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O CAMPING

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ADAPTAÇÃO DO TEXTO PRODUZIDO EM 8 DE OUTUBRO DE 2016.
Por Márcio Marques

 

O ser humano tem uma inerente atração pela natureza. Creio que é um dos legados do Éden,
quando nós e a natureza nos misturávamos na mesma paisagem, finamente desenhada por Deus.
Esse pertencimento é tão poderoso que bastam poucas horas em meio à natureza para que nossa
energia corporal seja reequilibrada, nossas emoções se harmonizem e nosso espírito entre na
contemplação do eterno.

Mas como somos uma criação muito diversa e heterogênea, o “gostar” da natureza tem várias
medidas. Alguns gostam tanto que trocam o conforto de uma casa com boas instalações, banheiro
privativo, ducha de água quente, colchão de espuma fabricada pela NASA e sucrilhos com leite, por
experiências espartanas, com baixíssimo conforto. Indivíduos que buscam maior sentido para a vida
entre árvores, cursos d’água, sombras e sóis, sons e silêncio naturais. São exploradores de novos
espaços e se ajustam facilmente ao ambiente.

Ao partirem para essas jornadas, carregam os itens que consideram essenciais, segundo suas
vivências: faca, pederneira, corda, lanterna… Principalmente os mais experientes conhecem a
equação: “conforto = peso” e muitas vezes o item “não vale o quanto pesa!” Desenvolver habilidades
é mais estratégico do que depender de muitos recursos. Quanto mais leve, mais rápido.

E qualquer caminho sempre traz consigo muitas possibilidades e desafios. As experiências mais
ricas são aquelas que nos apresentam contrastes mais intensos. Nossa alma, muito mais do que
nossa mente, ama o contraste. A mente prefere o conforto. Lembra da equação? “Conforto = Peso.
E as pedras no meio do caminho? Por mais belas ou representativas que sejam, não conheço
nenhum campeiro que atravessa a jornada colocando as pedras na própria mochila. Ninguém, em
sua plena capacidade, deseja carregar uma “mochila de pedras”!

Pois a vida se assemelha muito a um camping! Quando nos preparamos para encarar essa jornada – a vida – precisamos admitir algumas regras: sozinho pode ser mais rápido, mas é sempre mais difícil; navegue no claro, descanse no escuro; quanto mais desafiador o camping, mais experiente e mais
confiantes saímos dele!

É preciso admitir que o tempo e a prática nos habilitam a campear cada vez mais longe e em áreas
mais complexas. Mas, a despeito da nossa experiência, é certo que percalços ainda nos alcançarão.
Em regra, quanto maior a distância, maior será a probabilidade de nos depararmos com situações
desafiadoras. A diferença é que nas longas distâncias não é possível se esquivar dos problemas…
Enfrentá-los é a única opção!

Também é certo que os guias ajudam a caminhar. Eles nos mostram os destinos já conhecidos, às
vezes atalhos, dando-nos a oportunidade de caminhar com segurança. Normalmente o guia fez a
trilha inúmeras vezes e é exatamente isso que lhe dá autoridade para guiar outras pessoas. Nas
trilhas, nos negócios, nas nossas profissões, na vida espiritual, enfim, sempre encontrarermos
pessoas que reconheceram o terreno antes e estão dispostas a ajudar a sua e a minha caminhada.
Mas… e a mochila de pedras? E os acúmulos? E o lixo juntado, que às vezes não é possível largar
pelo caminho? É com essa carga que devemos agir com especial prudência. Não importa por qual
motivo essas pedras chegaram à sua mochila! O fato é que elas adicionam peso e complexidade à
caminhada. Assim como o lixo, ocupam espaço e causam desconforto.

É saudável, então, que o campeiro use uma estratégia inteligente para caminhar com melhor
rendimento: estabelecer pontos de parada! Neles, organizamos a mochila e os equipamentos – a
vida e as experiências – alijando o peso extra e o lixo acumulados. Naturalmente isso deve ser feito
em local apropriado, sem poluir o ambiente, que é um bem coletivo. O seu e o meu lixo nos
pertencem, e não à coletividade! Eu e você é que devemos dar destino a ele, evitando agredir o
ambiente.

Essa parada para ajustar a carga deixa a caminhada mais leve, possibilitando direcionar a energia
para aproveitar aquilo que verdadeiramente importa: o caminho! A jornada é a própria recompensa.
O destino serve de motivação, mas a jornada deve servir de inspiração. É nela onde as recordações
serão talhadas. Sendo direto, esse caminho é a vida! Essa jornada é o viver! Viver é o verdadeiro
tesouro, sem acúmulo de pedras nem lixo. Colecionando caminhos e destinos memoráveis.

Para consolidar essa experiência, sugiro a você uma caminhada que minha mulher e eu fizemos, há
07 anos, e ainda guardo grandes memórias. A trilha fica em Ilha Grande, no Estado do Rio de
Janeiro. Escolhemos o trecho que parte de um pequeno vilarejo onde ficam as pousadas e vai até
um antigo presídio de segurança máxima, hoje desativado e parcialmente demolido. Origem e
destino são separados por pouco mais de nove quilômetros (dezoito, ida e volta). O percurso é
incrustado na mata atlântica, onde existem pontos de parada com fontes naturais de água potável.
Nelas, o trilheiro pode se refrescar e buscar inspiração para o próximo lance.

Vá! Valerá à pena… Mas aqui segue uma recomendação adicional, além da tradicional garrafa de
água e frutas: vá olhando para fora (a natureza), para dentro (sua natureza) e para o alto. Dê a Deus
(dono de todas as naturezas) a oportunidade de acompanhá-lo nesses passos e para o resto de sua
jornada. Surpreenda-se com o prazer de campear a vida, com o Guia dos guias! Boa viagem…

 

Pr. Márcio Marques

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O que o futuro nos prepara?

