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Sobre Sonhos

ELE

O ano era 1985 e o mês era dezembro, o que para mim era um pesadelo. Apesar de eu sempre carregar estampado na cara um persistente e maroto sorriso, tratava-se apenas de uma camuflagem social, para atrair vítimas ou tentar resgatar algum benefício sendo simpático: essencialmente um meio de sobrevivência de um jovem órfão de 17 anos de idade. A angústia que me abatia era por conta da proximidade das festas natalinas, pois o último mês do ano era pouco festivo, pois além de lembrar-me que eu não tinha nem onde nem com quem passar o Natal, ainda por cima era aniversário do suicídio de minha mãe, há exatamente uma década.

ELA

O ano era 1989. Eu era uma garota de 18 anos que havia acabado de chegar em Brasília para iniciar meus estudos na UnB. Morava com uma família de amigos com 4 filhos jovens como eu. Em um domingo à tarde, saímos todos para passear de bicicleta pela bela cidade enquanto eu admirava e absorvia a beleza da paisagem à medida em que pedalávamos pelas ruas largas e arborizadas da Capital. Atravessamos uma ponte e entramos em um bairro lindo – muito verde, amplo, organizado, com casas maravilhosas. – Que lugar é esse? Perguntei aos meus amigos. – Aqui é o Lago Sul, respondeu um deles. – Nunca vi nada tão lindo. É aqui que eu quero morar, pensei eu. E seguimos em silêncio curtindo a beleza daquele bairro enquanto eu sonhava com o meu futuro na nova terra cheia de possibilidades.

ELE

Minha namorada à época, sete anos mais velha, também era sozinha na cidade. Ela trabalhava numa loja de roupas bem chique no Parkshopping, não me lembro se era Caixa ou se Gerente, ou sub-gerente… Contudo, naquele ano ela recebeu inusitado convite de última hora das filhas do dono da loja, para passar o Natal com a família deles. Por certo, hoje penso, deveria ela ser pessoa bem-quista na família, ou jamais chegaria tão íntimo convite. Quando soube indisfarçavelmente me entristeci, porque, se já não tinha família, agora nem namorada teria para passar o Natal. Para meu entusiasmo, no dia anterior ao Natal, ela me contou que disseram pra ela “que o namorado também estava convidado”.

ELA

Os anos se passaram felizes. Casei, tive filhos, me formei (nessa ordem!) e comecei a trabalhar em uma pequena empresa que assessorava intercâmbios e agenciava cursos mundo afora. Eu e ele nos tornamos sócios e fomos muito prósperos e felizes criando nossos filhos e viajando pelo mundo trabalhando e curtindo como os jovens sabem fazer! Até que um dia alguém resolve jogar aviões em prédios em NY, bombas em metrôs, as galinhas ficam gripadas, o dólar dispara e a gente vai à falência. Caos! Em poucos meses perdemos quase tudo o que havíamos levado anos para construir, à exceção da bela casa em um condomínio onde morávamos com nossas crianças. Os anos que se sucederam foram muito duros; eu e ele trabalhando como loucos para pagar dívidas e sobreviver com nossas duas crianças – nessa época, vimos e sentimos a mão de Deus provendo nossas necessidades por meio de nossos familiares, nossos amigos e nossa igreja. E seguimos firmes lutando, concentrados e sem tempo para sonhar com absolutamente nada. Sete anos depois quitávamos a última dívida e celebrávamos o raiar de um novo tempo adiante de nós.

ELE

Apesar de novo naquela Brasília e tentando entender seus códigos culturais, eu já sabia bem da fama daquele bairro. Eu achava Lago Sul um nome mais que pomposo, o próprio nome em si – como se isso fosse possível – carregava certa pretensão, soberba e ostentação. Lago era coisa de rico. Sul era a parte rica das cidades. Um bairro residencial longe do barulho, do trânsito e dos problemas da cidade. Arborizado, bonito, silencioso, ruas largas, asfalto como teclas de ébano, bem policiado e cheio gente bonita em carros intangíveis. Na noite do dia 24, chegamos no fascinante Lago Sul com nossas melhores roupas. Estacionei na frente da deslumbrante casa e descemos da moto bem molhados, pois chuviscava persistentemente naquela noite. Tentamos nos secar com o que tínhamos. Não lembro mais de muita coisa daquela noite, além daquilo que penetrou minha retina e tatuou minha memória: sentado alegre – e já meio embriagado – numa larga poltrona da ampla sala, à luz de muitas e muitas velas, lá estava o patriarca, barrigudo, distribuindo presentes para todos da casa, fazendo graça, muitas piadas, algumas com e outras sem graça, mas todos riam. Eram mais de vinte pessoas ali e todos ganhavam muitos presentes. A mesa além de farta era colossal, com bebidas e comidas que eu sequer conhecia direito. Parei de ouvir a música, os risos, as falas excessivas, mergulhei em meu interior… Era muita distância financeira, muita distância educacional, um fosso cultural… distância implacável. Fosso aparentemente intransponível. Sem qualquer resignação disse a mim mesmo: “É isso. É isso o que eu quero. É por isso que vou trabalhar e batalhar a partir de hoje nesta cidade. Quero uma família, assim. Quero filhos com motivos para sorrir. Quero morar no Lago Sul. Vou ter uma casa assim e vou dar muitos presentes. Vou um dia fazer uma festa nesta dimensão de fartura. Amém!” Não sei se aquilo era mesmo uma oração, e se fosse, não sei se rezava para Deus ou para mim mesmo. Eu sabia que estava partindo do zero, aliás, do “menos dez”, e o desafio seria hercúleo. Dali em diante, trabalhei em silêncio, guardando meu sonho em absoluto segredo.

ELA

Nessa época Deus nos deu novos trabalhos e, conforme Ele mesmo havia prometido, começamos a prosperar em tudo o que fazíamos. Os sonhos foram aos poucos voltando aos nossos corações e tivemos vontade de mudar de casa. Começamos a procurar oportunidades em novos lugares e nos apaixonamos por uma quadra chamada 26 no Lago Sul – conseguimos os recursos, encontramos casas, mas nada deu certo. Até que entendemos que não deveríamos seguir com o plano da mudança. E logo depois recebi um convite inesperado para trabalhar em São Paulo e 4 meses depois nos mudamos de casa. Só não imaginava que a casa seria em outra cidade! Morei em SP por pouco mais de 2 anos, mas ele ficava na ponte aérea e a saudade começou a apertar. Ele então me fez um convite para voltar para Brasília e eu imediatamente respondi que não! “Amo São Paulo! Não quero voltar. Principalmente para a nossa antiga casa.”

– E se a gente alugar uma casinha na 26 do Lago Sul? Algo pequeno e charmosos para nós dois. Perguntou ele.

Não existe casinha pequena que possamos pagar na 26! Respondi jocosa, rindo dele.

Na mesma hora ele pegou o celular e começou a pesquisar. Meses depois, cedi à barganha e troquei SP por uma casinha apaixonante e charmosa na Quadra 26 do Lago Sul! Mas meu sonho de adolescente não voltou à minha mente até o dia em que nosso senhorio pediu a casa de volta, para vender. Não tínhamos o valor que ele estava pedindo, para a comprarmos. Que tristeza… eu amava aquele lugar e não queria sair de lá para nenhum outro. Como foi difícil e dolorido devolver o imóvel. E começamos a procurar um lugar novo para morar e mais uma vez ele encontrou: só que dessa vez era um lote com um esqueleto de casa abandonado e uma casinha desengonçada ao fundo. Tomamos coragem, compramos o lugar e nos mudamos. Chorei meses naquela tal casinha fria e horrorosa, enquanto olhava para a enorme estrutura inacabada que me amedrontava porque não tínhamos os recursos para terminá-la. Até que milagrosamente novos contratos foram surgindo, os recursos foram chegando e pouco mais de dois anos depois da compra, nós estávamos morando em uma bela casa, cujo projeto foi claramente inspirado pelo Pai.

