“Lembro-me da minha aflição e do meu delírio, da minha amargura e do meu pesar. Lembro-me bem disso tudo, e a minha alma desfalece dentro de mim. Todavia, lembro-me também do que pode dar-me esperança. Graças ao grande amor do Senhor é que não somos consumidos, pois as suas misericórdias são inesgotáveis. Renovam-se cada manhã; grande é a tua fidelidade! Digo a mim mesmo: A minha porção é o Senhor; portanto, nele porei a minha esperança.”
Imaginem como seria:
- O mundo se não houvesse novas oportunidades.
- A sua vida se você não pudesse voltar atras e começar de novo.
- A sua vida se todas as suas decisões fossem definitivas e irreversíveis.
É verdade que algumas consequências do nosso passado são, de fato, definitivas e irreversíveis, mas nós não somos condenados a ser as mesmas pessoas para sempre. Então, como seria a sua vida se você não pudesse voltar atras e começar novamente?
Primeiro, nós estaríamos condenados a viver aprisionados pelos erros cometidos no passado (erros não são necessariamente pecado).
- Erramos porque não somos perfeitos, nós não nascemos prontos, nós estamos aprendendo.
- Erramos porque decidimos mal, porque julgamos mal, porque não tínhamos todas as informações.
- Erramos porque não fomos capazes de avaliar corretamente a situação.
- Erramos porque confiamos nas pessoas erradas, confiamos em suas palavras, acreditamos em suas promessas.
Assim, se não tivéssemos a oportunidade de rever decisões tomadas não teríamos a oportunidade de consertar as coisas, de rever decisões tomadas.
- Sim, é verdade, eu decidi me mudar para Curitiba, mas agora vou voltar para Brasília. Não deu certo.
- Sim, é verdade, eu decidi comprar esse carro, mas não gostei e agora eu vou vende-lo.
Então, se não tivéssemos novas oportunidades, nós estaríamos condenados a viver nas mesmas circunstâncias do passado, em razão dos erros que cometemos.
Segundo, se não tivéssemos novas oportunidades nós estaríamos condenados a viver aprisionados pelos pecados cometidos no passado.
- Sabíamos que aquilo era errado, sabíamos que não deveríamos fazer, mas escolhemos fazer, fizemos mesmo assim
- Fizemos talvez pensando que depois conseguiríamos arrumar, conseguiríamos dar um jeito, mas não teve jeito de arrumar. Pecado é assim, não dá para arrumar.
- O pecado desencadeia um processo que foge do nosso controle.
Então, sem novas oportunidades, estaríamos condenados a viver vitimados pelos pecados cometidos no passado.
Terceiro, se não tivéssemos novas oportunidades nós viveríamos uma vida solitária, vida de solidão.
- Na dinâmica das relações humanas, dos relacionamentos, é inevitável que aconteçam esbarrões, encontrões e aí, como consequência, surgem feridas, arranhões, quer por palavras, atos, gestos, olhares, omissões.
- Então, imagina se não pudéssemos fazer essa viagem no tempo, de volta ao passado, e viver a experiência do arrependimento, do perdão e da reconciliação, e, então, dizer:
- Por favor, não leve mais em consideração aquilo que eu lhe disse, que eu lhe fiz.
- Me perdoe!
- Eu me arrependo de ter feito o que fiz, de ter dito o que disse, de ter me comportado daquela maneira
- Por favor, me perdoe!
- Me dê uma outra oportunidade, vamos nos reconciliar, eu sinto muito a falta da sua amizade
Então, se não tivéssemos oportunidades de reconciliação, nós viveríamos uma vida de solidão porque teríamos afastados de nós, do nosso convívio, das nossas relações, as pessoas que amamos.
Mas o que nos ensina a Bíblia Sagrada?
- Jesus disse que devemos perdoar quem nos ofende, não apenas 7 vezes, mas 70 x 7 (Mateus 18:22)
- Tem muitas oportunidades de recomeço porque Deus oferece essas muitas oportunidades, de modo que, assim como queremos ser perdoados, também devemos perdoar, como ensinou Jesus “Perdoa as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores.” (Mateus 6:12)
Então, se não fossem as novas oportunidades concedidas por Deus, nós viveríamos de lamentações e apenas de lamentações, porque não haveria nada a se fazer. Apenas olhar para trás e dizer: Ah! que pena! Lamento muito tudo isso que aconteceu, mas não há mais o que fazer!
Em determinado momento do seu lamento, o Profeta Jeremias diz assim: Eu me lembro da minha aflição e do meu delírio, da minha amargura e do meu pesar. Sim, me lembro de tudo, e quando eu me lembro de tudo isso a minha alma desfalece dentro de mim. Mais aí ele completa: Mas também tem uma coisa que me lembro, eu me lembro daquilo que pode me dar esperança.
E o que é que nos pode trazer esperança? São as inesgotáveis misericórdias do Senhor, que não apenas impedem de não sermos consumidos, como também nos proporcionam novas oportunidades de recomeço. Quem vive se lamentando, quem vive de lamentação, vive em função do passado. Quem vive de esperança, vive em função do futuro.
Então, sim, eu enxergo o que eu fiz lá atrás e me dói quando me recordo do que fiz. Eu enxergo as decisões, os erros, os pecados que cometi por atos ou por omissões, eu enxergo tudo isso, mas eu não vivo olhando para trás, eu não vivo olhando para o passado, e não vivo olhando para as circunstâncias da minha vida e me lamentando pelo que aconteceu.
Eu vivo baseado nas inesgotáveis misericórdias do Senhor, que se renovam a cada manhã, e são a causa de eu não ser consumido. São as inesgotáveis misericórdias do Senhor que me dão esperança de que as coisas, as circunstâncias, minhas relações podem mudar, eu mesmo posso mudar. Por isso, eu não vivo me lamentando e olhando para trás, olhando para o passado, mas posso olhar para o futuro com essa esperança.
As misericórdias de Deus é que nos chamam para a reconstrução. Elas criam para nós um ambiente que nos dá novas oportunidades, onde estão presentes o arrependimento, o perdão e a reconciliação. Quando o Profeta Jeremias diz que as misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos é porque Deus, por ser misericordioso, concede, a cada um de nós, oportunidades de reconstrução, de nos olharmos no espelho, de nos enxergarmos, de percebermos nossas circunstâncias e situações e escolhermos novos caminhos e nos submetermos a processos de mudança.
Entretanto, muitas mudanças não vêm com tranquilidade. Geralmente, mudamos quando somos obrigados a mudar. Quando não tem mais jeito a gente muda. A gente adia e atrasa até uma tragédia, um diagnóstico fazer a gente mudar. Só mudamos em último caso. E essa mudança tardia pode vir acompanhada de sofrimento, dor e devastação. Mudar somente quando se é obrigado a mudar, a gente não muda, a gente é mudado. Mas as misericórdias do Senhor são o chamado de Deus para a gente mudar antes do “leite derramar”.
Então:
- Não espere que as circunstâncias, que outras pessoas, que a mão de Deus obrigue você a mudar.
- Escolha mudar e viver a possibilidade, dada por Deus, de ser diferente, de fazer diferente.
- Tenha coragem para se ajoelhar e falar assim:
“Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me, e conhece os meus pensamentos. E vê se há em mim algum caminho mau, e guia-me pelo caminho eterno.”
Salmos 139:23-24
Carlos Souto, Outubro/23