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De todas as dimensões existentes, o tempo é a que mais nos consome, está mais próximo e mais nos aflige diariamente. Se você não for alguém que trabalhe em alguma área específica da construção civil ou de alfaiataria, dificilmente você terá uma trena ou régua com você para medir a distância e o tamanho das coisas que te rodeiam ou uma balança para aferir o peso. Mas, facilmente, encontramos pessoas com relógios nos pulsos, uns usam no braço direito, outros no esquerdo e outros no bolso, no celular, para medir e não se perder no tempo.

 

Em geral, a relação humana com o tempo é conturbada e tensa. Para muitas pessoas não é uma questão bem resolvida. Parece que estamos brigando diariamente com o relógio. Desde o dia em que nascemos o tic-tac está em contagem regressiva. A depender da concepção e da interpretação subjetiva, para uns cada dia que passa é um dia a menos, para outros um dia a mais.

 

A minha relação com o tempo é cheia de lutas perdidas. Era comum, na minha infância, chegar atrasado na escola. Morava a uns 3 km de distância da escola, as aulas começavam às 7h30 e ia à pé, mesmo assim saía de casa às 7h27, jurando que se andasse rápido chegaria antes do portão fechar. Resultado, perdia o início da aula. Resolvi esse problema do tempo somente no ensino médio quando os professores, me ensinando que poderia perder a prova do vestibular por chegar atrasado, foram rígidos com o horário comigo e fui aprendendo a planejar os horários. Ainda hoje perco a briga com o tempo, mas, graças a Deus, tenho uma família que me entende e me ensina todos os dias como ter uma relação melhor com o relógio.

 

Tentamos controlar, possuir, comprar e dominá-lo, estabelecemos uma relação de conquista com o tempo, a fim de nos sentirmos melhor em relação à sua passagem, típico comportamento de quem tem medo do desconhecido. Não é difícil encontrarmos pessoas com ideias mirabolantes para “ganhar mais tempo”. Mas, na verdade, o tempo nos limita e mostra o quanto somos pequenos, insignificantes e mesquinhos. Chegará o dia em que ele nos dirá: “Pare! daqui pra frente, não!” e ele nos reduzirá a pó. Em 100 anos, ninguém se lembrará de você. Muito dificilmente, a não ser algumas pessoas que foram bem próximas de você, alguém saberá a diferença que você fez no mundo.

 

Diante dessa noção de finitude, nos atrapalhamos e procuramos dominar o indominável. Uns negam a sua existência e vivem como se não houvesse amanhã. Vivem de forma irresponsável, inconsequente e sem planejamento. Normalmente, são taxados de hippies ou, dependendo da sua região, “bicho grilo”. Outros, contabilizam e precificam o tempo, mercantilizando o que não pode ser vendido, muito menos comprado.

 

É comum ouvirmos a frase: “Tempo é dinheiro!”. Essa frase significa que o tempo foi transformado em produto. Contudo, quando se dá um passo a mais na análise dessa frase percebe-se sua incoerência e insustentabilidade. Você, definitivamente, não compra mais tempo, porque você não pode estocar e guardar tempo para usar em outra oportunidade. Você não pode vender ou emprestar o tempo nem dar mais tempo a outra pessoa. O tempo é intransferível e inalienável. Cada um tem o tempo determinado por Deus.

 

Mas como podemos encarar o tempo e não temer o futuro sem ficarmos ansiosos? Como nosso relacionamento com Deus expressa nossa relação com o tempo? O que Deus nos revelou a respeito do tempo? No livro de Atos, no capítulo 1, versículo 7, Jesus diz que não cabe a nós saber do futuro:

“Ele lhes respondeu: “Não lhes compete saber os tempos ou as datas que o Pai estabeleceu pela sua própria autoridade.” NVI 

 

Não sabemos o futuro e não podemos conhecê-lo. Quem tentou planejar sua vida nos mínimos detalhes percebeu que é impossível prever o futuro, no máximo podemos fazer uma análise probabilística, mas nada garantido.

 

O livro de Eclesiastes, no seu capítulo 3 nos ensina haver tempo para tudo e que Deus colocou em nós um anseio pela eternidade, mas mesmo assim não temos condição de compreender tudo o que ele fez e fará.

 

A noção de eternidade nos cura da incredulidade e fortalece nossa fé, dando-nos condições de superar a ansiedade e nos direcionar para o agora, para desfrutar do melhor que nosso Pai reservou para cada um. Na medida em que conhecemos a Ele, confiamos em Suas promessas e somos cheios de Sua Palavra, mais perto e conscientes da eternidade estaremos. Como a eternidade não depende ou é condicionada pelo tempo, podemos viver agora como viveremos quando Jesus voltar. Obviamente, com restrições, porque ainda não fomos completamente restaurados, mas, com certeza, podemos experimentar o eterno neste momento.

 

Jônathas Calil, Águas Claras, inverno de 2023.

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Criando oportunidades.

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A palavra “oportunidade” é um substantivo feminino oriundo do latim opportunitate mas também deriva do termo em latim opportunus que significa “favorável, adequado, desejável”. Na Bíblia, oportunidade significa uma ocasião favorável, conveniência. Podemos encontrar em Colossenses 4:5: “Sejam sábios no procedimento para com os de fora; aproveitem ao máximo todas as oportunidades”. Já em Efésios 5:15-16 fala que: “tenham cuidado com a maneira como vocês vivem, que não seja como insensatos, mas como sábios, aproveitando ao máximo cada oportunidade, porque os dias são maus”. Como vocês têm aproveitado as oportunidades? Oportunidade em ser uma pessoa melhor? Uma esposa ou um marido melhor? Uma mãe melhor? E uma filha melhor?