ELE

As décadas seguintes foram repletas de altos e baixos, bem-vividas. Aventuras existenciais construídas do jeito que eu sabia, podia e conseguia. Casei-me com a pessoa mais certo que eu poderia escolher – e confirmei isto anos mais tarde. Tive dois filhos. Abri e fechei empresas. Tive dinheiro. Perdi tudo. Reconstruí. Eduquei e… Hoje quando subo na cobertura de minha casa no Lago Sul para assistir ao mais lindo pôr do sol de Brasília, com a cidade espraiada sob meus pés, apenas louvo. Não canso de louvar. “Meu bem, isto é inacreditável!” O improvável milagre se tangibilizou.

ELA

Sentada na sala envidraçada enquanto admiro a bela vista da cidade ao lado dele, a lembrança do sonho da jovem de bicicleta volta vívida à minha mente e coração: “Você mora em uma das lindas casas no Lago Sul”! sussurra a minha memória 34 anos depois! Às vezes ainda tenho dificuldade em acreditar.

Luciano Maia & Simone Maia.

Brasília, no Outono de 2025.

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VOCÊ ESTÁ EM SUA ZONA DE CONFORTO?

Por Milca Rodrigues

Você sabe qual o propósito Deus para sua vida? Você teria coragem de sair de sua Zona de Conforto para seguir este propósito?

Nasci no interior de Minas Gerais nos anos 40, em Mantena, uma cidade de Minas Gerais que faz divisa com o Espírito Santo, região extremamente pobre e violenta à época. Eu era a mais velha de 13 irmãos. Meu Pai se casou com minha mãe quando ela tinha 12 anos de idade, ela era minha referência de fé, piedade e temor a Deus, seu cuidado em nos ensinar a Palavra de Deus em meio a tantas dificuldades e limitações são base para minha relação com Deus até hoje. Vivíamos em situação de pobreza na área rural do município. Assisti em várias ocasiões cenas muito fortes de violência extrema até dentro de minha casa que envolvia meu pai e suas aventuras com seus amigos e por vezes contra meus irmãos e até comigo. Apanhávamos com a mesma frequência com que ele estava em casa, ele passava a maioria do tempo fora e quando voltava trazia consigo toda a cultura de uma época que considerava inclusive a educação uma atividade inútil e prejudicial especialmente para mim que era mulher: “Só quer ir para a escola para aprender a escrever cartinhas para o namorado!”, dizia meu pai antes de me aplicar um castigo físico todas as vezes que voltava e ficava sabendo que eu tinha ido a escola.

 

Quando tinha por volta de 15 a 16 anos já trabalhava na pequena cidade em uma padaria e tinha um namorado sério, situação que desenhava um futuro promissor na visão da cultura da época, oportunidade para que minha condição de vida melhorasse. Porém, a situação precária que minha família vivia não me deixava confortável. Ver minha mãe e meus 8 irmãos (a esta altura 2 deles já haviam morrido de doenças típicas relacionadas a falta de estrutura médica comum naqueles anos no interior do Brasil) entregues à própria sorte por conta da ausência constante de meu pai passando necessidades de toda ordem, me deixava inconformada. Aproveitei então uma oportunidade que me foi dada e segui sozinha para Brasília, acreditando que tinha um chamado dado por Deus que pudesse mudar a realidade de minha casa.

 

Minha vida na Capital Federal, que estava em plena construção, era muito diferente de minha
realidade anterior. Morava na casa de um dos Senadores da Republica e servia quase como uma governanta, eu era uma menina esguia de cintura perfilada, branca de rosto harmonioso cabelos completamente dentro dos padrões de beleza da época. Frequentava a igreja local onde me sentia segura e feliz. Porém, minha família não saia de minhas orações e preocupações e pedi aos meus empregadores que guardasse todo meu salário até que tivesse o bastante para voltar a minha cidade natal, tira-los de lá e trazer para onde eu estava.

 

O resgate de minha mãe e irmãos aconteceu por minha própria iniciativa quando eu tinha 18 anos de idade. Segui sozinha de volta para pegar minha família, ao chegar lá embarquei a todos em direção primeiro a Belo Horizonte. Ao chegar na cidade descobri que o dinheiro não era suficiente para terminar a viagem em direção a Brasília quando então aconteceu algo que marcou profundamente minha vida espiritual. Estava no balcão da empresa de ônibus e pedi então que o operador emitisse 11 passagens que incluíam além de mim, minha mãe e todos os meus irmãos. Retirei de minha bolsa todo o valor que tinha sem pensar em nada, nem mesmo como iria me alimentar ou alimentar minha família no trajeto, e então descobri que o valor somente cobriria 7 das 11 passagens que necessitava.

 

Sentei em um banco em frente aquele local e de cabeça baixa chorava copiosamente e orava. Lembro que aquelas lágrimas escorriam por toda a minha roupa. Ouvi então alguém que nunca tinha visto antes me perguntar: “O que está acontecendo menina, porque você está chorando?”. Eu era uma garota extremamente tímida, mas por algum motivo respondi àquele homem e disse o que havia acontecido. Me lembro que durante todo o tempo não levantei a cabeça e nunca de fato vi seu rosto. Ele então me pediu todo o dinheiro que eu tinha nas mãos, se dirigiu ao guichê, adquiriu todas as passagens que precisávamos, voltou até mim e as entregou. Além das passagens ele inclui um valor em dinheiro e disse: “Leve a todos àquele bandejão, dê comida e em seguida descanse lá mesmo em um porão pois as passagens estão compradas para esta noite”. Minha percepção espiritual até hoje é que ele era um anjo enviado direto da parte de Deus para me abençoar no momento em que eu mais necessitei.

 

Sentia que Deus abria o mar para que nós pudéssemos passar. Então, disse Moisés a Deus:

Quem sou eu para ir a Faraó e tirar do Egito os filhos de Israel? Deus lhe respondeu: Eu serei contigo; e este será o sinal de que eu te enviei: depois de haveres tirado o povo do Egito, servireis a Deus neste monte. Êxodo 3:11

Esta passagem da vida de Moisés, personagem que admiro muito da bíblia, mostra ele duvidando do propósito de Deus. Baseado em sua percepção de incapacidade própria ele concluiu que não seria capaz de realizar algo que Deus havia determinado que ele fizesse. Na história que acabei de contar eu era somente uma menina, cheia de insegurança, traumas e dúvidas, mas senti que havia sido agraciada com o cuidado de Deus sobre minha vida e também com uma missão da parte de Deus: A de mudar a história de minha família que estava naquele “Egito”.

 

Agora já sou idosa porém minha memória, por vezes falha, nunca me traiu em trazer à lembrança inúmeras vezes em que Deus foi um Presente (como na visita do anjo na rodoviária) e sempre Presente em tantas fazes de minha vida. Gostaria de te desafiar a crer, a seguir em frente confiando que Deus tem sim propósito para sua vida não importa em que parte da caminhada com Ele você esteja. E gostaria de te estimular a continuar.

… atentarei para vós outros e cumprirei para convosco a minha boa palavra, tornando a trazer-vos para este lugar. Eu é que sei que pensamentos tenho a vosso respeito, diz o Senhor; pensamentos de paz e não de mal, para vos dar o fim que desejais. Jer. 11, 29.

Uma das prerrogativas mais importantes dos anciãos e o de dar conselhos, aí vão alguns deles para sua vida espiritual:

  • Nunca deixe de ir à igreja é na comunhão que temos força de continuar vivendo em fé.
  • Tenha amigos próximos, irmãos de fé, compartilhe a vida cotidiana com eles, ore por eles e peça oração a eles.
  • Sirva às pessoas este é seu propósito como cristão.
  • Dê o dizimo de tudo, isso vai fazer você seguir entendendo de quem vem a provisão.
  • Crie seus filhos nos caminhos do senhor e mesmo que em algum momento parecer que eles não aprenderam nada sobre o Temor do Senhor, continue firme crendo. A Palavra de Deus nunca volta vazia, eles ouviram sim e as promessas vão se cumprir na vida deles.

