina e trabalho.

 

Conversava com uma nova amiga que me contava animadamente a vida de seu finado pai e como ele chegou elevado cargo no governo. Disse-me ela que lá pelos idos da inauguração da nova capital, seu pai trabalhava na Novacap. Belo dia ele atende uma moça que lá estava para resolver uma questão do seu lote; durante a conversa, ela reclamou muito pois quem construiu a piscina dela fez algo errado e não parava de vazar água e tal. Sem nada dizer, após ela ir embora, ele anotou o endereço, dirigiu-se até a casa dela, arrumou o vazamento da piscina e foi embora, sem nada cobrar por aquela gentileza. Dias depois ela retorna na Novacap acompanhada do pai dela, que fazia questão de conhecer aquela boa alma e se apresenta dizendo: “Obrigado pelo favor que você prestou à minha filha. O Brasil precisa de homens como você. Meu nome é José Sarney. O que você acha de ser Governador do DF?”  O resto é história… Uma gentileza que anos depois virou um mandato.

 

Li sobre um cara que, mesmo sendo ele presidiário, soube aproveitar a pequena oportunidade que a vida lhe deu. Dizem que bandido bom é bandido morto, mas este em questão deu sorte, e ainda estava vivo. O crime dele foi estupro, porém como a maioria, jurava que as provas eram inconsistentes e que havia sido condenado injustamente, por um crime que não havia cometido. Contudo, como nestes casos a palavra da mulher tem mais peso nos tribunais, a razão ficou com a suposta vítima. Este cara soube fazer amizades certas dentro do presídio, que foram muito úteis a ele no futuro. Um dos colegas de cela cumpriu sua pena e retornou para o convívio da sociedade. Teve um dia que o patrão deste colega solto estava muito angustiado, pois tinha sonhado e não sabia do que se tratava. “Patrão, conheci um cara na cadeia que faz interpretação de sonhos e nunca errou!”. O resto já sabemos, dia seguinte, José estava frente a frente com o poderoso Faraó do Egito e revelou-lhe o sonho! Mas José foi além disto, ele também fez Marketing Pessoal, ao dizer para Faraó: “…Portanto, Faraó, agora arrume um cara esperto, tipo eu assim, para cuidar dos seus negócios!” Deu certo! Este também foi contratado como Governador. Ele estava no lugar certo, na hora certa, estava preparado e soube aproveitar a oportunidade. Dois governadores pelo acaso… Ou pela bênção? E você, o que acha? A bênção é ou não democrática?

 

 

Luciano Maia

Agosto’2023

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