 

Desde quando decidi mergulhar em águas profundas com Deus, cada dia que se passa eu tenho a plena convicção que meu maior propósito de vida é fazer a diferença na vida de alguém! É poder ser luz onde tem escuridão. É Sair do comum. Do automático. Sair da cadeira de balanço que só vai para frente e para trás, mas não me leva a lugar algum. A partir daqui segue um testemunho… Talvez o maior que já vivi até hoje.

 

Nunca tive abraço, colo e amor de mãe. Nunca tive minha mãe me levando ou me buscando na escola. Nunca tive minha mãe sentada na plateia na apresentação da escola no dia das mães…  Ela trabalhava demais. Em outra cidade. Saia cedo e voltava a noite. Quando meu filho mais velho nasceu, eu quis criar a oportunidade em fazer diferente. Eu quis dar muitos beijos, abraços, presença. Eu quis dar o amor que nunca tive. Mas não era fácil dar o que nunca tive. Doía. Doía lembrar da ausência de amor. Foi quando tive um encontro lindo com o Pai, me lembrando que para toda dor e sofrimento, Ele vem e constrói uma estrada, porque Ele é o caminho. Ele é a cura. E que não existe vida com Deus, sem mudança de vida. Eu sou amada pelo Pai! E isso ninguém muda!

 

Aprendi com uma grande amiga e irmã de caminhada, que nossa vida é como um jardim. Se plantamos amor, alegria, sabedoria, colheremos amor, alegria e sabedoria. Porém, se plantarmos ausências, ódio, murmuração, assim também colheremos. Deus é tão maravilhoso que Ele nos dá o livre arbítrio em escolher o que queremos plantar durante nossa caminhada. Mas Ele é justo, porque só colhemos o que plantamos. A lei da semeadura é maravilhosa. Cheguei a conclusão que no jardim da minha mãe nunca teve a semente do amor. Como então, ela poderia me oferecer algo que nunca teve? Infelizmente ela não criou oportunidade de assim fazer. Eu criei. Tenho dado muito amor para meus filhos. Mas ainda me faltava algo. Eu precisava criar a oportunidade de plantar a semente do amor no coração da minha mãe.

 

Aos que me conhecem, sabem o quanto eu amo receber pessoas e uma mesa posta. Acredito ser uma forma de demonstrar amor e cuidado. Para mim a mesa é sagrada. Foi à mesa que Jesus partilhou o pão e o vinho. Mesa para mim é comunhão. É cura. E eu nunca tinha feito uma mesa para honrar a vida da minha mãe. Ano passado. No final de semana do acampamento de pais e filhos chamado Papai-Offline, estávamos eu e minha mãe em casa, sozinhas. Eu pensando o que poderia dar de presente para minha mãe, afinal, seria o aniversário dela no outro dia. Foi quando ouvi, audivelmente, Deus falando que eu deveria fazer uma mesa para minha mãe e honrar a vida dela. E assim eu fiz.

 

Logo cedo, coloquei meu melhor sousplat, minhas melhores louças, comprei bolos, docinhos e a esperei na mesa. Nos abraçamos e eu então comecei a derramar virtudes na vida dela. A dizer que ela era e sempre foi amada. Que a bondade de Cristo estava sob a vida dela… Então, ela disse: “Filha, obrigada por tudo. Eu também te amo”. ALI FOMOS CURADAS! Depois de 38 anos eu pude receber um abraço da minha mãe e depois de 65 anos eu tive a oportunidade em colocar a semente de amor na vida dela.

 

O meu desejo é que possamos ser lembrados como pessoas ousadas e sábias que criam e aproveitam as oportunidades de plantar sementes do amor, nesse mundo tão passageiro e breve.

 

Talitha Silva Kitamura, esposa do Marcel, mãe do Gabriel e do Samuel. Advogada.

24/08/2023

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Qual a força que te move?

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Há alguns anos, eu desenvolvi a crença de que preciso “romper a inércia” pra vencer a procrastinação. Mais tarde, eu resolvi aprofundar minhas reflexões sobre isso.

 

“A inércia é a tendência de um objeto em repouso permanecer em repouso e um objeto em movimento continuar em movimento, a menos que uma força externa atue sobre ele. Em outras palavras, os objetos têm uma “preguiça” natural de mudar seu estado de movimento devido à inércia.” (Chat GPT, 18.08.2023)

 

O ser humano tem uma tendência a procrastinar e essa tendência é mais forte em pessoas que dependem de incentivos externos para motivação. E isso não sou eu quem tá falando. É um achado defendido por muitos estudiosos do comportamento humano, como Deci e Ryan, em seu artigo de 1985, sobre a Teoria da Autodeterminação. Quando a motivação não vem de dentro, ela tem capacidade reduzida de imprimir a ação. Isso resulta em adiamento, já que a falta de interesse genuíno dificulta o início e a concentração nas atividades. Quanto menos a motivação própria (intrínseca) estiver presente, maior a chance de procrastinarmos.

 

Ou seja: meu “locus de controle interno” é meu melhor antídoto contra a “preguiça” (ou inércia, chame como quiser) que me impede de avançar. Já parou pra pensar quantas desculpas verdadeiras vem às nossas mentes todos os dias, como forças que nos impedem de avançar na direção da história que Deus tem escrita para nós?