 

Milca Rodrigues, 82 anos é Mãe de Jeferson e Nice Jane Ferreira. Avó de Karine Bell, Sophia Souto, Nicolas e Murilo Ferreira e Bisavó do pequeno Daniel Ferreira que você vê na foto.

Texto narrativo, descritivo, escrito por Jeferson Ferreira, seu filho, a partir de seu testemunho verbal.
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Criadores de Conteúdo

Por Neudson Freitas

Sábado à tarde e a garoa que caia confirmava que estávamos mesmo em São Paulo. Alí, pertinho da Avenida Paulista, curtindo nosso momento a dois, pré-viagem para um novo destino. Eu e minha esposa, Mariela, depois de muito rodar por um shopping, resolvemos sentar pra almoçar, tomar um vinho e conversar. Aliás, um pequeno e discreto restaurante Italiano, com arquitetura que remete direto para a Grécia. Que lugar agradável!

 

Mariela resolveu me falar de uma pessoa importante e inteligente, que dava algumas dicas que poderiam ser úteis para a nossa próxima viagem. Ela entrou no Instagram e me mostrou a pessoa e alguns posts bem legais. Ao me interessar, eu logo perguntei: o que ela faz da vida? A Mariela disse: Não sei, mas vamos logo ver aqui no LinkedIn dela. Fomos lá correndo e descobrimos que a pessoa é uma “Criadora de Conteúdo”. Não teve como não rir. Ficamos pensando: “Que raio de profissão é essa? Criador de conteúdo!”. Pareceu-nos uma coisa “da moda” ou moderninho, que foi colocada ali para impressionar.

 

O nosso almoço estava mesmo muito agradável. Eu logo comecei a contar pra Mariela sobre um artigo que eu havia descoberto, escrito em 1986 (mesmo ano que ela nasceu). O artigo é intitulado On the Physical Death of Jesus Christ (sobre a morte física de Jesus Cristo) publicado no JAMA – The Journal of the American Medical Association. Nele os autores mostram que o processo de chicoteamento romano era terrivelmente cruel. Descrevem-se detalhes técnicos, que juntamente com a narrativa bíblica, proporcionam um panorama completo de todo o processo, desde o julgamento até a morte na cruz.

 

Antes do julgamento, narra-se em Lucas 22 que Jesus estava em profunda angústia e suou sangue. Apesar de ser um fenômeno raro, os médicos reconhecem essa característica como hematidrose, que pode ocorrer devido a altos níveis de estresse. Jesus foi violentamente chicoteado com um chicote de couro, com pequenas bolinhas de ferro nas pontas e ossos pontiagudos. Isso Lhe causou lesões internas e Sua carne foi rasgada, expondo a musculatura esquelética.

 

Depois disso, Jesus foi escarnecido, cuspido e, então, carregou a cruz até o Gólgota. Estima-se que a cruz pesava de 75 a 100 kg; e foi carregada por uma distância aproximada de um quilômetro. Durante a crucificação, o réu era jogado sobre a cruz no chão, e pregado com pregos de até 18 cm de comprimento nos pulsos e pés. A crucificação era um processo que produzia dor intensa e causava uma morte lenta e sufocante. Respirar era extremamente doloroso. A cada respiração, Jesus tinha que levantar as costas em carne viva, arrastando-a na madeira e apoiando todo o peso nos pés, que estavam pregados. Fato que aumenta a perda de sangue e causa dor terrível.

 

Ao terminar de contar isso pra Mariela, refletimos juntos que Ele fez tudo isso por nós. Ele veio e teve tão pouco; sofreu tanto. Mesmo assim, Ele nos deu acesso a um tempo de Graça. Estamos cercados de milagres cuidadosos que Ele nos deixou como herança. Desde que Ele se foi, temos visto a humanidade prosperar como nunca, porque o Espírito Santo de Deus desceu sobre toda a carne (Atos 2:16-17) e tem habitado a terra conosco e permitido que muitos homens realizem a plenitude dos seus dons, multiplicando talentos por toda a face da terra. Sim: Ele vive e observa com alegria o proveito que tiramos das heranças que Seu sacrifício produziu.

 

Ao pensarmos nisso, eu me emocionei. A Mariela também! Então, logo pensei: “Eu também sou um criador de conteúdo! Somos todos criadores de conteúdo!”. Quando nosso conteúdo é fruto do agir do Espírito Santo em nós, somos capazes de tocar uns aos outros, produzindo uma linda combustão que anima, gera paz e abre portas para superação. Sim: muitas vezes o que o outro (próximo de nós) precisa é somente uma palavra, uma acolhida.

 

Jesus nos disse:

“Porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era forasteiro, e me hospedastes; estava nu, e me vestistes; enfermo, e me visitastes; preso, e fostes ver-me.” (Mateus 25:35-36)

Ele foi claro ao dizer que “o que fizermos a um dos Seus menores irmãos, a Ele estaremos fazendo”. Nossa missão é a comunhão, cuidar uns dos outros, revelando Jesus Cristo na vida uns dos outros. Que o conteúdo que criamos nessa caminhada que chamamos de vida seja capaz de transmitir o amor de Cristo aos irmãos que encontramos pela estrada.

 

Neudson Freitas, 1º de Outubro de 2023, numa tarde chuvosa e agradável, ao lado da minha amada esposa.

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DEUS NÃO É UM ÍDOLO

Por Carlos Souto

A experiência da conversão é uma experiência de ruptura onde a sua vida passa a ter um ANTES e um DEPOIS, a partir dessa experiência de conversão.

Nas palavras de Jesus, essa experiência é chamada de NOVO NASCIMENTO: “Jesus disse-lhe: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus.” João 3:3

Essa experiência Novo Nascimento chama-se CONVERSÃO e precisamos nos converter para sermos cristãos.

Mas aí surgem as perguntas:

  • Se converter de que, para que?
  • Se converter de quem, para quem?

Falando dos cristãos de Tessalônica, Paulo apresenta, como sinal claro de conversão, o fato deles terem deixado de praticar a idolatria, passando a servir ao Deus vivo e verdadeiro

pois as pessoas têm comentado sobre como vocês nos acolheram e como deixaram os ídolos, a fim de servir ao Deus vivo e verdadeiro.” Tessalonicenses 1:9

Então, para ser cristão você precisa se CONVERTER dos ídolos para o Deus vivo e verdadeiro.

Vamos lembrar o que disse Jesus:

Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom.” Mateus 6:24

  • O que é Mamom?
    • Mamom é o dinheiro elevado à categoria de deus
    • Mamom é um ídolo
  • E o que é o ídolo?
    • É algo que não é deus, mas é tratado como se fosse deus
    • E quando devotamos a nossa vida a um ídolo, esse ídolo se torna rapidamente um demônio que começa a nos escravizar, a cercear nossa liberdade, a suprimir nossa própria vontade, a controlar nossos desejos e emoções.

– Então, você se converte dos ídolos para o Deus vivo e verdadeiro, o Deus que Jesus chama de Pai.

– Entretanto, não basta voce simplesmente acreditar que Deus existe, mas é preciso se relacionar com o Ele do mesmo jeito que Jesus se relacionava. E tem que ser do jeito de Jesus porque a pessoa pode querer se relacionar com Deus do mesmo jeito que ela se relacionava com os ídolos.

– E como a pessoa se relacionava com os ídolos?

  • alimentando expectativas da sua felicidade, da sua realização.
  • esperando receber em troca favores como contrapartida ao que foi oferecido aos ídolos.
  • esperando uma retribuição generosa pelo alto preço que voce pagava.
  • acreditando nas promessas que ele fez.

