Dedico esse texto a todos aqueles que, como eu, trabalham muito e arduamente, baseados na crença de que esse é o melhor e único caminho para uma vida estável e confortável. Acordei em um hotel muito simples na cidade de Orlando nos Estados Unidos. Hotel de trabalhadores locais, condizente com o orçamento que tínhamos para o último dia da nossa viagem familiar. Na cama ao lado, meu genro
ainda dormia enquanto minha filha trocava em silêncio a fralda da minha netinha de quatro meses que dava gritinhos de alegria ao ver sua mamãe no início da manhã.
Após alguns preciosos minutos de preguiça, levantamos todos e nos preparamos para irmos ao aeroporto – Luciana, minha filha, e seu esposo Stevan, nos levariam para embarcarmos no voo de volta ao Brasil. Voo simples, com conexão na cidade do Panamá, comprado com milhas como fruto da melhor barganha possível para a viagem de cunho familiar – precisava ir visitar meus pais americanos, os quais envelhecem e adoecem rapidamente após trinta anos do primeiro dia em que nos encontramos em meio às alegrias do intercâmbio cultural. Após o café da manhã de bagles com cream cheese e waffles cheias de caramelo regados a café ralo, saímos alegres e gratos para o aeroporto. Ao chegar, nos despedimos da netinha delícia, agradecemos e abraçamos calorosamente os filhos que ficaram nos Estados Unidos por mais um dia e nos dirigimos para a fila do check in. Duas malas apenas, bem diferente das muitas vezes em que retornamos para casa repletos de compras. Na bagagem de mão, o novo capacete de hipismo do nosso filho caçula. Prioridade para nós, item mais caro adquirido durante a nossa breve e simples
viagem.
Check in, detector de metais, portão de embarque e éramos os primeiros da fila para entrar no avião após os passageiros preferenciais e os felizardos da Primeira Classe. Entramos na aeronave, passamos rapidamente pela Primeira Classe e, ao chegarmos na cabine econômica, meu esposo voltou e disse:
– Os assentos 4A e 4B são ali na frente.
Ao que respondi:
– Na Primeira Classe?
E ele respondeu prontamente:
– Sim!
Tiramos rapidamente os cartões de embarque do bolso do paletó dele e confirmamos que nós éramos os passageiros daquelas duas poltronas grandes, confortáveis e vazias à nossa frente na Primeira Classe. Um tanto quanto confusos, sentamos felizes e logo começamos a usufruir das delícias que o dinheiro pode comprar. Foi quando, imediatamente, me lembrei do verso bíblico que havia ‘saltado’ na tela do meu celular hoje cedo, ao desligar o alarme: “Vocês não terão de fazer nada. O Senhor lutará por vocês”. (Êxodo 14:14, Bíblia)
Fiz a relação instantânea do versículo com aqueles assentos na Primeira Classe – não pagamos por esse bilhete e não pedimos upgrade. Esses assentos especiais foram simplesmente atribuídos durante o check in eletrônico que havia sido realizado na noite anterior. Detalhe: um deles apenas, atribuído ao meu esposo, que logo em seguida alterou o meu assento sem dificuldade alguma, para que eu ficasse ao seu lado. Tudo isso sem sabermos que se tratava de um assento na Primeira Classe. E, após uma hora de vôo, toalhinha quente, uma deliciosa taça de vinho, serviço impecável, uma bandeja deliciosa à minha frente, Deus falou comigo por sobre as nuvens e me levou às muitas lágrimas ao dizer:
– “Viu? Sou Eu quem faço tudo por você! Faço o que Eu quero, sem qualquer esforço seu. Sou Eu quem controla a sua vida e providencia o que você precisa e quem lhe dá também o que não precisa, apesar e independente do seu trabalho. Sou Eu quem entrega provisão. Sou Eu quem lhe dá ou não lhe dá. Tudo está na minha mão e sob o meu controle, e não sob o seu”.
Após o recado quase audível de Deus, enquanto eu olhava ao longe por sobre as nuvens vistas da pequenina janela do avião, tive a certeza de que não são os meus talentos que serão capazes de me tornar próspera ou minha capacidade de gestão e controle que serão responsáveis por uma aposentadoria tranquila. Não! Será a confiança no Deus que tudo vê, que tudo controla e que tem tudo calculado para cada um de nós. Lição aprendida há quinze anos, porém esquecida e negligenciada por mim nos últimos quatro ou cinco. Agora, é claro que a matemática não vale para todos. Vale para mim. Vale para aqueles que entendem e creem que há alguém acima, que há um propósito em todas as coisas e algumas lições a serem aprendidas ao longo da nossa jornada aqui na Terra. Para quem pode comprar um bilhete aéreo na Primeira Classe, isso talvez não faça sentido.
Para quem não crê na provisão divina também não. Mas para mim, que passei os últimos dois anos segurando por um fio, juntamente com meu esposo, a corda fina da saúde financeira da nossa casa, faz todo o sentido. Para quem tem em si o gene maldito do controle sobre todas as coisas faz total sentido!
E assim, reaprendo que Deus cuida de mim. Que Deus dá ou não dá e isso não muda a minha relação com a existência. Que posso morrer de trabalhar e isso não me garante geladeira cheia. Revivi hoje a aula em que aprendi que tudo está contido no mais perfeito e absoluto controle do meu Pai que está atento aos meus esforços, mas não trabalha com mérito ou recompensa, mas sim com graça e misericórdia. Aula importante! Lição esquecida em meio à correria da sobrevivência; infelizmente. Lição que me prepara para a próxima parte do ano, me dizendo que posso e devo confiar e descansar enquanto faço
a minha parte, que é trabalhar duro, com dedicação e responsabilidade, viajando apertada nos assentos de uma aeronave qualquer entre uma cidade e outra.
Em toda a minha vida adulta, o conselho de Jesus mais difícil a ser seguido sempre foi aquele que diz que “não devo me preocupar com o dia de amanhã, nem ficar ansiosa com o que terei para comer ou para beber”. Aquele lembrete Dele para “olhar para as flores do campo que não fazem roupas para si mesmo e são lindas, ou para os passarinhos que não plantam nada e mesmo assim têm o que comer” é sempre tão desafiador para mim, que sempre acho que tenho que fazer por merecer. Contudo, bem-vindos à matemática do Deus Vivo – sem lógica, sem recompensa, viva e surpreendente. Injusta para
alguns, milagrosa para outros.
Seja bem-vinda de volta, Simone, ao descanso do Deus Altíssimo!
Simone Maia, Orlando > Panama City – 01 de junho de 2018.