 

Lembro-me bem do momento em que eu pensava em me matricular no mestrado: eu tinha um filho recém-nascido; um trabalho intenso com muitas viagens; um currículo consolidado, que já não dependia tanto de novos títulos; outros projetos e objetivos concorrentes. Motivos de sobra pra justificar um adiamento (ou abandono) da decisão. Com a ajuda da minha esposa, eu rompi a inércia. E, para além da decisão da matrícula, eu precisei romper outras vezes, para concluir as disciplinas, construir a dissertação e o artigo. Ao final desse processo, diploma na mão e um artigo publicado em um dos melhores periódicos acadêmicos do mundo. Uma sensação de vitória sem preço, graças a Deus!

 

Muitos serão chamados, mas poucos serão aqueles capazes de se mover na direção do chamado (Marcos 10:28-31). E Deus quer de nós essa capacidade de rompermos a inércia na direção dos planos Dele. Quando o povo de Deus avistou a terra prometida, eles viram o quanto ela era vistosa, mas ficaram reticentes em avançar (Números 13:31-33). Muitos, que estavam a um passo da benção, dos planos que Deus revelou a eles, não alcançaram essa benção porque não conseguiram romper a inércia e se juntar a Josué e aos que conquistariam a terra prometida (Josué 21:43-45).

 

Todos os dias, portas se abrem em direção à nossa terra prometida. Cabe a nós venceremos as forças externas e as desculpas verdadeiras que querem nos manter no mesmo lugar. Devemos buscar dentro de nós a inspiração divina para rompermos a inércia! O que nosso Deus quer de nós é avanço! Avancemos!

 

Neudson Freitas

Para o Café com Deus, 18.08.2023

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O que você coleciona enquanto caminha?

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Para o sábio, que aprendeu a aprender, as pedras, o vento e a chuva ensinam lições importantes. Na humanidade, não há ninguém tão sábio que não tenha nada a aprender, nem ninguém tão ignorante, que não possa ensinar algo significativo.” (Carlos Cardoso, na contracapa do livro Aprendendo a Aprender – de Trinidad Hunt)

 

Foi em abril de 2014. Aquele dia tinha um glamour especial pra mim – afinal, era uma reunião ordinária importante, em uma mesa com notáveis autoridades. Eu queria contribuir; eu havia me preparado; estudei os assuntos; tinha ideias que eu considerava realmente muito boas. Entrei na sala, coloquei meu material sobre a mesa e, não demorou, comecei a intervir com minhas ideias e convicções, tagarelei como uma criança empolgada diante de uma descoberta. Ao final, o Presidente fechou a ata. Eu percebi que pouco do que eu falei foi realmente útil ou aproveitável. Caiu a minha ficha: ocupei o tempo de todos, enquanto eu ouvia a minha própria voz. Agi como uma criança entre adultos. Não era assim que eu alcançaria o respeito daqueles profissionais seniores e experientes.

 

Nos dias que se seguiram aquele episódio, eu me culpava por minha ingenuidade. Como eu pude ser tão sem noção!? Num momento em que eu esperava obter a admiração e o respeito das pessoas à mesa, eu me tornei o maior detrator da minha própria credibilidade.

 

Resolvi levar o tema pro “divã” de uma mentoria que eu estava fazendo com um profissional mais experiente. Ele ouviu atentamente a história, me olhou fixamente e disse: vamos fazer a dinâmica do barco. Imagine um barco perfeito, feito para navegar nos mais diversos mares, calmos ou revoltos. Esse é o barco da sua vida. Nesse barco, para suas viagens, você pode convidar quem quiser, mas há três passageiros obrigatórios: 1) o timoneiro, você diz a ele pra onde o barco deve ir e ele leva (você leva o barco da sua vida para onde quiser); 2) o sabotador, pra te lembrar que se você titubear, alguém vai puxar o seu tapete (fique atento); e 3) o professor – que só responde a uma única pergunta “o que eu posso aprender com isso?” em qualquer acontecimento.

 

No transcorrer da dinâmica, eu descobri que, diante de erros ou frustrações, eu tenho sempre duas opções de colheita: culpa ou aprendizado. A culpa é como uma pedra, que vai pesando na mochila ao longo da caminhada. Já o aprendizado é libertador.

 

A trajetória de Paulo ressalta a ideia de que ele só poderia seguir plenamente a missão designada por Deus depois de internalizar lições cruciais. Suas experiências pessoais o ensinaram sobre humildade (Filipenses 3:7-8), empatia e a importância de se submeter à vontade divina (Romanos 12:2). Assim, Paulo se tornou um exemplo de como a compreensão espiritual profunda e a transformação pessoal podem capacitar alguém a viver uma vida plena e significativa, cumprindo o propósito que Deus lhe destinou.

 

Paulo, inegavelmente, tinha uma missão importante preparada por Deus. Mas ele precisava aprender e evoluir, para seguir em frente em sua missão. Somos naturalmente vocacionados ao aprendizado e precisamos aprender pra avançar no projeto que o Pai tem para nós. Enquanto o aprendizado nutre a nossa evolução, a culpa pesa, retarda e bloqueia nosso acesso aos planos de Deus. Ele não quer que sintamos o peso da culpa. Foi por isso que Ele deu a vida do Seu Filho Unigênito para nos dar libertação total. Ele, Jesus, não lavou “parte” da nossa culpa, Ele lavou TODA a nossa culpa.

 

Diante do sacrifício de Jesus pela nossa salvação, não há quem possa nos condenar (Romanos 8:34). Nem mesmo nós próprios. Essa é uma reflexão importante, porque muitas vezes o inimigo irá tentar nos confundir e lançar sobre nós o peso da culpa, mas Ele, o Nosso Deus, nos deu um espírito de amor e equilíbrio (2 Timóteo 1:7).