Lembremos do episódio relatado em Atos 8, envolvendo um feiticeiro, chamado Simão, que, vendo Pedro impor as mãos sobre as pessoas e elas receberem o Espírito Santo, ofereceu dinheiro a Pedro para comprar esse poder.

  • Pedro disse: Vai para o inferno voce e o seu dinheiro
  • Porque voce está querendo se relacionar com o Deus Altíssimo como voce se relaciona com os ídolos
  • Deus não se compra
  • Com Deus voce não negocia
  • Deus não se submete às suas expectativas e seus interesses
  • Deus não existe para fazer voce realizado, feliz e satisfeito
  • Deus é Deus e voce está confundindo Deus com um ídolo

O Deus vivo e verdadeiro é o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo e nós devemos nos relacionamos com Ele do mesmo jeito que Jesus se relacionava.

E qual o jeito que Jesus se relacionava com o Pai?

Tudo o que tenho é teu, e tudo o que tens é meu. E eu tenho sido glorificado por meio deles.” João 17:10

  • Aqui está a maneira como Jesus se relacionava com o seu Pai
  • Jesus deu tudo para o Pai, inclusive a própria vida e ali, na cruz do calvário, ele diz: “Pai, nas tuas mãos eu entrego o meu espírito” Lucas 23:46, e saltou para a escuridão e para a morte, crendo que o Pai não o deixaria na morte, mas o ressuscitaria e o traria de volta à vida ao terceiro dia, e daria de volta a ele, Jesus, o seu filho, a glória que ele possuía deste antes de se esvaziar de tudo.

Por isso Deus o elevou ao lugar de mais alta honra e lhe deu o nome que está acima de todos os nomes, para que, ao nome de Jesus, todo joelho se dobre, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua declare que Jesus Cristo é Senhor, para a glória de Deus, o Pai.” Filipenses 2:9-11

Então, qual é a maneira como devemos nos relacionar com o nosso Pai?

  • A gente entrega tudo, ficamos com nada e nos surpreendemos que por sua misericórdia, bondade e graça Deus, o Pai, nos dá mais do que precisamos, mais do que necessitamos
  • Nós nos lançarmos aos cuidados do Pai e falarmos assim:
    • Pai, que na minha vida seja feita a sua vontade.
    • O Senhor não tem nenhuma obrigação comigo.
    • Não é obrigado a responder minhas orações.
    • Não é obrigado a satisfazer e realizar os meus sonhos, desejos e planos.
    • O Senhor é o Deus Altíssimo, o único e verdadeiro Deus, o Deus Soberano e, portanto, faça do jeito que o Senhor quiser.

Lembremos, por exemplo, do Profeta Habacuque que declarou: “Mesmo não florescendo a figueira, não havendo uvas nas videiras; mesmo falhando a safra de azeitonas, não havendo produção de alimento nas lavouras, nem ovelhas no curral nem bois nos estábulos, ainda assim eu exultarei no Senhor e me alegrarei no Deus da minha salvação.” Habacuque 3:17,18

Acredito que andam por aí muitas pessoas frustradas e decepcionadas com Deus, dizendo:

  • Eu orei e Deus não me respondeu.
  • Eu orei e Deus não me atendeu.
  • Eu fui à vigília e nada aconteceu.
  • Eu fiz uma campanha de oração e não valei de nada.
  • Eu jejuei para nada.
  • Eu pedi com fé, com muita fé, com uma fé forte, outros se juntaram a mim na fé e na oração e de nada adiantou.
  • Então, Deus não está nem aí para mim.

Essas pessoas não entenderam como é se relacionar com Deus, do jeito de Jesus e acabam se relacionando com o Deus vivo e verdadeiro, com o Pai de Jesus, como se fosse um ídolo. Com o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo nós nos relacionamos como Jesus se relaciona. Isso CONVERSÃO.

E aí voce não tem mais medo do futuro, medo do amanhã, porque:

  • voce já deu tudo para Deus e nada tem mais a perder.
  • o Deus que tem tudo falou que vai cuidar de voce
  • voce aprendeu que se buscar, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, todas as coisas ele te dará
  • voce entendeu que quem fica preocupado com o que comer, o que beber e o que vestir são aqueles que não tem Deus. Aí voce dorme sossegado, voce vive em paz, mas essa experiência é para quem tem um relacionamento real com Jesus.

Deus te abençoe.

 

Carlos Souto – 29.11.2023

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PASSAGEM SECRETA – INCURSÃO A UM JARDIM ABANDONADO

 

 

Aquele era o meu trajeto rotineiro diário. Nesse dia, não me sentia bem, meio para baixo. Eu nem de longe imaginava o que estava para vivenciar. Algo sobrenatural estava para acontecer que mudaria minha vida em todos os aspectos.

 

Um vazio interior e uma angústia cresciam gradativamente, dentro de mim. Era como se uma mão de aço envolvesse minhas entranhas e, do baixo ventre para cima, fosse esmagando-me as vísceras, ao ponto de quase faltar-me a respiração. Ofegante, sentei-me em um banco da pracinha da qual me aproximava naquele momento. O mundo girava em tresloucada velocidade, em torno de minha cabeça. Quando tudo se foi normalizando, meus olhos anuviados, divisaram, do outro lado da rua, uma abertura quase imperceptível no muro recoberto de viçosa hera. No umbral da porta também recoberta de trepadeiras, havia folhas sugerindo uma inscrição. Esfreguei meus olhos na esperança de desembaçar a visão, mas tive que me aproximando até chegar à frente do misterioso portão e pude decifrar o nome “Passagem Secreta”.

 

Curiosidade crescente, entrei e deparei-me com um jardim totalmente desolado. Espinhais cresciam espalhados pelo jardim. Roseiras e outras plantas exóticas sufocadas por trepadeiras. Lá ao fundo, um prédio abandonado, paredes com rebocos esburacados, cheias de rachaduras, janelas e portas desbotadas, ferrolhos e trancas enferrujadas. Era uma propriedade privada. Como é que nunca havia me apercebido da existência daquele jardim e muito menos daquela espécie de biblioteca? Por que ninguém nunca me falara de sua existência? Estava o tempo todo ali, no mesmo endereço, fechada, desolada, dando a impressão de completo abandono.

 

Aproximei-me da portaria e ninguém havia para me recepcionar. Empurrei de leve a porta da entrada, abrindo com um rangido estridente das grisalhas. Na recepção não havia balconista. Um aviso na porta, após a recepção, advertia: “ÁREA RESTRITA” – “PROIBIDO O ACESSO DE ESTRANHOS”. Um dispositivo eletrônico coberto de pó, chamou-me a atenção. Limpei-o com o máximo cuidado, para não deixar minhas digitais. Era justamente um identificador biométrico provido de sensor de digital, carômetro, retinoscópio e iridoscópio. Uma  fechadura de alta tecnologia. Ao aproximar-me da porta, um ‘led’ verde piscava, enquanto uma voz robótica feminina anunciava que eu me aproximava de área de acesso restrito, solicitando minha identificação biométrica. Encostei minha testa no local indicado enquanto coloquei minha mão no identificador para leitura digital. Uma espécie de escâner foi ativado e lia as informações de minha mão e olhos.

 

“Bip-bip!” seguido de um estalido. Quase não acreditei quando a porta se desbloqueou e abriu-se frente a mim. Recebi um bem-vindo eletrônico e, antes que a porta voltasse a fechar-se, adentrei ao corredor e segui direto à biblioteca. Estava por demais curioso para descobrir que tipo de acervo estava ali catalogado. Em vez de livros havia ali uma interminável fila de arquivo compostos de várias gavetas de pastas suspensas. Fui logo ao arquivo principal. Gaveta zero. Um livro bem encadernado em cima do arquivo – MANUAL DE INSTRUÇÕES DO ARQUIVISTA CENTRAL . Um curioso aviso colado na gaveta chamou-me a atenção: “Este arquivo necessita de manutenção urgente. Precisa-se de um arquivista”. As informações estavam na maior desordem. O catálogo de arquivos totalmente desatualizado. Inúmeras caixas com dados, empilhadas pelos cantos da sala. Um odor desagradável, um misto de mofo e matérias em decomposição, invadia o ar do recinto, tornando a atmosfera inóspita. Um verdadeiro caos. Pensei na trabalheira que o tão esperado arquivista tinha pela frente; senti muita pena dele. Coitado!