 

Julho de 2023, estou participando da mesma reunião ordinária, que continua tão importante quanto era quando eu cheguei, há 9 anos atrás. Agora, eu me despeço das pessoas, que gentilmente agradecem minhas contribuições, convívio e realizações. Encerro essa etapa tendo a honra de presidir a mesa, enquanto reflito sobre minha colheita durante a jornada. Deixar as pedras pelo caminho, enquanto colhemos o aprendizado de cada erro ou frustração, é libertador. Somos vocacionados ao aprendizado e totalmente livres de qualquer culpa.

 

Neudson Freitas

Para o Café com Deus, em 16.08.23

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Procura-se um amigo para o fim do mundo

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CENA 1:
Era dia dos pais e a típica homenagem estava sendo realizada. Cada filho dando de presente para seu pai uma almofada estampada ou com as marcas das mãozinhas, se não-alfabetizado, ou com uma frase de carinho, se já alfabetizado. Apesar de aquele ser um garoto muito dócil e educado, era visível a inquietação daquele menino sem pai. Ao contrário dos demais, ele não tinha a quem presentear sua almofada. Ficou exitoso entre entregar para a mãe ou a avó… Sob o pretexto da dúvida, num processo de catarse emocional, atirou-a vigorosamente, como um projétil, em direção a elas. Qualquer pessoa menos atenta podia perceber a raiva que invadia seu coração… Ele não podia entregar seu presente para seu pai, um amigo para o fim do mundo.

CENA 2:
Dentro da discoteca de CDs importados e raridades a conversa despretensiosa com a atendente deságua, sem qualquer razão aparente, no tema: perdas nos relacionamentos familiares. A moça abre o coração ao cliente novato e confessa, em dez minutos, que a ausência da figura paterna em sua formação significou uma marca emocional que dificulta seu relacionamento com a vida e consigo mesma. Diz crer que as mulheres que tiveram uma presença masculina no transcorrer da vida, são mais seguras.

CENA 3:
As estórias dos protagonistas, interpretados por Steve Carell e Keira Knightley se cruzam quando faltam poucos dias para um meteoro chocar-se com a terra e o mundo acabar. Várias pessoas aproveitam seus últimos dias de vida para fazerem todos os tipos de transgressões que jamais fizeram. Contudo, estes dois personagens buscam o sentido final de suas vidas tentando resgatar seus relacionamentos familiares deixados para trás. A vida passa a fazer sentido se os desencontros converterem-se em rendição afetiva. Steve Carell perdoa seu pai, recuperando seu sorriso e, já com o coração limpo da mágoa, encontra um novo amor para passar o fim do mundo em paz.

CENA 4:
Para fugir dos traumas do passado, o caminhoneiro João resolve deixar sua cidade natal para trás e cruzar o país. Ele dirige Brasil afora, sempre solitário, até que numa de suas viagens descobre que o menino Duda se escondeu em seu caminhão. Duda é órfão de mãe e está à procura do pai, que fugiu para São Paulo antes mesmo dele nascer. A contragosto, João aceita levá-lo até a cidade mais próxima. Entretanto, durante a viagem nascem elos entre os dois, que faz com que João tenha coragem para enfrentar seu passado. A paternidade perdida e a resgatada e suas duras conseqüências são o foco do filme “À Beira do Caminho”, de Breno Silveira. Trilha sonora toda de Roberto Carlos.

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Além destas quatro cenas, uma quinta, que não será relatada, povoaram meus últimos sete dias.

Uma série de doenças de alma, traumas, angústias, inseguranças, raivas e relacionamentos mal resolvidos com Deus são conseqüências de ausências ou relações mal resolvidas com progenitores, especialmente com a figura paterna. Quanto lixo emocional é depositado na alma da pessoa que experimentou a ausência paterna. Por vezes o mal cheiro desta latrina passional contamina os relacionamentos futuros, impedindo que a vida da pessoa exale o cheiro das flores.

Traumas advindos de separações mal feitas ou matrimônios preservados à base de formol (com aparência externa, mas sem vida interna, expostos em prateleiras sociais dentro de vidros estéreis).

Nosso desafio, como indivíduos, é não repetir a estória de terror em nossa família. Não reviver na vida dos nossos filhos o enredo da desgraça emocional fruto de nossos relacionamentos conjugais conturbados ou inexistentes.

Vidas saudáveis são construídas com relacionamentos e famílias saudáveis. Nossa escolha tem de ser pelo amor à próxima geração, nossos filhos, não entregando ao mundo novos órfãos emocionais, que, doentes da alma, serão infelizes, cheios de culpa e julgadores da sociedade e de Deus pela equivocada escolha de seu pai ou mãe.

O maior legado que alguém pode deixar para a sociedade ou para seus filhos é esforçar-se ardentemente por preservar um relacionamento conjugal equilibrado, que refletirá diretamente na saúde psicoemocional da prole.

O melhor amigo para o fim do mundo é o pai.

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Da trilha sonora do filme “Procura-se um amigo para o fim do mundo”

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A BÊNÇÃO NÃO É DEMOCRÁTICA?

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Nosso café da manhã de hoje foi uma daquelas raras oportunidades de sentar-se à mesa para um longo bate-papo qualificado sobre os mistérios da vida. O assunto era porque pessoas socio-culturalmente semelhantes podem ter trajetórias de vida tão distintas. O tema é vasto! Um dizia: “não gosto que me chamem de privilegiado, pois nada ganhei de mão beijada, ao contrário, sempre trabalhei mais de dez horas por dia nos últimos trinta anos…” Outro refutava: “o simples fato de você ter trabalho já é um privilégio”. Outro ainda: “Creio que para um ter, outro tem de perder”.

 

Refutei esta última opinião e asseverei que não creio que quem tem necessariamente tirou de alguém, pois no mundo atual, podemos produzir algo novo, do zero, sem ter que tirar de ninguém, e como exemplo, falei da rede social (Facebook, por exemplo) que foi um invento do nada, pela inteligência e perspicácia do inventor (Mark Zuckerberg), ele não apenas ficou rico, como gerou milhares de empregos, impostos e aumentou a riqueza de inúmeras famílias que hoje tem trabalho. Tentei explicar que dinheiro é “criado” quando se cria produtos e serviços que antes inexistiam, mas é difícil tanto explicar quanto entender esta Lei da Economia. Uma forma de exemplificar de maneira irrefutável é analisando o volume de dinheiro em circulação:

– Quando estávamos nascendo, em 1965, o volume total de dinheiro em circulação era de 40 bilhões de dólares;

– Em 1995 (quando nossos filhos eram criança) o volume em circulação já era dez vezes maior:  400 bilhões de dólares;

– Hoje termos em circulação 2 trilhões e 400 bilhões de dólares em circulação (“apenas” 2 trilhões a mais);

(Fonte: https://fred.stlouisfed.org/series/MBCURRCIR)

Ou seja, para suprir a demanda, o dinheiro foi sendo “criado” conforme os serviços e produtos foram sendo produzidos. Apesar de toda desigualdade social atual, vivemos o momento de maior prosperidade na história de toda a humanidade. Nunca se comeu tantas calorias por dia, nunca se teve tanto acesso a tantos recursos. Nunca circulou tanto dinheiro. Um trabalhador de hoje é mais rico que Napoleão Bonaparte, que tinha barras de ouro guardadas no subsolo, mas não tinha penicilina, nem Tylenol, nem água quente encanada, luz elétrica ou viagens confortáveis de ônibus: a realeza tinha luxo, mas não conforto. Só este parágrafo pode ser a base de um grande debate, mas não é nosso foco.

 

O bom (ou ruim) desta conversa é que não se chega num consenso facilmente. Quando o debate é com pessoas sensatas, ninguém cancela ninguém, ninguém levanta a voz e ninguém quer ter a razão via fórceps, pois sabe que em relação aos mistérios da vida, o que vale é a prospecção, pois a verdade ainda está oculta. Ao redor da mesa, todos eram pessoas que tinham iniciado a vida em escassas condições financeiras e todos ali haviam conquistado vida confortável. Qual o mistério? Porque pessoas socio-culturalmente semelhantes podem ter trajetórias de vida tão distintas? Particularmente penso que tudo é fruto da Graça de Deus. Creio que o Mistério de Deus nos coloca no lugar certo na hora certo, mas dependerá de cada um abraçar ou não as oportunidades que aparecem em seu caminho. De fato, nenhum preguiçoso mudará para melhor a história sua ou da humanidade. Para quem não é herdeiro ou pensionista, construir e evoluir sempre exigiu uma boa dose de esforço, persistência, insistência, disciplina e trabalho.

 

Conversava com uma nova amiga que me contava animadamente a vida de seu finado pai e como ele chegou elevado cargo no governo. Disse-me ela que lá pelos idos da inauguração da nova capital, seu pai trabalhava na Novacap. Belo dia ele atende uma moça que lá estava para resolver uma questão do seu lote; durante a conversa, ela reclamou muito pois quem construiu a piscina dela fez algo errado e não parava de vazar água e tal. Sem nada dizer, após ela ir embora, ele anotou o endereço, dirigiu-se até a casa dela, arrumou o vazamento da piscina e foi embora, sem nada cobrar por aquela gentileza. Dias depois ela retorna na Novacap acompanhada do pai dela, que fazia questão de conhecer aquela boa alma e se apresenta dizendo: “Obrigado pelo favor que você prestou à minha filha. O Brasil precisa de homens como você. Meu nome é José Sarney. O que você acha de ser Governador do DF?”  O resto é história… Uma gentileza que anos depois virou um mandato.

 

Li sobre um cara que, mesmo sendo ele presidiário, soube aproveitar a pequena oportunidade que a vida lhe deu. Dizem que bandido bom é bandido morto, mas este em questão deu sorte, e ainda estava vivo. O crime dele foi estupro, porém como a maioria, jurava que as provas eram inconsistentes e que havia sido condenado injustamente, por um crime que não havia cometido. Contudo, como nestes casos a palavra da mulher tem mais peso nos tribunais, a razão ficou com a suposta vítima. Este cara soube fazer amizades certas dentro do presídio, que foram muito úteis a ele no futuro. Um dos colegas de cela cumpriu sua pena e retornou para o convívio da sociedade. Teve um dia que o patrão deste colega solto estava muito angustiado, pois tinha sonhado e não sabia do que se tratava. “Patrão, conheci um cara na cadeia que faz interpretação de sonhos e nunca errou!”. O resto já sabemos, dia seguinte, José estava frente a frente com o poderoso Faraó do Egito e revelou-lhe o sonho! Mas José foi além disto, ele também fez Marketing Pessoal, ao dizer para Faraó: “…Portanto, Faraó, agora arrume um cara esperto, tipo eu assim, para cuidar dos seus negócios!” Deu certo! Este também foi contratado como Governador. Ele estava no lugar certo, na hora certa, estava preparado e soube aproveitar a oportunidade. Dois governadores pelo acaso… Ou pela bênção? E você, o que acha? A bênção é ou não democrática?

 

 

Luciano Maia

Agosto’2023

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ONDE ESTÁ SEU CORAÇÃO?

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Dentre as célebres frases de Oliver Wendell Holmes, gosto de uma que diz “o que se encontra atrás de nós e à nossa frente são problemas menores, comparados com o que existe dentro de nós”.