 

“Oh, Deus! Não é possível!” Eu era o arquivista tão esperado. Atordoado, em parafuso, não sabia por onde começar. Meu desejo era ver tudo aquilo no mais perfeito arranjo. Cada pasta; cada gaveta; cada arquivo totalmente organizado. Mas não me iludi, pois o trabalho era árduo e precisaria de várias jornadas de trabalho para concluir minha tarefa e dar-me por satisfeito. Lembrei-me do que o meu velho sempre dizia o óbvio: “Se temos que fazer alguma tarefa, então que comecemos pelo começo. Este é o melhor caminho. Uma tarefa de cada vez e, quando você menos esperar, terá concluído seu trabalho”.

 

Na primeira gaveta do arquivo 001 encontrei os documentos todos em perfeita ordem. Trava-se do histórico de alguém, desde a sua concepção ao seu nascimento, prosseguindo até os primeiros 5 anos de vida. As pastas deste período estavam em razoável ordem. Não fora um grave acidente aos 18 meses, estaria tudo perfeito. Sua babá, por um descuido, deixara o bebê cair de seus braços, de ponta cabeça, quebrando-lhe o nariz. Na ânsia de fazer o bebê se calar, a ama colocou-o na rede e este logo adormeceu. Mas tarde, quando acordou estava com o olho direito vesgo, quase totalmente branco, com a íris totalmente escondida, além do nariz bastante inchado.

 

Tentei organizar aquela gaveta, mas algo não se encaixava muito bem, até que ouvi uma Voz Interior dizer em meu coração: “Tem que liberar perdão”. Lembrei-me que algo semelhante acontecera comigo e que guardava por longos anos aquela mágoa incrustada no coração. Após muita relutância, resolvi perdoar minha babá. Algo extraordinário acontecera: os dados foram precisamente catalogados e a gaveta ficou impecável. Uma luz suave emanou daquele arquivo.

 

Mais adiante, encontrei uma outra gaveta desorganizada. Correspondia ao último sábado de fevereiro de 1957, aos 6 anos. Uma espécie de aula extracurricular acontecia. Eu podia ver como  em um vídeo. Um menino tentava cantar uma musiquinha que aprendera no circo, mas esquecera da letra e todos caíram na gargalhada. Até aí tudo bem, mas quando ele percebeu que sua professora estava caída ao chão, sem fôlego, roxa de tanto rir da palhaçada involuntária que ele criara, ficou revoltado e nunca mais se apresentou em nenhuma reunião do grêmio da escola. A mesma Voz Interior orientou para que fosse liberado perdão, pois ninguém fizera aquilo por maldade, mas por causa da comicidade da cena, mesmo. Os dados foram retirados de uma caixa ao canto e classificados corretamente. A mesma luz suave também luziu dessa gaveta.

 

E assim foi, todas as vezes que encontrou situações embaraçosas naquele imenso arquivo. As coisas foram-se resolvendo uma após outra; dia após dia, semana após semana, até que finalmente cheguei ao último arquivo.

 

Curioso era que nunca terminavam de chegar dados, mas eu já aprendera a lição e ia logo tratando de os catalogar, com a mesma rotina que a Voz Interior me ensinara. Amor, onde carecia de amor e perdão, onde deste necessitava. E quando lotava aquele último arquivo, imediatamente surgia um novo para receber os dados mais recentes. O ambiente interior ficou limpo e iluminado. O catálogo central automaticamente ficou organizado. Até uma redução de arquivos houve, pois, os dados agora estavam em perfeito arquivamento, resultando uma considerável redução do consumo de energia da biblioteca. O odor desagradável de mofo e podridão dera lugar uma fragrância ímpar de flores do campo. Agora dava gosto estar ali.

 

Depois disso tudo, até eu experimentei uma mudança radical. Sentia-me mais leve, amável, confiante e sociável. Sorria espontaneamente até nas adversidades. Aprendera a confiar mais em mim. Passei a sonhar e buscar a realização de meus sonhos. Tudo ao meu redor agora fazia sentido. Naquela noite, ao sair dali, percebi que o prédio tinha um novo aspecto. Agora na portaria o funcionário antigo havia retornado ao seu posto. Consciência era o seu nome. Saudou-me gentilmente e desejou-me uma boa noite, com as bênçãos do Eterno. Na portaria, um segurança bem equipado. Seu nome, Guardião Mensageiro, enviado para servir aos que herdarão a vida eterna.

 

A fachada do prédio dava gosto de se ver. Nem de longe lembrava aquela construção degradada que encontrei no início desta experiência. O jardim, agora bem cuidado, trescalava suave aroma das variedades de flores que se abriram ao entardecer. “O coração alegre aformoseia o rosto, mas o espírito abatido apodrece os ossos”. Essa frase aprendi no Manual de Instrução. Nunca mais descuidei daqueles dados, que passei a guardar e cuidar como se fossem meus. E certamente eram meus, dada a coincidência e extrema semelhança comigo.

 

Saí dali com uma vontade incrível de subir o mais alto que pudesse e gritar para todo o mundo aquilo que eu havia experimentado, mas quem, de fato, gostaria se saber disso? Ninguém iria mesmo se importar com uma história dessa.

 

Se você se identificou com este conto, há um jardim secreto, margeando um arquivo particular, aguardando por você, para que seja reorganizado. E não se esqueça de seguir as instruções do MANUAL DE INSTRUÇÕES DO ARQUIVISTA CENTRAL.

 

Deus abençoe todos!!!!

 

 

Bosco Esmeraldo

Pastor, Teólogo, Escritor

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QUEM PODE SER SALVO?

 

E, pondo-se a caminho, correu para ele um homem, o qual se ajoelhou diante dele, e lhe perguntou: Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna? E Jesus lhe disse: Por que me chamas bom? Ninguém há bom senão um, que é Deus. Tu sabes os mandamentos: Não adulterarás; não matarás; não furtarás; não dirás falso testemunho; não defraudarás alguém; honra a teu pai e a tua mãe. Ele, porém, respondendo, lhe disse: Mestre, tudo isso guardei desde a minha mocidade. E Jesus, olhando para ele, o amou e lhe disse: Falta-te uma coisa: vai, vende tudo quanto tens, e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, toma a cruz, e segue-me. Mas ele, pesaroso desta palavra, retirou-se triste; porque possuía muitas propriedades. Então Jesus, olhando em redor, disse aos seus discípulos: Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas! E os discípulos se admiraram destas suas palavras; mas Jesus, tornando a falar, disse-lhes: Filhos, quão difícil é, para os que confiam nas riquezas, entrar no reino de Deus! É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que entrar um rico no reino de Deus.” Marcos 10:17-25

 

– Qual o perfil desse jovem rico?

  • Descendente de Abraão.
  • Conhecedor e obediente da Lei de Moisés.
  • Ele sabia de um rabi que anda pelas estradas empoeiradas da Palestina arrastando uma multidão atrás de si
  • Um jovem rico, zeloso de sua religião judaica, cumpridor dos mandamentos.

 

“Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna?”

– Será que, hoje, 2 mil anos depois, nós trazemos essa pergunta em nosso coração?

  • O que eu preciso fazer para participar do reino de Deus?
  • O que eu preciso fazer para participar do mundo governado por Deus?

 

“Sabes os mandamentos? Não adulterarás; não matarás; não furtarás; não dirás falso testemunho; não defraudarás alguém; honra a teu pai e a tua mãe.

“Mestre, tudo isso guardei desde a minha mocidade.”

E Jesus, olhando para ele, o amou e lhe disse: Falta-te uma coisa: vai, vende tudo quanto tens, e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, toma a cruz, e segue-me.”

 

– Por que Jesus estabeleceu essa condição para aquele homem?

  • Lembremos das palavras de Jesus:

Nenhum servo pode servir a dois senhores; pois odiará a um e amará ao outro, ou se dedicará a um e desprezará ao outro. Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro”. Lucas 16:13

 

Pois onde estiver o seu tesouro, ali também estará o seu coração“. Lucas 12:34

“Mas o jovem, pesaroso desta palavra, retirou-se triste; porque possuía muitas propriedades”.

 

– E Jesus se dirige aos seus discípulos e diz:

“Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas!”

“Filhos, quão difícil é, para os que confiam nas riquezas, entrar no reino de Deus!”

 

– E aí Jesus faz a referência ao camelo passar pelo buraco da agulha.

“É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que entrar um rico no reino de Deus.

 

– A maioria dos intérpretes ficam a discutir o que é a tal agulha, mas, e o camelo?

– Por que Jesus citou o camelo e não a girafa ou o elefante?

– O que o camelo tem a nos ensinar?

  • O camelo é um animal que tem uma corcova cheia de nutrientes e água, dando a ele condição de atravessar um deserto quase que de maneira autossuficiente.
  • O camelo pode fazer uma longa jornada, abastecido pelo que carrega em sua corcova.
  • Então o camelo já está abastecido e tem o suficiente para fazer a sua jornada, sem depender de ninguém.

 

– Então, quais lições podemos extrair a partir do camelo?

  • Não é possível participar do reino de Deus se você acumula tanto em sua corcova a ponto de não prestar atenção no que está acontecendo à sua volta.
  • Não é possível participar do reino de Deus se voce não pratica a comunhão, a solidariedade, a generosidade, a partilha
  • Não é possível participar do reino de Deus se voce acumula tanto em sua corcova a ponto de não precisar de ninguém, caminhando sozinho e desenvolvendo uma espiritualidade apenas entre voce e Deus.
  • Não é possível participar do reino de Deus se voce acumula tanto em sua corcova a ponto de tornar-se autossuficiente.
  • Não é possível participar do reino de Deus se voce está vivendo uma vida de CAMELO!
  • Vamos lembrar como viviam nossos irmãos, no primeiro século:

“Todos se dedicavam de coração ao ensino dos apóstolos, à comunhão, ao partir do pão e à oração… Os que criam se reuniam num só lugar e compartilhavam tudo que possuíam. Vendiam propriedades e bens e repartiam o dinheiro com os necessitados, adoravam juntos no templo diariamente, uniam-se nos lares para comer e partiam o pão com grande alegria e generosidade, sempre louvando a Deus e desfrutando a simpatia de todo o povo. E, a cada dia, o Senhor lhes acrescentava aqueles que iam sendo salvos.” Atos 2:42-47

 

– Ao ver aquele homem indo embora, triste, penso que Jesus estava dizendo:

  • Estão vendo?
  • Mais um apegado ao dinheiro.
  • Mais um que não pode participar do mundo governado por Deus porque está apegado ao dinheiro.
  • Mais um que está ocupado apenas consigo mesmo e que não quer renunciar a seus privilégios.
  • Mais um que caminha sozinho, confiando plenamente nas suas riquezas.
  • Mais um que vive como CAMELO!

 

– O que Jesus quis dizer quando afirmou:

  • Filhos, quão difícil é, para os que confiam nas riquezas, entrar no reino de Deus!
  • Dificilmente, alguém apegado ao dinheiro participa do mundo governado por Deus!
  • Jesus está dizendo que, para participar do mundo governado por Deus, precisa furar essa bolha:
    • Da confiança nas riquezas
    • Do (eu sozinho e Deus)
    • Da autossuficiência
    • De uma vida de CAMELO

 

– Será que, passados mais de 2 mil anos, nós ainda acreditamos que o caminho do reino de Deus, que o caminho para o céu é possível ser percorrido de forma solitária e egocêntrica?

 

– Então, o que você responde quando alguém pergunta:

  • O que eu preciso fazer para ser salvo? Abandone a vida de camelo
  • Como é que eu participo do mundo governado por Deus? Siga o caminho de Jesus, praticando a solidariedade, a generosidade, a partilha e a vida de comunhão
  • O que eu preciso fazer para herdar a vida eterna? Não viva de forma solitária e egocêntrica

 

– Nesse mundo governado por Deus, não tem lugar para caminhada solitária e egocêntrica.

– O caminho de Jesus, do jeito de Jesus e com Jesus não é caminho de camelo.

– Precisamos matar o camelo que existe dentro de nós para participarmos do reino de Deus.

 

Carlos Souto.

 

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Jesus era “hippie”?

Por Jeferson Ferreira
Sou apaixonado pela maneira em que a raça humana se comporta; observar como diferentes pessoas reagem a um mesmo estímulo e quais as relações disto com a: Raça, nacionalidade, história de vida, sexo, ambiente e mais umas duas mil variáveis psicossociais envolvidas, tem me levado a viver observando. Até já me questionaram sobre meu olhar, taí a resposta para a maioria das vezes.
Então, um dos tipos de pessoas que sempre estimularam este meu instinto observador foram os hippies. Lembro da descrição de uma amiga que falou de sua prima: “Ela era uma pessoa que passava a maioria do tempo como hippie, andando sem rumo e voltava para casa para trabalhar uns dois meses por ano e depois voltava para a rua”. Esta descrição era de alguém que tinha um estilo de equilíbrio atípico, que encantava minha equilibrada e normal amiga que contava a estória.

 

Este movimento que se iniciou nos EUA na década de sessenta, foi uma tentativa de ruptura dos conceitos normais de vida da época, eram pessoas desgarradas com aqueles trajes típicos do grupo (sandálias e colares) que pregavam a paz e o amor. Tudo bem que eles tinham também a fama de arruaceiros e eram drogados numa visão menos romântica, mas desconsidere isto para nosso exercício de imaginação. Oops! Me lembrou Jesus, ainda mais somando-se à ideia de desgarrado, o fato deles pintarem Ele com aquelas roupas típicas da época e colocarem barba.

 

Imagine se Jesus vivesse em nossa época, como seriam as manchetes? Elas descreveriam uma figura perturbadora, meio Forrest Gump, cidadão de lugar nenhum, andando por ai à pé com um monte de gente atrás dele. Com certeza, em certo momento a necessidade de preservação da paz pública iria levá-lo a algum tribunal para ser julgado e humilhado publicamente por sua generosidade e presteza; ele ficaria calado e nós omissos e então… O resto da história vocês já sabem…

 

Pois é, neste meu mundo imaginário onde Jesus seria um “hippie doidão”, meio a mistura de Mágico de Oz com Madre Tereza de Calcutá para a maioria, me pergunto: onde nós, os cristãos estaríamos? Certo mesmo estou que atrás dele nunca. Não somos este tipo de pessoa que segue este tipo de gente. Acredite, tem gente que já fez umas coisas bem loucas; lembro da história de minha amiga americana Cindy Norwood que vendeu tudo e viveu anos andando num ônibus de uns cristãos malucos chamados Gods People. Eles vendiam tudo o que tinham e saiam pregando o Evangelho e fazendo o bem país afora.

 

Ah! Temos um hippie na Bíblia, seu nome era João Batista. Marcos, o apostolo de Jesus, o descreveu como o pregador do deserto que “ .. comia gafanhotos e mel silvestre..”. Sou apaixonado por esta descrição “zen” da figura de João, de tão desgarrado ele nem aceitava fundar uma igreja, dizia que era o preparador que anunciava as boas novas.