 

Eu me lembro bem daquela psicóloga, Dra. Jaqueline. Eu havia contratado um serviço de “assessment” para me preparar pra um importante processo seletivo. Ela abriu a reunião final de avaliação dizendo, num tom cortante, “Você irá passar!”. Era pra ser uma boa notícia. Deveria ser. Mas eu senti no tom de voz que havia algo errado. Ela complementou: “Você demonstra um perfil muito aderente ao do Executivo que eles estão procurando. Você irá passar! O que me preocupa é que ‘seus ovos estão todos na mesma cesta’. Seu trabalho é tudo pra você nesse momento. Se ele te decepcionar, você cai e não levanta”. Um pouco mais tarde, realmente, eu fui aprovado naquele processo. Mas a mensagem da Dra. Jaqueline permaneceu ecoando no meu ouvido. Eu precisava ampliar o significado da minha existência. Tudo que Deus fez é tão grandioso. Eu não poderia limitar o significado da minha vida ao trabalho, carreira ou qualquer outra coisa tão restrita.

 

Daquele ponto em diante eu decidi amplificar o significado da minha vida. Eu passei a pedir persistentemente a Deus uma família. Ele, Perfeito que É, me enviou uma esposa linda e virtuosa e, logo, veio também o nosso primeiro filho. As coisas estavam indo muito bem. Minha carreira prosperava e, mais rápido do que eu esperava, fui promovido novamente. Eu estava satisfeito com meu próprio desempenho. As coisas estavam indo muito bem e acima de qualquer expectativa. Foi então que, num piscar de olhos, a cesta com os ovos caiu no chão: fui comunicado, com a típica frieza empresarial, que havia uma reestruturação em curso e que meu cargo estava sendo cortado. E agora? O que vou dizer lá em casa? Nosso filho é praticamente um recém-nascido; dependemos do meu salário pra manter nosso padrão de vida… como vou contar isso pra minha esposa? Ela se casou com um executivo de sucesso e agora vem esse fracasso. Como era inevitável não enfrentar os fatos, resolvi contar. Eu me lembro que olhei pra minha esposa com meu filho no colo e, ao tentar começar a falar, chorei. Como raras foram as vezes que ela me viu emocionado, ela se assustou: “Amor! O que houve!”. Eu segui chorando. Ela disse: “Por favor, me conte! Estou preocupada!”. Eu disse: “Amor, eu fui descomissionado. Perdi meu cargo no trabalho.”. Ela me olhou aliviada e disse: “Ah! É só isso!? Eu me assustei. Pensei que fosse algo grave”. Eu não entendi direito: “E não é grave?”. Ela me abraçou e disse: “Nós te amamos! Vai ficar tudo bem. Você é capaz e não te faltará emprego. Pense pelo lado bom… vamos ter mais tempo pra estarmos juntos!”.

 

Gênesis 2:8 retrata um pouco da dinâmica nômade de Abraão. Onde ele chegava, ele armava a tenda e edificava um altar ao Senhor. Veja como isso é forte: edificar o altar fala do foco, dedicação e investimento no eterno. A tenda pode ser simplesmente armada, porque ela é temporária. Mas o altar ao Senhor é edificado – porque é sobre o eterno. No dia em que minha esposa me acolheu e me disse que para a minha família eu sou muito maior que um emprego ou um cargo, ela me mostrou que eu já não guardava mais todos os ovos na mesma cesta. Ela me ajudou a refletir sobre a importância de eu guardar meu coração para o eterno e não para o temporário.

 

Mas não para por aí. As escrituras deixam claro como Abraão e Sara queriam ter filhos, para estabelecer a sua descendência (Gênesis 15:1-2; e 17:17). Deus cumpriu sua promessa e deu a eles o filho Isaac (Gênesis 21:2) e, mesmo sabendo do deleite de Abraão e Sara com a chegada de Isaac, filho da promessa, Deus pediu que Abraão sacrificasse Isaac (Gênesis 22:1-2). Deus não queria a vida de Isaac, tanto é que interrompeu o sacrifico do rapaz quando Abraão avançou (Gênesis 22:11-12). Deus queria o coração de Abraão, de forma integra e livre.

 

Não é sobre emprego, carreira, família, negócios, dinheiro ou qualquer outra coisa temporária. Deus quer meu coração no eterno. Numa cesta segura, integra, inquebrável, que me dá a liberdade de descansar em Deus, enquanto Ele faz a Sua obra. Essa é a graça suprema de Deus: seu amor por nós é tão especial, que ele não quer nos ver escravizados aos falsos ídolos das coisas terrenas e passageiras. Ele quer que experimentemos a liberdade de termos nosso coração na eternidade.

 

Que Ele nos dê um coração ensinável, pra nós não precisarmos sofrer enquanto evoluímos..

 

Neudson Freitas

Brasília, 3 de Agosto de 2023.

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DE PERTO NINGÉM É NORMAL.

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Todos somos assombrados privadamente pelo medo de sermos assustadoramente esquisitos.
Nossa cultura tentou projetar uma ideia de uma identidade organizada, equilibrada e educada como a forma de ser padrão das pessoas. Isso nos estimula a não termos paciência e nos aborrecermos conosco mesmos quando não correspondemos às expectativas.

Queremos gritar que precisamos parar, nos recompor e deixar de sermos tão fracos e tão esquisitos. Mas, na verdade, ninguém é muito normal. As únicas pessoas que podemos considerar equivocadamente “normais” são as que ainda não conhecemos muito bem. De perto, somos todos gloriosamente confusos e excêntricos. Isso não é motivo de vergonha, apenas a confirmação de nossa humanidade básica compartilhada.