 

Gente, luto para que minha alma seja assim, já que vai ficar difícil explicar para meus filhos que o papai agora vai viver por aí sem rumo sentado nas calçadas fazendo artesanato e comendo o que vendeu. Fico na imaginação e na aplicação espiritual da ideia mesmo.

 

Quero preparar o caminho do Mestre da melhor e mais livre maneira que puder. Não sou eu o realizador, mas serei o mais desgarrado anunciador da Boa Nova deste hippie que conseguir ser. Tenho que dizer que só Ele é que salva nossas almas de nós mesmos, pobres mortais, vivendo nossas vidinhas normais.

 

Jeferson Ferreira.

Texto publicado neste blog originalmente em 18 de abril de 2011.

 

 

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Você é perseverante?

Por Gabriel Silva Kitamura, 10 anos.

Segundo o dicionário “perseverante” é a qualidade de quem não desiste facilmente diante de uma dificuldade; obstinado, persistente.

 

Eu sou Gabriel Silva Kitamura, tenho 10 anos. Comecei cedo no esporte. Primeiro foi a natação com 6 meses de vida e com 3 anos iniciei no judô e no futebol. No começo eu levava como uma atividade extra da escola onde eu podia brincar com meus amigos.

 

Com 9 anos já tive minha primeira decisão. Decidi que eu era melhor no judô e começaram as competições.  E eu fui aprendendo que no tatame eu preciso ter concentração, foco e disciplina. Em maio deste ano fui competir, ganhando todas as lutas, chegando na final. Meu adversário tinha o dobro do meu tamanho… Isso, não me deu medo e nem paralisou. Entrei mostrando tudo que eu havia aprendido. Mas não foi o suficiente para aquela luta, mesmo eu dando o meu melhor, o meu adversário ficou em primeiro lugar. Agradeci a Deus pela oportunidade em subir no pódio.

 

Em junho aconteceu outra competição a qual eu havia me preparado. Dei o meu melhor nos treinos. Estava pronto! Novamente, ganhei as três primeiras lutas e na final seria com o mesmo adversário que eu havia perdido no mês passado. Logo, me veio a história de Golias e Davi. Eu tinha que derrotar aquele gigante. Entrei confiante primeiro em Deus, depois em tudo que eu havia aprendido e treinado para fazer. Concentração, determinação. Não foi fácil, mas ninguém me disse que seria. Consegui o primeiro lugar. Agradeci muito a Deus. Abracei meu adversário, porque sem ele eu não teria chegado no meu objetivo.

 

Desde então, em todas as minhas lutas eu tenho subido ao pódio. E tenho aprendido que assim como no tatame, na escola e na vida eu enfrentarei gigantes. Mas com Deus e perseverança nossos problemas não permanecem.

 

“Não só isso, mas também nos gloriamos nas tribulações, porque sabemos que a tribulação produz perseverança; a perseverança, um caráter aprovado; e o caráter aprovado, esperança. E a esperança não nos decepciona, porque Deus derramou seu amor em nossos corações, por meio do Espírito Santo que ele nos concedeu.”

Romanos 5:3-5

 

Gabriel Silva Kitamura – 10 anos.

Campeão de Judô Sub-11 da Região Metropolitana do Distrito Federal em 2023.

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NOVAS OPORTUNIDADES

“Lembro-me da minha aflição e do meu delírio, da minha amargura e do meu pesar. Lembro-me bem disso tudo, e a minha alma desfalece dentro de mim. Todavia, lembro-me também do que pode dar-me esperança. Graças ao grande amor do Senhor é que não somos consumidos, pois as suas misericórdias são inesgotáveis. Renovam-se cada manhã; grande é a tua fidelidade! Digo a mim mesmo: A minha porção é o Senhor; portanto, nele porei a minha esperança.”

Imaginem como seria:

  • O mundo se não houvesse novas oportunidades.
  • A sua vida se você não pudesse voltar atras e começar de novo.
  • A sua vida se todas as suas decisões fossem definitivas e irreversíveis.

 

É verdade que algumas consequências do nosso passado são, de fato, definitivas e irreversíveis, mas nós não somos condenados a ser as mesmas pessoas para sempre. Então, como seria a sua vida se você não pudesse voltar atras e começar novamente?

 

Primeiro, nós estaríamos condenados a viver aprisionados pelos erros cometidos no passado (erros não são necessariamente pecado).

  • Erramos porque não somos perfeitos, nós não nascemos prontos, nós estamos aprendendo.
  • Erramos porque decidimos mal, porque julgamos mal, porque não tínhamos todas as informações.
  • Erramos porque não fomos capazes de avaliar corretamente a situação.
  • Erramos porque confiamos nas pessoas erradas, confiamos em suas palavras, acreditamos em suas promessas.

 

Assim, se não tivéssemos a oportunidade de rever decisões tomadas não teríamos a oportunidade de consertar as coisas, de rever decisões tomadas.

  • Sim, é verdade, eu decidi me mudar para Curitiba, mas agora vou voltar para Brasília. Não deu certo.
  • Sim, é verdade, eu decidi comprar esse carro, mas não gostei e agora eu vou vende-lo.

Então, se não tivéssemos novas oportunidades, nós estaríamos condenados a viver nas mesmas circunstâncias do passado, em razão dos erros que cometemos.

 

Segundo, se não tivéssemos novas oportunidades nós estaríamos condenados a viver aprisionados pelos pecados cometidos no passado.

  • Sabíamos que aquilo era errado, sabíamos que não deveríamos fazer, mas escolhemos fazer, fizemos mesmo assim
  • Fizemos talvez pensando que depois conseguiríamos arrumar, conseguiríamos dar um jeito, mas não teve jeito de arrumar. Pecado é assim, não dá para arrumar.
  • O pecado desencadeia um processo que foge do nosso controle.

Então, sem novas oportunidades, estaríamos condenados a viver vitimados pelos pecados cometidos no passado.

 

Terceiro, se não tivéssemos novas oportunidades nós viveríamos uma vida solitária, vida de solidão.

  • Na dinâmica das relações humanas, dos relacionamentos, é inevitável que aconteçam esbarrões, encontrões e aí, como consequência, surgem feridas, arranhões, quer por palavras, atos, gestos, olhares, omissões.
  • Então, imagina se não pudéssemos fazer essa viagem no tempo, de volta ao passado, e viver a experiência do arrependimento, do perdão e da reconciliação, e, então, dizer:
    • Por favor, não leve mais em consideração aquilo que eu lhe disse, que eu lhe fiz.
    • Me perdoe!
    • Eu me arrependo de ter feito o que fiz, de ter dito o que disse, de ter me comportado daquela maneira
    • Por favor, me perdoe!
    • Me dê uma outra oportunidade, vamos nos reconciliar, eu sinto muito a falta da sua amizade

Então, se não tivéssemos oportunidades de reconciliação, nós viveríamos uma vida de solidão porque teríamos afastados de nós, do nosso convívio, das nossas relações, as pessoas que amamos.

 

Mas o que nos ensina a Bíblia Sagrada?

  • Jesus disse que devemos perdoar quem nos ofende, não apenas 7 vezes, mas 70 x 7 (Mateus 18:22)
  • Tem muitas oportunidades de recomeço porque Deus oferece essas muitas oportunidades, de modo que, assim como queremos ser perdoados, também devemos perdoar, como ensinou Jesus “Perdoa as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores.” (Mateus 6:12)

Então, se não fossem as novas oportunidades concedidas por Deus, nós viveríamos de lamentações e apenas de lamentações, porque não haveria nada a se fazer. Apenas olhar para trás e dizer: Ah! que pena! Lamento muito tudo isso que aconteceu, mas não há mais o que fazer!

 

Em determinado momento do seu lamento, o Profeta Jeremias diz assim: Eu me lembro da minha aflição e do meu delírio, da minha amargura e do meu pesar. Sim, me lembro de tudo, e quando eu me lembro de tudo isso a minha alma desfalece dentro de mim. Mais aí ele completa: Mas também tem uma coisa que me lembro, eu me lembro daquilo que pode me dar esperança.

 

E o que é que nos pode trazer esperança? São as inesgotáveis misericórdias do Senhor, que não apenas impedem de não sermos consumidos, como também nos proporcionam novas oportunidades de recomeço. Quem vive se lamentando, quem vive de lamentação, vive em função do passado. Quem vive de esperança, vive em função do futuro.

 

Então, sim, eu enxergo o que eu fiz lá atrás e me dói quando me recordo do que fiz. Eu enxergo as decisões, os erros, os pecados que cometi por atos ou por omissões, eu enxergo tudo isso, mas eu não vivo olhando para trás, eu não vivo olhando para o passado, e não vivo olhando para as circunstâncias da minha vida e me lamentando pelo que aconteceu.

 

Eu vivo baseado nas inesgotáveis misericórdias do Senhor, que se renovam a cada manhã, e são a causa de eu não ser consumido. São as inesgotáveis misericórdias do Senhor que me dão esperança de que as coisas, as circunstâncias, minhas relações podem mudar, eu mesmo posso mudar. Por isso, eu não vivo me lamentando e olhando para trás, olhando para o passado, mas posso olhar para o futuro com essa esperança.

 

As misericórdias de Deus é que nos chamam para a reconstrução. Elas criam para nós um ambiente que nos dá novas oportunidades, onde estão presentes o arrependimento, o perdão e a reconciliação. Quando o Profeta Jeremias diz que as misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos é porque Deus, por ser misericordioso, concede, a cada um de nós, oportunidades de reconstrução, de nos olharmos no espelho, de nos enxergarmos, de percebermos nossas circunstâncias e situações e escolhermos novos caminhos e nos submetermos a processos de mudança.

 

Entretanto, muitas mudanças não vêm com tranquilidade. Geralmente, mudamos quando somos obrigados a mudar. Quando não tem mais jeito a gente muda. A gente adia e atrasa até uma tragédia, um diagnóstico fazer a gente mudar. Só mudamos em último caso.  E essa mudança tardia pode vir acompanhada de sofrimento, dor e devastação. Mudar somente quando se é obrigado a mudar, a gente não muda, a gente é mudado. Mas as misericórdias do Senhor são o chamado de Deus para a gente mudar antes do “leite derramar”.

 

Então:

  • Não espere que as circunstâncias, que outras pessoas, que a mão de Deus obrigue você a mudar.
  • Escolha mudar e viver a possibilidade, dada por Deus, de ser diferente, de fazer diferente.
  • Tenha coragem para se ajoelhar e falar assim:

Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me, e conhece os meus pensamentos. E vê se há em mim algum caminho mau, e guia-me pelo caminho eterno.”

Salmos 139:23-24

 

Carlos Souto, Outubro/23

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Você já encontrou o que procura?

Por Neudson Freitas

Considerada como uma das melhores músicas da carreira do U2, “I Still Haven’t Found What I’m Looking For” foi lançada em 1987, como segundo single do icônico álbum The Joshua Tree.

Sim, na tradução literal, o título da música afirma: “Ainda não encontrei o que procuro”. E, sim (novamente): a música tem um invólucro cristão. Afinal, tanto Bono, quanto o guitarrista The Edge e o baterista Larry Mullen Jr. pertenciam a uma comunidade cristã chamada Shalom. Eles estavam incomodados ao pensar que sua fé não combinava com o estilo de vida do rock que levavam.

A música, escrita no mesmo estilo dos salmos de Davi, não deixa claro o que é que o narrador tanto procura. Ele escalou as montanhas mais altas (I have climbed the highest mountains), correu, rastejou (I have run, I have crawled), mas não encontrou o que estava procurando (But I still haven’t found what I’m looking for).

E você? Você tem clareza do que procura? Eu costumo dizer que conhecer com clareza o problema é 50% da solução. Ou seja: saber o que você procura já é meio caminho andado. Eu me lembro das minhas procuras ao longo da vida. Por exemplo: a minha Caloi Cross. Ah! Como eu queria aquela bike. Desejei tanto, declarei isso e pedi insistentemente a Deus. Um dia, meu pai apareceu com aquela bicicleta lá em
casa. Era linda: amarela, com detalhes pretos nas partes em que as soldas marcavam as emendas do quadro de metal. Eu a tomei pelas mãos eu fui me deleitar com a emoção de pilotar meu novo brinquedo. Não demorou muito, ela vivia encostada pelos cantos – afinal, já não era mais capaz de satisfazer minhas vontades.

Assim como a bike, tantas outras procuras ocuparam espaço em meu coração – bens, carreira, títulos e até relacionamentos. Em um certo ponto de minha vida, percebi a incapacidade dessas coisas temporárias me saciarem. Ao pensar nisso, sempre me lembro de Eclesiastes 2:11 – “Contudo, quando avaliei tudo o que as minhas mãos haviam feito e o trabalho que eu tanto me esforçara para realizar, percebi que tudo foi inútil, foi correr atrás do vento; não há qualquer proveito no que se faz debaixo do sol”. Eu não encontrei o que eu estava procurando.

Ainda sobre a procura, lembro-me claramente de um dia em que Deus falou comigo por meio de um chefe meu que eu admirava muito. Estávamos descendo o elevador já tarde da noite, exaustos, após uma sexta-feira intensa em trabalho. Eu disse: “Hoje, não quero saber de mais nada. Vou pra casa descansar! Dever cumprido!”. Ele respondeu: “Pois eu vou pegar minha esposa e levá-la pra jantar. Quero aproveitar a companhia dela. Afinal, ‘a felicidade está no percurso, não no destino’”. Foi a primeira
vez que eu ouvi essa frase, mas fez tanto sentido pra mim que, desde então, ela soa o tempo todo em meu coração.

Hoje, pensando bem, acredito que a preocupação com o destino, a busca, a procura, tira de nós a capacidade de aproveitar a jornada. O próprio Bono Vox, em algum momento, ao falar sobre a música Still Haven’t Found What I’m Looking For, a definiu como “um hino mais de dúvida do que de fé e uma música gospel com um espírito inquieto”.

Por outro lado, a própria música tangencia que Jesus é a resposta para a tal busca. Pense nos versos: You broke the bonds (Você quebrou os elos); And you loosed the chains (E soltou as correntes); You carried the cross (Você carregou a cruz); And all my shame (E toda a minha vergonha); You know I believe it (Você sabe que eu acredito nisso).

Mas porque o narrador insiste em dizer que “ainda não encontrou o que estava procurando”? Creio que a resposta é simples: porque em Jesus não há procura. Jesus é capaz de cessar toda a procura. Sim: Ele é a fonte de água viva e não há procura pra quem já encontrou Jesus, porque “quem beber dessa água nunca mais terá sede” e Ele “é uma fonte que jorra para a vida eterna” (Jõao 4:13-14).

Deus é amor! É importante compreendermos isso: não é que Deus tem ou carrega consigo o amor; Ele É o próprio amor! Ou seja: se temos Deus conosco, temos o amor habitando em nós. Não é necessário procurar, porque Deus está aqui, em nós! Sua presença é capaz de cessar toda a busca e nos trazer a paz, que excede toda a compreensão e entendimento humano.

Que sejamos capazes de aquietar nossos corações e encontrar o amor de Deus que habita em nosso interior – que é dom gratuito, provido pelo Cordeiro Imaculado, Cristo Jesus, que deu a vida na cruz para nos salvar e liberou com esse sacrifício o Espírito Santo, Soberano Amor, que sacia a pessoa e cessa toda procura.

 

Neudson Freitas
em 25/09/2023, o dia mais quente dos últimos tempos.

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