Em vez de esperar que sejamos normais no sentido de sermos calmos, coerentes e racionais, nos
envergonharmos quando isso não acontece, é muito melhor reconhecermos a onipresença e a pura
normalidade da loucura, do desvario e do alarme em cada alma humana. Somos todos fascinantemente
peculiares.

Uma coisa que Jesus Cristo faz muito bem é nos colocar em contato com a nossa humanidade. Quando ele decide deixar de nos chamar de servos e passa a nos chamar de ‘amigos’, ele está nos ensinando o exercício mais difícil que tem, o de abrirmos nossas intimidades para Ele. Mais que serviçais, Jesus quer um relacionamento pessoal, de amigo, com cada um de nós.

Ser amigo de Deus não é fácil, mas é uma meta. Se Deus já sabe tudo o que eu fiz, faço e farei, talvez eu possa presumir que não preciso contar nada de minha vida íntima para ele. Contudo, este ‘contar a própria vida’ para Jesus tem um efeito psicoterapêutico espetacular. Quem ganha é quem conta. “Quem canta, seus males espanta”. Mas quem conta, seus males exorciza. Muitos pagam caro para que um terapeuta ou um psicólogo possam os ouvir e dizer: “Ahã!” Sem desmerecer a importância destes profissionais, posso afirmar que conversar com Deus, francamente e com voz audível, tem um poder de cura assombroso. Isto é a oração que cura e resolve. Oração terapêutica. Nestas conversas que a gente vai reconhecendo nossos defeitos (aquilo que a teologia chama de pecado), e vamos achando os meios de cura da alma e de libertação do estilo de vida.

Nelson Rodrigues, sempre lúcido e irônico, disse: “Se cada um soubesse o que o outro faz dentro de quatro paredes, ninguém se cumprimentava.” Temo que ele esteja cheio de razão… Talvez a única pessoa incapaz de se ruborizar com nossos segredos seja Deus mesmo. Se assim o é, porque não rasgarmos o verbo com ele? Batermos longos papos sobre nossas misérias, medos, inseguranças e malvadezas?
A cura da nossa alma e dos nossos medos (o que alguns poderiam chamar de libertação do pecado) passa necessariamente por esta “terapia divina”, ou seja, sentarmos no divã de Deus e rasgarmos o coração e o
verbo. Caetano Veloso empresta a frase que virou título deste artigo, ou seja, “de perto, ninguém é normal”.

Seja anormal, mas com Deus! Afinal, ele veio para os doentes. Não para os sãos.

Luciano Maia

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QUAL FOI SUA ÚLTIMA VEZ?

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Qual a última vez que você abraçou seu filho sonâmbulo, quando ele ainda insistia a achegar-se nas madrugadas, interrompendo seu leito conjugal?

 

Qual a última vez que você viu aquela sua grande amiga do ensino médio, cujos pais mudaram de cidade e hoje você não mais a encontra nas redes sociais?

 

Qual foi a última vez que você conversou com aquele seu amigo, que foi transferido para outro estado, e o tempo encarregou-se de afastar vocês?

 

Qual a última vez que você saiu com seus amigos de juventude e chegou tarde da madrugada, feliz, porém sob os protestos de seus pais?

 

Qual foi a última vez que seu filho se sentou em seu colo? Ou melhor, você se lembra qual foi a última vez que você se sentou no colo de sua mãe? Se lá atrás eu soubesse que aquela seria a última vez, o colinho derradeiro, certamente que eu teria aproveitado aquele colo quente muito mais.

 

Qual foi a última vez que você andou de bicicleta com a turma de juventude lá do seu bairro? E aquele primo, que foi seu cúmplice nalgumas aventuras confidenciais? Hoje ele parece mais um estranho…

 

Mesmo sabendo que nada se repete do mesmo jeito e que, portanto, temos que aproveitar cada dia como se fosse único, além disto, cada dia é também a última vez de alguma coisa. O que torna os dias e os pequenos rituais cotidianos ainda mais sagrados.

 

Quando chegou a hora, Jesus sentou-se à mesa com os apóstolos e disse para eles: “Como tenho ardentemente desejado comer esta Ceia da Páscoa com vocês, antes do meu sofrimento! Pois eu digo a vocês que nunca comerei esta Ceia de novo, até que eu coma o verdadeiro jantar que haverá no Reino de Deus”. Então Jesus pegou o cálice de vinho e deu graças.

 

Jesus tinha a clara noção da “última vez”, e queria aproveitá-la muito bem. Jesus queria curtir cada segundo com seus amigos discípulos. Ele desejava estar em volta da mesa com eles e sabia que seria a derradeira Ceia. Certamente que ele soube aproveitar cada momento, cada último olhar, cada gole de vinho, sentindo-o bem em suas papilas gustativas. Cheirou o pão, sentiu o aroma do trigo, como se fosse a última vez, pois sabia: seria mesmo a última refeição de sua vida.

 

Tenho feito este exercício com muita frequência já há alguns meses. Ponho o garfo na boca e sinto, detalhadamente, o sabor, os aromas e a deglutição. Sento à mesa e observo, cada detalhe e cada movimento, pois podem ser derradeiros. Nos últimos meses, quando abraço alguém e digo “até logo!”, tenho abraçado com gosto, com vontade mesmo, e cuido em olhar nos olhos, sentir o cheiro, dar e receber carinho sem medida, pois, pode ser a última vez…

 

Um pode adoecer, outro pode mudar, outro pode aborrecer-se e brigar, outro ainda pode falecer… Não sabemos de nada. Resta-nos aproveitar cada olhar e cada abraço, como se derradeiro fosse.

 

Qual foi sua última vez?

Luciano Maia
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